Internet e downloads ilegais são os principais vilões do decadente mercado fonográfico norte-americano
Brian Hiatt e Evan Serpick Publicado em 13/09/2007, às 17h00 - Atualizado em 15/10/2007, às 15h52
Uma boa - e rara - notícia para a indústria fonográfica dos Estados Unidos: o novo disco do Linkin Park vendeu 623 mil cópias na semana de lançamento, em maio - o principal lançamento do ano. Mas não foi o bastante. No mesmo mês, a gravadora da banda, a Warner Music Group, demitiu 400 funcionários, e o valor de suas ações ficou em 58% do melhor preço registrado desde junho de 2006.
As vendas de CDs nos Estados Unidos despencaram 16% ao ano até agora - e isso após sete anos de erosão constante. Diante da crescente pirataria e da preferência dos consumidores pela música digital, o negócio dos discos mergulhou num declínio histórico. As gravadoras lutam para reinventar seus modelos de negócio, ainda que algumas se perguntem se já não é tarde demais. "A indústria dos discos acabou", diz Peter Paterno, advogado especialista em música que representa Metallica e Dr. Dre. Um profissional da indústria, que não quis se identificar, foi além: "O negócio está morrendo. Não haverá nenhuma grande gravadora muito em breve".
Em 2000, os consumidores nos Estados Unidos compraram 785,1 milhões de discos; em 2006, foram 588,2 milhões (entre CDs e discos baixados da internet) (dados da SoundScan). Em 2000, os dez discos mais comprados no país venderam, juntos, 60 milhões de cópias; em 2006, os dez mais somaram somente 25 milhões de cópias. As vendas digitais crescem - fãs adquiriram 582 milhões de músicas pela internet no ano passado, um aumento de 65% em relação a 2005, e gastaram US$ 600 milhões em toques de celular - mas essas novas fontes de receita não estão tapando o buraco da crise. Mais de 5 mil funcionários das grandes gravadoras foram demitidos desde 2000. Aproximadamente 2.700 lojas de discos fecharam desde 2003. 65% de todas as vendas de música agora são feitas em grandes supermercados, como os das redes Wal-Mart e Best Buy, que oferecem menos opções do que as lojas especializadas e concentram menos esforços na promoção de novos artistas.
Hoje, mais executivos entendem que seus problemas são estruturais: a internet aparece como a transformação tecnológica mais importante para o setor desde os anos 20, quando os LPs se tornaram a principal fonte de lucro, no lugar das partituras. "Foram as próprias empresas que criaram esta situação", opina Simon Wright, presidente da Virgin Entertainment Group, que comanda a rede Virgin Megastores. Enquanto há fatores que fogem ao controle das gravadoras - da internet à popularidade dos games e DVDs -, muita gente enxerga os últimos sete anos como uma série de oportunidades negligenciadas. Um dos erros teria sido o tratamento equivocado dado à pirataria on-line, quando as empresas não entraram em acordo com o primeiro serviço de compartilhamento de música, o Napster.
"Eles jogaram fora bilhões por processarem o Napster - foi ali que as gravadoras cometeram suicídio", diz Jeff Kwatinetz, presidente da empresa de gestão de negócios Firm. "O setor teve uma chance incrível ali. Era como se todo o mundo estivesse ouvindo uma rádio só. Daí, o Napster fechou, e aqueles 40 milhões de pessoas foram para outros sites de compartilhamento."
Poderia ter sido diferente: há sete anos, os chefões da indústria se encontraram em reuniões secretas com o presidente do Napster, Hank Barry. Em 15 de julho de 2000, o presidente da controladora da Universal, Edgar Bronfman Jr., o cabeça da Sony Corp., Nobuyuki Idei, e o chefe da Bertelsmann, Thomas Middelhof , encontraram-se com Barry, e disseram que queriam estabelecer acordos. A idéia era que os 38 milhões de usuários do Napster continuassem a baixar arquivos pagando uma assinatura mensal - cerca de US$ 10 - com a receita a ser dividida entre as gravadoras. Mas, apesar de uma oferta pública de US$ 1 bilhão pelo Napster, as empresas nunca chegaram a um acordo. Pior, as gravadoras esperaram quase dois anos depois do fim do Napster, em 2 de julho de 2001, para licenciar uma alternativa lícita aos serviços de compartilhamento que satisfizesse os consumidores: a loja virtual iTunes, da Apple, inaugurada em 2003. A opinião geral é de que o período entre 2001 e 2003 foi desastroso para o setor. "Ali perdemos os usuários", lamenta Rosen. "Foi quando vimos a música deixar de ter um valor material já assimilado e se tornar algo sem valor econômico, apenas sentimental."
Em 2003, a RIAA, a associação das gravadoras norte-americanas, deu entrada nos primeiros processos por violação de copyright contra usuários que compartilhavam músicas pela rede. "Não é com o intuito de punir", diz Mitch Bainwol, presidente da RIAA. Mas o compartilhamento não vai desaparecer - houve 4,4% de aumento no número de usuários desses programas em 2006. "De compositores a músicos, passando por funcionários de selos, todos foram afetados. O número de bandas que têm contratos diminuiu em cerca de um terço", diz Bainwol.
Apesar dos contratempos, as pessoas estão ouvindo a mesma quantidade de música que sempre ouviram. Mais de 100 milhões de iPods foram vendidos desde 2001, e o hábito de ouvir música - seja por meio de CDs, downloads, games, rádios via satélite e tradicionais e streaming - aumentou progressivamente desde 2002. O problema que o setor enfrenta é como transformar esse interesse em dinheiro. "Como é que as produtoras de música abrem falência, enquanto o uso do produto está em franca expansão?", pergunta Kwatinetz. "É o modelo de negócio que está errado."
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