Depois de anos no anonimato, o produtor ganha destaque acima do merecido
Miguel Sokol Publicado em 11/03/2013, às 14h12 - Atualizado em 15/03/2013, às 15h33
Técnico de futebol não ganha jogo e o Tostão que, usando apenas adjetivos começados com “cr”, é cruzeirense, crítico e craque, já cansou de dizer que os técnicos são supervalorizados. Concordo e vou além: banda não é time, disco não é jogo e músico não é atleta, mas os produtores musicais são tão supervalorizados quanto os técnicos, apesar de também não ganharem jogo algum.
Músico que pendura o microfone tenta a profissão de produtor, como ex-jogador que vira técnico. Esta aí o James Murphy, que mal aposentou o LCD Soundsystem e já está produzindo três bandas da primeira divisão do rock, Yeah Yeah Yeahs, Daft Punk e Arcade Fire. E isso não é à toa, hoje produtor é uma profissão tão badalada quanto a do próprio músico. Mas não era assim.
À exceção do Let It Be, todos os discos dos Beatles são assinados pelo George Martin, exatamente como os dos Doors, que, à exceção de L.A. Woman, sempre foram produzidos pelo famoso... quem mesmo?
Antigamente, produtor era uma figura quase anônima e ninguém tira da minha cabeça que esse anonimato terrível motivou o surgimento do Garbage. Pense comigo: você produz o Nevermind, o disco mais importante de uma geração, mas as garotas não te pedem autógrafos e ninguém te convida para as festinhas. O que você faz? Veja o que o Butch Vig fez: descolou mais dois produtores frustrados, montou uma banda e chamou uma bonitona para cantar. Pronto: festas, autógrafos groupies a rodo. Hoje a história se inverte. Parece absurdo, mas o Danger Mouse trocou o Gnarls Barkley pela bem-sucedida carreira de produtor do Black Keys, Gorillaz, Norah Jones...
Técnicos de futebol recebem salários milionários porque tem gente realmente acreditando que substituição ganha jogo. Do mesmo jeito, produtores ficam ricos graças à crença de que eles são capazes de mudar a música de uma banda – mentira! Eu estava na sala quando Tom Araya, líder do Slayer, explicou o fracasso de Death Magnetic, disco do Metallica produzido pelo mago Rick Rubin: “Produtor não faz milagre quando as músicas são ruins”.
Produtor musical é só uma grife com tudo o que as grifes têm de pior, incluindo a exploração do trabalho em países colonizados. Vide o Diplo, verdadeiro Borba Gato da música eletrônica, oferece espelhinhos em troca do som exótico de bandas de países subdesenvolvidos, como a sul-africana Die Antwoord e a quase cingalesa M.I.A.
O que na moda é apenas um logotipo supervalorizado na bunda de uma calça, num disco é só uma assinatura na contracapa, idêntica ao título deste texto. Afinal, ele foi mais do que só escrito por mim.
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