Teresa Cristina - Divulgação

Teresa Cristina: Roberto Carlos e Candeia, tem rock no samba

Sambista fala sobre seus dois novos discos – um dedicado ao mestre da Portela, e outro ao Rei

Redação Publicado em 28/02/2012, às 11h01 - Atualizado em 29/02/2012, às 13h53

Por Cláudia Boëchat

A sambista Teresa Cristina faz 44 anos nesta terça-feira, 28, e, em vez de ela receber presentes de aniversário, nós é que vamos ser presenteados: ela grava dois CDs em 2012. Teresa conta que um já estava planejado e será só com composições do mestre Candeia, da Portela, que teve forte influência na sua formação musical graças ao bom gosto do pai da cantora, Luiz Alberto Gomes da Conceição. Seu Lula, como é conhecido, não deixou que a menina Teresa tivesse ouvidos apenas para os hits da discoteca. A mãe dela, por sua vez, cuidava dos afazeres de casa cantarolando Roberto Carlos. Dona Hilda Macedo Gomes é, então, a responsável pelo encanto da moça pelas canções românticas do rei. É daí que vem outra surpresa: a sambista vai gravar um álbum só com músicas de Roberto e, o mais interessante, ao ritmo de rock’n roll. Ela já tem até a autorização do rei para isso.

A ideia vai caminhar com a ajuda da Banda Os Outros, grupo de rock que queria cantar Roberto. O baixista Vitor Paiva é muito amigo da cantora. Ficou tudo certo entre eles e Teresa Cristina se perdeu revendo todas as canções de Roberto. “Meu pai me fez gostar de samba. Minha mãe gostava também, mas me criou cantando Roberto Carlos. Hoje, quando ouço as músicas dele, vejo passar minha vida toda na minha frente”, ela conta. “Lembro que fiquei muito emocionada no ano passado quando vi a Beija-Flor desfilar tendo Roberto Carlos como enredo. Pensei: ‘Nunca vou conseguir cantar uma música dele’”, lembra Teresa, que fez do samba sua carreira. Conversa vai, conversa vem, e a artista, como a mãe dela, cantarola trechos das canções do rei. Parece que ela conhece todas.

O show com a Banda Os Outros já está sendo apresentado e vai ser gravado em CD e DVD. Nos dias 17 e 18 de março, o espetáculo estará em São Paulo, no Sesc Pinheiros. Em 24/3, será a vez do Rio de Janeiro, no Teatro Rival. Além de Vitor, a banda é integrada também por Fabiano Ribeiro (bateria), Eduardo Sodré e Papel (guitarras) e Botika (vocal). Há ainda a participação de Yuri Villar (sopros) e Ricardo Rito (teclados). Teresa já tem cinco álbuns gravados: A Música de Paulinho da Viola (2002), A Vida Me Fez Assim (2004), O Mundo é Meu Lugar – Ao Vivo (2005), Delicada (2007) e Melhor Assim (2010).

Vale lembrar que Teresa Cristina também é compositora. Perguntei à sambista se ela entende por que os homens predominam como compositores e as mulheres surgem em número cada vez maior como grandes intérpretes. “Essa realidade está demorando para mudar”, ela comenta, citando algumas compositoras novas. Ela lembra ainda de grandes compositoras, como Dona Ivone Lara e Dolores Duran, que acabaram buscando parcerias masculinas para suas canções ganharem maior visibilidade. Também fala de homens que fazem composições femininas e que são deliciosas de ouvir na voz de uma mulher: “Chico Buarque, Martinho da Vila, Assis Valente, Gonzaguinha...”, enumera a cantora. Em compensação, as mulheres surgem em profusão da MPB quando o assunto é interpretação. Novas e boas cantoras não param de pipocar em todo o país.

E o que Teresa mais gosta de cantar? Amor, dor, alegria, realidade social? “No fundo, no fundo, toda canção é uma canção de amor. Seja fazendo um questionamento social, falando de injustiça... seja o que for. O amor é a base de tudo”, afirma. “Percebo que as pessoas têm vergonha de falar de amor. Quando a música é contestadora – como quando o Zé Kéti canta a injustiça no morro ou a discriminação contra o negro – ele está reclamando do amor dele que foi ferido. Quando as músicas criticam políticos, governantes, é o nosso amor de cidadão que está ali.” Teresa adora cantar o amor. Por isso foi um deleite para ela mergulhar no repertório de Roberto Carlos. “É uma entrega, uma forte emoção. O repertório romântico tem uma linguagem direta, verdadeira, sem muitos recursos estilísticos. Por isso toca o coração de tanta gente, de gente de todo tipo”, ela avalia.

Funk e axé não são muito a praia dessa carioca, mas há momentos em que ela mergulha nessas águas também e encontra prazer. “As pessoas têm o direito de gostar do que elas gostam. Ninguém consegue viver sem música. Agora, o tipo de música, cada um escolhe o seu”, decreta Tereza. “Não tenho o costume de ouvir axé. Mas, por exemplo, estava ouvindo a Banda Tono outro dia e a canção ‘A Deusa do Amor’, do Olodum, me ganhou pela melodia e pelo arranjo de Moreno Veloso. O ritmo do funk é muito bom. Nos anos 80 tinha uma temática diferente. A realidade cantada por Willian & Duda ou em músicas como “Endereços dos Bailes”, quem mais poderia cantar se não eles? Eles cantam o que conhecem, o que vivem. O que eu acho triste é ver uma criança de 6 anos cantando e dançando uma música com forte apelo sexual, como os funks atuais. Mas, cada um escolhe a música que gosta.”]

“A Deusa do Amor”, com Moreno Veloso:

Monobloco e a “velha guarda do funk”:

Sobre a MPB da atualidade, Teresa Cristina vê uma mistura com o pop. “Hoje é tudo misturado. O samba resiste. Não dá pra reclamar. Está até nas trilhas das novelas. Deixou de ser bumbum de fora e passou para calça de veludo”, brinca Teresa. E sobre carnaval, ela conta que consegue enxergar o melhor de cada escola do samba carioca, mas não entende nada de apuração, dos critérios dos jurados. A artista esteve no estúdio da TV Globo na Passarela do Samba acompanhando e comentando os desfiles. É portelense, mas se emocionou com a São Clemente, com o samba da Mocidade Independente, com o abre-alas da Mangueira: “Aqueles orixás estavam com uma expressão tão forte, pareciam incorporados mesmo; estavam ali abençoando o Cacique de Ramos, a Beth Carvalho... Fiquei arrepiada. Esse foi um ano de bons sambas.” Agora, entre um e outro carnaval, a gente fica com a alegria dessa sambista que junta sua voz doce a delicadas composições. Feliz aniversário, Teresa!

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