Por Miguel Sokol
Publicado em 20/07/2011, às 19h57Uma linda garotinha de 5 anos me contou a seguinte piada: sabe por que o Batman colocou o Batmóvel no seguro? E le tem medo que Robin. Você ameaçou rir? E antes pensou na possibilidade de o Robin ser negro? Porque se for, a piada estaria sugerindo que todo negro é ladrão. Mais. O mesmo Robin poderia ser uma mulher, e aliás é, em uma HQ chamada Cavaleiro das Trevas, do Frank Miller. Então a piada insinuaria que mulheres não sabem dirigir. E não acabou, pois Batman pode ser um sobrenome judeu, Jacó Batman, por exemplo, aí a inocente garotinha já teria cravado em sua alma o estereótipo de que todo judeu é avarento. E você ameaçou rir. Que vergonha.
Parece piada, mas só o primeiro parágrafo é. O segundo descreve o clima de indignação gratuita em que nós vivemos. E ele não tem graça. Acesse o Twitter: todo dia uma nova polêmica urge, até a próxima aparecer, muito mais urgente. É tanto blá-blá-blá que está desatualizado quem diz que os escândalos no Brasil terminam em pizza, agora eles acabam em hashtag: #Higienópolis, por exemplo.
Eu não sei se a famigerada estação de metrô paulistana deve ser construída mais para lá ou mais para cá. O que eu sei é que quando mais de 55 mil pessoas confirmam presença em um protesto pelo Facebook e menos de mil aparecem para protestar, é porque a indignação se tornou mais importante do que solucionar o problema. Indigne-se, e você terá feito a sua parte!
A princípio, achei que essa indignação fosse apenas um efeito colateral das redes sociais: agora que todo mundo tem voz, ninguém mais se escuta. Como aconteceu quando o Flamengo empatou com o Ceará e foi desclassificado da Copa do Brasil. Começou no Twitter uma série de impropérios dirigida aos "cearenses". Teve gente denunciando racismo. A coisa não passava de uma provocação de torcida, daquelas que aconteciam pela janela e ninguém se ofendia.
Isso não pode ser apenas efeito colateral de rede social, a radiação dessas inexplicadas explosões solares deve influir, pois só o desconhecido para justificar polêmica em torno de um suposto caso de plágio que envolve Latino e Cine, esses dois faróis da música brasileira. Se todo mundo que fica indignado gratuitamente se dignasse a dedicar o tempo da indignação para escutar, por exemplo, o Emotional Rescue, disco subestimado dos Rolling Stones, o mundo seria um lugar bem melhor e eu não temeria pelo futuro da garotinha que me contou a piada do Batman, pois já, já ela estará cantando que "atirar o pau no gato-tô é politicamente incorreto-tô."
Em outras palavras: calem-se, calem-se, calem-se. Vocês me deixam louco!