Capa do disco <i>Cores & Valores </i>, dos Racionais MC's - Divulgação

Racionais MC's mostram renovação e influência da trap music em Cores & Valores

O oitavo disco do grupo de rap foi lançado nesta terça-feira, 25

Luciana Rabassallo Publicado em 25/11/2014, às 11h34 - Atualizado às 13h08

Por Luciana Rabassallo

A espera finalmente acabou. Doze anos após o lançamento de Nada Como um Dia Após o Outro Dia, os Racionais MC’s lançaram nesta terça-feira, 25, oitavo álbum de estúdio da carreira deles. Cores & Valores, que é composto por 15 faixas e tem aproximadamente 35 minutos de duração, está à venda, com exclusividade, na loja digital Google Play por R$ 9,99.

Racionais MC's abandona discurso inflamado e brinda 25 anos de carreira com show memorável em São Paulo.

O trabalho, que marca os 25 anos de estrada do grupo mais emblemático do rap nacional, formado por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, é, na verdade, um grande desafio para os músicos. Nos últimos anos, alguns membros dos Racionais têm sido criticados por participações solo em programas populares de televisão e, também, por um posicionamento menos radical em relação à mídia. Além disso, algumas apresentações do coletivo em boates frequentadas por jovens da elite paulistana foram repudiadas por fãs conservadores do movimento hip-hop

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Nos 12 anos que separam Nada Como um Dia Após o Outro Dia de Cores & Valores, grandes mudanças ocorreram no país. Na música, a nova geração do rap, encabeçada por nomes como Criolo e Emicida, saiu das batalhas da Santa Cruz e da Rinha dos MC's rumo ao mainstream. O hip-hop deixou de ser, exclusivamente, a música de protesto produzida na periferia e passou a falar (também) sobre relacionamentos amorosos, amizade e festas. Na área econômica, o crescimento do Brasil deu aos menos favorecidos um poder de compra maior e facilitou o acesso à cultura.

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"Eu Compro" é o retrato claro da evolução econômica no país: "Eu quero/ Eu compro / E sem desconto / À vista / Mesmo podendo pagar / Podem ter a certeza de que vão desconfiar". Essas mudanças, entre muitas outras, estão diretamente refletidas em Cores & Valores. Na sonoridade das batidas, o disco acompanha a tendência mundial da trap e da bass music – usando e abusando dos graves, viradas e efeitos. O termo trap, que surgiu em Atlanta, nos Estados Unidos, em meados dos anos 2000, vem do trap rap, um derivado do dirty south, estilo de hip-hop que domina todo o sul norte-americano com nomes como GucciMane, T.I. e Waka Flocka.

Mano Brown fala sobre rolezinhos: “Eu sou a favor dos moleques, tem que invadir mesmo”.

Nas letras, a renovação da sonoridade fica ainda mais clara. Apesar de ter faixas como “A Escolha Que Eu Fiz”, que retrata a prisão de um assaltante, e “Eu Te Disse”, que retrata a periferia, o disco abandona o discurso extremamente político e dá espaço para canções como “Eu Te Proponho”, uma balada romântica, e “A Praça”, um relato sobre a confusão que aconteceu durante um show dos Racionais na Virada Cultura em 2007.

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A “batalha” foi a responsável por tirar os artistas de rap da programação do evento, que acontece anualmente na cidade de São Paulo, por seis (intermináveis) anos. A situação só foi revertida em 2013, quando os Racionais voltaram a se apresentar na Virada Cultural, com um show que reuniu cerca de 100 mil pessoas e foi marcado pela paz. Em 2014, a volta do RZO e um palco dedicado exclusivamente ao hip-hop sacramentaram o gênero como um dos elementos mais representativos do evento.

“Desde que comecei no Racionais, sou mais jovem, educado e espiritualizado”, afirma KL Jay.

A introdução do pandeiro em “Quanto Vale o Show?” é uma deixa da pegada mais “pop” do disco. Com produção de Mano Brown e de DJ Cia, do grupo RZO, Brown rima sobre a adolescência difícil nas ruas do bairro do Capão Redondo, em São Paulo, e também sobre o começo da carreira do grupo, enquanto a batida conta com um riff de guitarra rasgado e com o sample de “Gonna Fly Now”, do músico Bill Conti, tema da saga cinematográfica Rocky.

