Artista de mil habilidades e especializado nos aspectos mais obscuros da cultura pop, o norte-americano William Stout por mais de quatro décadas tem criado imagens deslumbrantes para os mundos da música, do cinema e das histórias em quadrinhos
Paulo Cavalcanti Publicado em 11/03/2014, às 09h05 - Atualizado em 14/03/2014, às 13h15
Por 40 anos, o trabalho de William Stout tem aparecido em capas de discos, pôsteres de cinema, livros, filmes de sucesso e muito mais. Qualquer fã de cultura pop já deparou com algo criado por ele em algum ponto da vida. Ainda assim, o nome de Stout não é muito conhecido fora do circuito de colecionadores e de consumidores de cultura nerd. “Eu cresci muito pobre em San Fernando Valley”, explica ele diretamente de Los Angeles, onde nasceu em 1949 e vive até hoje. “Mas uma infância sem recursos me incentivou a ser criativo. Meus pais eram grandes fãs de cinema e eu absorvi tudo. Eu vi a versão original de King Kong umas 50 vezes. Fiquei louco por dinossauros e criaturas fantásticas.”
Stout começou a desenhar influenciado por artistas da era de ouro do quadrinhos, como Gil Kane, Carmine Infantino e Frank Frazetta, e mais tarde aperfeiçoou o traço no California Institute of the Arts. Como cria dos anos 1960, a vida dele mudou quando mergulhou no universo da música. “Quando eu era adolescente, comecei a tocar bateria em uma banda de garagem. Depois, virei cantor e gaitista”, ele conta. “E começei a colecionar discos. Minha coleção rivaliza com qualquer rádio.” Na casa onde mora, Stout se orgulha de armazenar mais de 10 mil CDs e 6 mil LPs. Em 1973, ele já era estudante de arte e cartunista underground, quando foi abordado por um desconhecido enquanto comprava discos: “Você quer fazer capas de álbuns bootleg?” Assim começou o trabalho de Stout com o selo Trade Mark of Quality, que lançava materiais raros e não oficiais de grandes nomes do rock da época. As capas que ele fez para o TMQ se tornaram lendárias entre colecionadores (ao lado). “Até hoje me surpreende que essas capas sejam tão cultuadas. Eu me divertia muito as criando”, conta. “Eu tentava fazê-las subversivas, divertidas e engraçadas – sempre com o espírito dos quadrinhos underground da época e refletindo meu intenso amor pela música. Me pagavam US$ 50 por capa, então não era pelo dinheiro!”
Eventualmente, Stout deixou o mundo dos bootlegs e começou a trabalhar em outras áreas. Logo Hollywood tomou conhecimento da existência dele. “Eu entrei no cinema por acaso. Mas, assim que comecei a trabalhar, levei tudo muito a sério e ascendi profissionalmente, trabalhando em filmes de orçamento milionário”, conta ele, que teve funções em mais de 45 filmes ao longo de quatro décadas de Hollywood: desenhou storyboards em Caçadores da Arca Perdida e Rambo – Programado para Matar; criou cenários em O Labirinto do Fauno; elaborou criaturas em O Predador, Homens de Preto e O Nevoeiro; criou adereços em Conan, O Bárbaro; escreveu os roteiros de Galáxia do Terror e O Guerreiro e a Espada; e elaborou o pôster de A Vida de Brian. “O trabalho no cinema é muito, muito duro, especialmente no campo de direção de arte”, Stout continua. “Você trabalha 18 horas por dia, sete dias por semana, muitas vezes em um ano inteiro. Eu já tive 1.250 pessoas respondendo diretamente a mim. Assim, você também tem que ser um bom gerente.”
Fora do cinema, Stout publicou livros e fanzines e também organizou exibições de sua obra. Outra grande especialidade dele são os dinossauros, e seu livro The Dinosaurs – A Fantastic New View of a Lost Era se tornou referência sobre o assunto. O atual projeto do artista de 64 anos é o livro Legends of the Blues, que está saindo nos Estados Unidos pela Abrams ComicArts – sem previsão de lançamento no Brasil. “São 100 retratos dos grandes artistas de blues nascidos antes da década de 1920”, conta. “Também escrevi a biografia para cada um deles e produzi o CD que acompanha o livro.”
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