Ela trilha seu caminho como uma das grandes cantoras e compositoras de sua geração sem deixar de ser pop
Marcus Preto Publicado em 07/03/2008, às 18h28 - Atualizado em 15/04/2008, às 18h42
Vanessa da Mata não quer ser conhecida apenas pela sua beleza. "Talvez eu seja mais respeitada se concentrar as atenções na minha música do que espalhá-las pelas minhas pernas, pela minha bunda", reconhece. E ela está preparada para ser sucesso de público, sem precisar tirar a roupa
Sua carreira incomodou muita gente?
Não estou muito olhando para esse lado. Mas, às vezes, sinto que pessoas que gostavam muito de mim hoje viram a cara.
Pessoas do meio musical?
Gente do meio. Uma cantora ali... Mas é pouca gente.
Gostavam mais da sua música antes do sucesso?
As pessoas buscam novidade o tempo inteiro neste nosso século 21. E isso tem a ver com vaidade, com afirmação delas. Da mesma forma que algumas colocam botox e peitão, outras precisam saber qual é a mais novíssima novidade da música, da informática, o instrumento mais moderno. E, quando você não é mais novidade, essas pessoas substituem você. É um eterno consumo da novidade.
E em você, como bateu esse sucesso todo?
Sabe que eu acho que isso ainda não aconteceu? Fico preocupada em não me deslumbrar. Às vezes, faço o contrário: dou uma sacaneada em mim mesma. Se meu ego começa a ficar um pouquinho grande, dou uma podada. Não levo elogio para casa, desconfio de tudo. Mas é lógico que, quando ela me é necessária, eu busco a vaidade.
E quando a vaidade é realmente necessária?
Quando alguém tenta me pisar ou fica um pouco enciumado. Aí eu me situo de quem eu sou e o que eu represento.
Quem você é e o que representa na música atual?
[Rindo] Sou uma compositora que hoje em dia se orgulha do seu lado pop. As pessoas acham que ser popular é ser chulo, o que é um preconceito e uma burrice. Não é possível que alguém acredite mesmo que algumas pessoas, porque são pobres ou simples, não gostem de coisas que significam. E hoje eu me sinto fazendo uma coisa popular que tem valor. Ao mesmo tempo, estou galgando uma carreira de cantora. Estudo para isso e sei que tenho um timbre bonito.
Todo artista é vaidoso? Esse é um pecado permitido a essa classe?
Não sei, não. Essa necessidade de ser aplaudido, aprovado, é muito mais uma questão de insegurança. No meu caso, me sinto realizada quando vejo as pessoas se divertindo com uma música que fiz - muito mais do que me sentir a fodona, a supermulher. O orgulho é com a obra, com o filho, não comigo mesma.
Algumas das maiores cantoras da história envelheceram mal, artisticamente. Você, agora que desfruta do auge da juventude (32 anos), teme o que pode acontecer com sua arte?
Envelhecimento é necessário. Não vou ficar me injetando botox nem ficar me matando para conseguir uma coisa, seja física ou artisticamente, que não está mais ao meu alcance. Vou fazer tudo para que minha cabeça continue necessitando de emoções e paixão. Mas sempre sem querer competir com a energia dos 20 anos de idade. Como eu escrevo, tenho a vantagem de aproveitar todo e qualquer momento que tenho na vida. Se eu estiver triste, faço canções de amor, coisas mais profundas. Os momentos felizes rendem coisas mais leves, mais dançantes.
Você já acumula 275 comunidades dedicadas a você no orkut - a maior parte delas favorável ao seu trabalho. Essas pessoas entendem sua música?
Acredito que sim. Nos shows, percebo a reação das pessoas a cada palavra que dou: elas riem na hora que há uma ironia e ficam sérias quando canto alguma coisa de ficar triste. Como bato muito nessa tecla de que gosto de fazer letras, as pessoas prestam atenção.
Ser bonita facilitou sua vida? Se você fosse feia, teria chegado aonde chegou?
É muito doido: percebo que sou bonita há pouco tempo. Sempre achei que era "a inteligente". Tinha primas muito mais bonitas que eu, então tive que desbravar um caminho no meu cabelo, nos meu traços mais fortes, para poder acreditar que também era bonita. Isso é uma inteligência: se assumir e gostar dos seus traços. Mas, mesmo isso tudo resolvido, existe uma coisa que incomoda: se você tem um corpo bonito - e eu tenho um corpo bonito -, as pessoas querem que você se dispa [imitando voz aguda]. "Por que você não vai no Faustão de minissaia?" Pode ser uma ilusão, mas talvez eu seja mais respeitada se concentrar as atenções na minha música do que espalhá-las pelas minhas pernas, pela minha bunda.
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