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Outro destaque é “Cores & Valores – Finado Neguin”. Na canção, Mano Brown relembra o grande amigo dele, Emerson Neguin, que morreu em 2002, vítima de um acidente de moto. O “brother” de Brown foi o responsável por escolher as cores laranja e preto para representar a Vila Fundão, bairro do Capão Redondo, em que o rapper nasceu, cresceu e vive até hoje. O “uniforme” coloriu os shows dos Racionais durante a turnê de 25 anos e também está na foto que ilustra o encarte de Cores & Valores.

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Na imagem, os quatro integrantes aparecem vestidos com roupas laranjas – usadas por garis e coletores de lixo na cidade de São Paulo – e com os rostos cobertos por máscaras do personagem Jason, da franquia Sexta-feira 13. O ensaio foi clicado em frente à agência bancária do Edifício Copan, um dos clássicos da arquitetura de São Paulo, localizado no centro da cidade.

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O show de lançamento de Cores & Valores, que foi gravado no Maraca Estúdio, no Capão Redondo, e mixado no Quad Recording Studios, em Nova York, nos Estados Unidos, local em que já gravaram nomes como Shabba Ranks, Busta Rhymes, Whitney Houston e Alicia Keys, acontece no dia 20 de dezembro, nos Espaços das Américas, em São Paulo. Os ingressos estão à venda no site Ticket 360 e custam R$ 120 (R$ 60 - meia-entrada).

Veja a tracklist de Cores & Valores:

"Cores & Valores"

"Somos o Que Somos"

"Cores & Valores - Preto e Amarelo"

"Trilha"

"Eu Te Disse"

"Preto Zica"

"Cores & Valores - Finado "Neguin"

"Eu Compro"

"A Escolha Que Eu Fiz"

"A Praça"

"O Mau e o Bem"

"Você Me Deve"

"Quanto Vale o Show"

"Coração Barrabaz"

"Eu Te Proponho"

KL Jay fala sobre Cores & Valores.

Em entrevista ao blog Cultura de Rua, em outubro, KL Jay falou sobre o novo trabalho: “Estamos planejando uma tacada que vamos acertar na cabeça. Não posso dar muitos detalhes, mas trabalhamos duro nesse projeto. A única coisa que eu posso dizer é que em 2014 os fãs poderão degustar essas faixas inéditas. Nós vamos encerrar a turnê de 25 anos dos Racionais e, na sequência, faremos um show em São Paulo para apresentar o disco ao público”.

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Referência do rap nacional, o grupo formado pelo já citado KL Jay e por Mano Brown, Ice Blue e Edi Rock começou a carreira no final da década de 1980. O primeiro lançamento oficial saiu em 1988, quando o selo Zimbabwe Records lançou uma coletânea em vinil com o título Consciência Black, Vol. 1. Nesse álbum, estavam as duas faixas que chamaram atenção do público: “Tempos Difíceis” e “Pânico na Zona Sul”.

Quase dez anos depois, em 1998, os Racionais botaram na rua o clássico Sobrevivendo no Inferno, editado pelo próprio selo do grupo, o Cosa Nostra. Com hits como “Diário de um Detento”, “Capítulo 4, versículo 3” e “Periferia é Periferia”, o disco fez sucesso imediato e bateu recordes para um trabalho de rap no país: 500 mil cópias foram vendidas. O trabalho foi o responsável por colocar os Racionais na mídia e apresentá-los ao grande público.

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Até o momento, "os quatro pretos mais perigosos do Brasil" estavam em turnê com o show comemorativo que celebra os 25 anos de carreira deles. O blog Cultura de Rua teve o prazer de fazer parte dessa festa e você pode ler a resenha sobre a apresentação que aconteceu no dia 6 de setembro, no Citibank Hall, em São Paulo, aqui.

Racionais MC's em São Paulo

20 de dezembro de 2014 (sábado), às 22h

Espaço das Américas - Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda, São Paulo, SP

Ingressos: R$ 120 (há meia-entrada)

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