“É bem experimental”, diz o vocalista e guitarrista, Leo Rech. “Nem nós sabemos direito o que está acontecendo”
Lucas Brêda Publicado em 09/08/2016, às 13h16 - Atualizado às 14h28
Por Lucas Brêda
Lost Youth Against The Rush, o disco de estreia do Catavento, foi lançado nos primeiros dias de 2014, apresentando ao público uma banda de garagem, suja e enérgica. Mais de dois anos e meio depois, o grupo de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, chega ao segundo álbum, chamado brevemente de Cha e lançado nesta terça, 9, com exclusividade no Sobe o Som.
“No primeiro disco, entramos numa onda de gostar muito do Cage the Elephant e do segundo disco deles, Thank You, Happy Birthday (2011)”, conta o guitarrista e vocalista, Leo Rech. Além de lançar o Catavento de vez no universo da música alternativa brasileira, Lost Youth Against The Rush (2014) marcou o surgimento do selo Honey Bomb Records, criado na segunda metade de 2013, mas colocado em prática no ano seguinte, com o debute da banda.
O Honey Bomb tem como cabeça Jonas Bender Bustince, irmão do baterista do Catavento, Luquinhas. “Éramos quatro na primeira formação”, lembra Leo Lucena, também guitarrista e vocalista. “O Luquinhas entrou na banda e foi a partir dali que começamos a conviver. Não tínhamos a proximidade que temos hoje e que acabamos nos obrigando a ter, para seguir trabalhando com a banda.”
Se o álbum de estreia foi o registro de um quarteto errante, com muitas ideias e poucos meios, Cha sintetiza a coletividade do Catavento, hoje um sexteto (incrementado ainda por Bustince, um quase integrante do grupo). No clipe da frívola e lúdica “City's Angels”, single do trabalho, os gaúchos incorporam a vida leve e em grupo que tempera todo o disco.
O estilo de criação e produção colaborativa remonta de longe o que grupos como o Novos Baianos difundiram nos anos 1970, quando dividiam casa, comida, emprego, time de futebol e crenças, numa espécie de vida hippie alternativa. Os integrantes do Catavento não moram juntos, mas trabalham diariamente em “bando”, levando o ambiente do selo também para a produção deles.
“Pensamos muito em construir alguma coisa e viver em coletividade com as coisas que fazemos – música, trilhas, design”, confessa Rech. “Temos muito essa vontade de um dia conseguir uma vila ou algo assim, que fosse coletiva e que desse para fazermos nossas paradas juntos, mas, de certa forma, meio afastados da cidade. Acho que esse é um sonho que dividimos.”
Além de mais otimista, plural e colorido, Cha reúne uma série de experimentalismos psicodélicos, calcado em timbres e texturas carregados, que deixam o disco propositadamente “barulhento”, caótico e delirante. “O Cha é bem experimental, tanto sonoramente quanto nas nossas relações”, analisa Rech. “Nem nós sabemos direito o que está acontecendo.”
Apesar de ganhar vida só em agosto de 2016, o álbum começou a ser feito em 2014 – algumas gravações de bateria permaneceram das primeiras sessões. “Fomos tocando e divulgando o Lost Youth e íamos parando para gravar o Cha”, explica o baixista, Du Panozzo, do sobre o lento processo que fez entrar na banda (manipulando sintetizadores e efeitos) o produtor Francisco Maffei.
“Gravamos o primeiro disco de maneira menos orgânica que o Cha, para se ter uma ideia. [Em Lost Youth] Foi tudo feito na pós [produção]”, revela Lucena. “Conforme começamos a viajar, conhecer o processo de outras bandas, aprendemos melhor a fazer esse som mais orgânico e vivo. O Cha traz um pouco mais da nossa característica, das nossas guitarras, nossos pedais. E isso veio da experiência de show, de estrada.”
Com Cha, o Catavento se posiciona como um dos expoentes da onda que colocou a psicodelia novamente em evidência na produção nacional, depois de o Tame Impala protagonizar tal façanha a nível mundial. Os gaúchos lembram de estarem presentes no segundo show da banda australiana em São Paulo, em 2013, ocasião em que Benke Ferraz e Dinho Almeida – fundadores do Boogarins – apresentaram um “DJ set psicodélico” na abertura.
“Eles abriram portas realmente, literalmente”, aponta Bustince, citando que foi o próprio Boogarins quem indicou o Catavento para participar do festival Vaca Amarela de 2014, sendo a primeira vez que a banda gaúcha deixou o estado para tocar. Além do quarteto goiano, o Catavento também se aproximou da psicodelia nordestina do Tagore, banda recifense cujos integrantes Tagore Suassuna e Caramuru Baumgartner participaram da faixa “Plantinha”, presente em Cha.
É certamente uma época propícia para se fazer psicodelia, mas a confiança do Catavento não se dá apenas por isso. “Depois do primeiro álbum, não sabíamos o que ia acontecer depois, por isso demos um berro”, assume Panozzo. “Agora, já percebemos que o mundo não vai acabar, tem muito mais pela frente. Não é mais como se estivéssemos numa fase, mas sim no começo, um pouco mais tranquilos com as coisas.”
Conheça Cha, o segundo disco do Catavento
O show de lançamento de Cha está marcado para o próximo dia 2 de setembro, no Z Carniceria, em São Paulo.
Show de lançamento de Cha
2 de setembro (sábado), às 23h
Z Carniceria | Av. Brigadeiro Faria Lima, 724 – Pinheiros – São Paulo
Ingressos: R$ 15
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