“O rap pode ser feito com qualquer estilo musical, é poesia em cima de ritmo”, diz Bruno Chelles
Gabriel Nunes Publicado em 18/08/2016, às 15h28 - Atualizado em 28/08/2016, às 11h56
Por Gabriel Nunes
O coletivo de rap 3030 transita por novas searas. Com duas mixtapes e dois discos lançados, o grupo formado pela tríade de MCs Lk, Bruno Chelles e Rod lança nesta sexta, 19, o primeiro trabalho acústico da carreira. Intitulado 3030 Acústico, a nova empreitada dos cariocas criados na Bahia foi rodada em Arraial D’Ajuda, Porto Seguro, e traz nove faixas – sendo sete delas pertencentes ao disco Entre a Carne e a Alma, lançado há um ano. “Priorizar essas músicas foi nossa forma de explorar ainda mais o universo desse disco, que para nós é muito rico”, declara Chelles em entrevista à Rolling Stone Brasil. Ouça abaixo, em primeira mão, a releitura acústica de “Preciso Saber”, lançada originalmente em 2011.
Estabelecido no distrito baiano, o 3030 executou as primeiras incursões musicais sob a alcunha Brenfa 3030. No entanto, o nome – o qual unia uma gíria para maconha aos quatro primeiros dígitos de uma pizzaria local para a qual os amigos ligavam na hora da larica – gradualmente se tornou incompatível à sonoridade e ao legado musical que o trio gostaria de deixar.
“O nome foi sugerido por um amigo e de cara a gente achou sonoro e decidiu usá-lo”, relembra Lk. “Estávamos começando na música, beirando os 17 e 18 anos. Algum tempo depois, com o nosso amadurecimento e a formação definitiva da banda, decidimos retirar o ‘Brenfa’ do nome, até porque não era o objetivo rotular o grupo a uma única ideologia.”
Com formação e nome estabelecidos, o trio antecipou o primeiro disco de estúdio, Quinta Dimensão (2012), com duas mixtapes (Universo Adverso – Quem Sabe No Futuro, de 2010, e De Volta ao Início, de 2011). Lançado na iminência de um suposto fim do mundo (o disco saiu em 21 de dezembro de 2012, data que ficou conhecida pelas inúmeras teorias apocalípticas que giravam em torno dela), o primogênito do 3030 trazia uma sucessão de parcerias e convidados especiais, como Emilia Garth, Filipe Ret, Start Rap e Sem Ter Razão. Três anos mais tarde, o coletivo lançava o segundo álbum, Entre a Carne e a Alma, uma antítese da tímida estreia.
“O segundo disco foi o primeiro em que conseguimos materializar nossas vontades artísticas”, afirma Rod. “Escolhemos fazer dele um trabalho sem participações especiais, para trazer o 3030 da forma mais pura. Além disso, os instrumentais são mais encorpados e a produção mais refinada. Do ponto de vista lírico, nesse disco sentimos maior responsabilidade ao compor. É um processo contínuo no qual tomamos consciência do poder das nossas mensagens.”
Com um nome cada vez mais consolidado na cena nacional, os baianos de coração revisitam – sob nova roupagem e texturas musicais orgânicas – antigas composições e apaziguam a saudade da antiga cidade. “O rap acústico é algo que sempre esteve presente em nossa realidade”, pontua Lk. “No início a gente tinha essa onda de tirar um som ou fazer um freestyle só com violão, escrevia em um beat e depois via como ficavam as rimas em cima do instrumento. No ao vivo, além do DJ, trazemos também percussão, baixo e sopro. Vir com um projeto acústico agora, filmado na Bahia, é como reviver nossas raízes.”
Após o lançamento do 3030 Acústico, tanto disco quanto na versão audiovisual, o trio pretende realizar uma excursão pelo país. “Estamos preparando um show em que traremos mais instrumentistas e novas intervenções no palco”, declara Chelles, que antes de arriscar as primeiras rimas de rap tocou ao lado de uma banda de forró. “Acreditamos que o rap pode ser feito com qualquer estilo musical, é poesia em cima de ritmo, as possibilidades são infinitas. Vivemos em um país extremamente rico culturalmente, e a nossa ideia sempre foi fazer um rap com cara de Brasil.”
Assista ao vídeo de "Preciso Saber", gravado na Bahia.
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