Por que a opção sexual ainda choca?
Miguel Sokol Publicado em 14/05/2013, às 16h38 - Atualizado em 13/03/2015, às 18h48
Daniela Mercury assumiu publicamente um relacionamento homossexual e a imprensa brasileira fez a lôca, tratou o assunto como se fosse o maior babado, ficou passada e está bege até agora. Como se Daniela fosse a primeira artista da história do mundo a sair do armário. Posso com isso?
Desse armário já saíram músicos bem mais surpreendentes do que Daniela Mercury. No rock, por exemplo, Bob Mould, ex-líder do influente e nervoso Hüsker Dü, saiu do armário em 1994. Corajosamente porque, na época, ele colaborava com uma coletânea que defendia o casamento homossexual, chamada Wed Rock, ao mesmo tempo em que trabalhava como roteirista de luta livre. Climão.
O pop das boybands já viu diversos garotos programados para derreter os inocentes corações das menininhas assumirem a homossexualidade. Para ficarmos só em um, citemos o ex-N’Sync Lance Bass, que não só assumiu publicamente o namoro com um capitão da Força Aérea norte-americana como depois trocou o militar por um modelo brasileiro. Bafão.
No folk, é impossível não se lembrar do célebre caso de Melissa Etheridge, que não só saiu do armário como estampou uma das capas mais polêmicas da história da Rolling Stone. Ela posou para uma foto com a então companheira, a cineasta Julie Cypher, os dois filhos do casal, o cantor David Crosby, que doou esperma para a concepção das crianças, e Jan, a esposa de Crosby. Todos juntos e felizes, como uma família deve ser. Abalou!
O hip-hop foi o último dos estilos da música a ter um artista saindo do armário. Em julho do ano passado, Frank Ocean, do coletivo Odd Future, abriu a intimidade por meio de uma carta aberta postada em seu Tumblr. Acho digno.
Curioso é que, na semana em que Daniela Mercury saía do armário, perguntaram para o Snoop Dogg se o rap estava preparado para conviver com gays. A resposta dele foi tão infeliz, que chega a ser cômica. Justamente por isso, eu decidi reproduzi-la como ela foi noticiada em Portugal: “É como uma equipa de futebol. Não podes estar num balneário cheio de cabrões todos durões, e de repente um gay diz: Eh pá, gosto de ti. Não vai correr bem”.
Cômica, infeliz e homofóbica, a declaração do Snoop teve repercussão zero no planeta, o que me faz pensar que a sexualidade da Daniela Mercury só virou notícia no Brasil porque, aqui, os homofóbicos-cheios-de-declarações-infelizes-que-mais-parecem-piadas estão sentados em cadeiras estofadas do poder legislativo. Uó, me poupe.
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