<b>ADEUS AOS SHOWS </b> Rita Lee ainda está indecisa, mas deve mesmo abandonar as turnês - LETHICIA GALO/DIVULGAÇÃO

Vivendo no Estúdio

Rita Lee lança primeiro disco de inéditas em dez anos e, embora queira distância dos palcos, pretende gravar mais no futuro

Bruna Veloso Publicado em 13/04/2012, às 15h05 - Atualizado em 16/05/2012, às 12h59

“Pura preguiça”: é assim que Rita Lee explica o fato de ter ficado quase dez anos sem lançar um disco de músicas novas. O jejum será quebrado com Reza, que deve chegar às lojas neste mês, um álbum sobre o qual Rita “sente bastante as asas tropicalistas”, como ela mesma explica, por e-mail. A faixa-título de Reza já está na TV, como parte da trilha sonora da novela Avenida Brasil, e figurou na lista de singles mais vendidos da iTunes Store brasileira. Na loja virtual, ela desbancou, inclusive, o rei absoluto das paradas nos últimos meses, o hit “Ai se Eu Te Pego”, do cantor Michel Teló.

A cantora há anos prefere o contato virtual com os jornalistas – e essa porção tecnológica pode ser vista não apenas no Twitter, do qual ela é usuária assídua, como também no trabalho dela como artista. “Hoje, você registra sua cabeça com mais facilidade”, afirma, complementando que sua força criativa não é necessariamente 100% voltada à composição, quando questionada se tem feito muitas novas letras. “Não digo compondo, sou ‘escrivinhadora’ (lap, iPad, iPhone e bloquinhos).”

Embora anteriormente Rita tenha se mostrado descrente na vida após a morte (e se esquive de perguntas sobre a possibilidade de novas ideias sobre o assunto: “[Minha opinião] deve ter mudado, eu não tenho opinião, sou ‘Maria vai com as outras’”), há faixas que sugerem uma reflexão sobre o assunto, como “Pistis Sophia”. “Segunda pessoa que me diz isso, vou levar para a terapia”, afirma.

Ao que parece, Rita Lee não se importa com o quão bem recebidos seus trabalhos são – nem mesmo com Reza, que marca esse retorno às novas composições. Não há nem tempo de ter frio na barriga. “Não dá, porque já estou com a cabeça no próximo”, ela explica. E, desta vez, está mesmo: Bossa ‘n’ Movies, que deve ser o próximo projeto de Rita, está muito bem encaminhado. No ano passado, houve até a especulação de que o disco, que reúne trilhas de filmes em ritmo de bossa, sairia junto a Reza. Mas esse plano ficou para trás. “Começamos a gravar antes do Reza, mas não queremos ter data prevista para terminar, ainda mais para lançar. O repertório muda conforme a bipolaridade do casal, é muito material.”

Roberto de Carvalho, marido de Rita há mais de 35 anos (a união começou em 1976, embora o casamento no civil só tenha sido em 1996), é parceiro de dez das 14 composições do novo CD. A cumplicidade na produção vem de longa data (“Lança Perfume”, “Mania de Você” e a mais recente “Amor e Sexo” são apenas algumas das incontáveis músicas feitas pela dupla), e não há, por parte de Rita, receio algum de que a parceria musical acabe caindo em um ciclo de autorreferência. Pelo contrário. “Nós gostamos de nos copiar, é estilo”, escreve. “O casal tem gênio forte, mas rola um bom pingue-pongue. Meu parceiro no crime, companheiro de fuga. Sou louca por ele.”

O maior símbolo feminino do rock brasileiro anunciou recentemente a aposentadoria dos palcos – o último show, em Aracaju, rendeu um imbróglio com a polícia local e até uma passagem dela pela delegacia. Por recomendação de seus advogados, Rita não pode se pronunciar sobre o assunto, mas mantém a decisão de permanecer longe das apresentações ao vivo. “Realmente não me sinto disposta a pensar em fazer show”, diz ela, afirmando que não dá para justificar sua decisão somente por motivos de saúde ou por uma diminuição do prazer proporcionado pelo palco. “Nem um, nem outro, tô a fim de férias. Foram 45 anos on the road direto, quero 45 anos sabáticos”, revela. Pelo menos, deve-se ouvir muito mais de Rita Lee daqui para a frente. Segundo ela, tendo todos os equipamentos necessários para gravar discos em casa, “tudo indica que vou ser rato de estúdio”.

Rita Lee reza

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