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Por que Jack Black, astro da sátira tristonha The Brink, não quer mais ser o bobo da corte

Jonah Weiner Publicado em 11/08/2015, às 12h23 - Atualizado em 17/10/2015, às 13h37

Quando Jack Black era criança, ele adorava tanto o seriado O Homem de Seis Milhões de Dólares que tentou convencer os outros meninos de que ele próprio era biônico. “Eu ia para a escola com uns arames saindo da manga”, conta. Black está em um lugar badalado de Los Angeles para um brunch. Veste uma camiseta que tem como estampa um rabisco caótico de canetinha, criado pelo filho mais novo, Tommy, e está se lembrando das origens de sua própria criatividade desordenada: como começou a gostar de pregar peças nas pessoas. “Teve muita fraude na minha juventude”, ele diz. Além da paixão biônica, Black era fascinado pelo sobrenatural. “Uma vez organizei uma sessão com um tabuleiro Ouija, e coloquei fios em uma sala para fazer os livros e outras coisas se mexerem. Deixei a luz bem fraca e tudo perfeito, então os garotos diziam que era de verdade. Eu queria que eles acreditassem em mágica.” O ator faz uma pausa. “E também queria que acreditassem em mim.”

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Em casa, as coisas não eram muito boas. Os pais de Black, ambos cientistas, passaram a infância dele brigando até se divorciarem; Black era o mediador entre os dois, e achava que um dia iria trabalhar como terapeuta para ajudar outras pessoas a se conectarem umas com as outras. Quando começou a trabalhar no show business, foi devido a um desejo parecido, apesar de motivações mais capciosas também estarem em jogo. “Quando vejo cultos ou pessoas que têm um impulso de líder de culto, sinto que sou capaz de entender. São fraudes, só estão tentando fazer as pessoas acreditarem em mágica. Sob circunstâncias diferentes, eu com toda a certeza poderia ter dado início ao meu próprio culto.”

Black está no meio de uma sequência de papéis que impressionam pela ausência de magia. Em The D Train (sem data de estreia e título previstos no Brasil), uma comédia independente sombria, ele faz o papel do coordenador de um reencontro de escola que engana de forma cruel as pessoas que o amam. Em julho estreou na HBO a série de sátira política The Brink, em que faz o papel de um funcionário inescrupuloso da Casa Branca que tropeça em uma crise geopolítica. Pense em Dr. Strangelove na época de Homeland. “Há tanto erro humano nos níveis altos do governo, e isso não está representado de maneira adequada na televisão”, ele defende.

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A vontade que Black tem de macular sua personalidade fofinha é notável. “Parece mais realista para mim, mais como as pessoas são de verdade.” Ele conecta essa mudança de prioridades artísticas a uma inversão em sua vida pessoal. Durante o período em que só ganhava papéis agradáveis, nos tempos de Escola do Rock, Black “era o cara que detestava casamentos, achava o maior tédio”. Agora, as coisas estão diferentes. “Choro até não poder mais em casamentos, mas na hora de atuar só quero fazer gente ruim de verdade. Talvez ter filhos tenha me transformado: talvez você tenha vontade de interpretar as pessoas que não é.” Casado há quase uma década, Black joga Minecraft com os filhos, de 6 e 8 anos, e os deixa ouvir Die Antwoord e Kanye West bem alto: “Eles sabem as palavras que só podem falar no carro, e não na escola”.

Quando Black estava na casa dos 20 anos, o herói dele era John Malkovich. “Meus outros preferidos eram Christopher Walken, Gene Wilder – as pessoas que parecem ter um parafuso solto. Passei muito tempo só fazendo imitações deles.” O lado autêntico do ator acabou se expressando por meio da comédia. “O ponto de mudança foi quando comecei a compor e a fazer shows com o Tenacious D”, ele diz sobre o dueto de rock maluco e cômico que mantém com o amigo Kyle Gass. Alguns anos mais tarde, Alta Fidelidade e Escola do Rock fizeram dele um astro do cinema. Ele se acostumou a ficar sob os holofotes, mas o papel principal em King Kong, de Peter Jackson, fez que tivesse reservas quanto a essa posição – Black já reclamou do tédio de passar horas em trailers sem nada para fazer. Filmes menores se seguiram; o melhor foi Bernie: Quase um Anjo, em que ele retratou um assassino adorável. A performance criativa lhe valeu uma indicação ao Globo de Ouro, mas não abriu as comportas de filmes de prestígio tanto quanto ele gostaria. “Não aparecem muitas coisas no meu caminho que são tipo: ‘Caramba, eu tenho que fazer isto’”, conta. “Paul Thomas Anderson não está me ligando.”

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