Com letra escrita há 13 anos, “Concreto” foi inspirada por obra anônima e movimentos Ocupe Estelita e Parque Augusta
Lucas Brêda Publicado em 02/09/2015, às 20h27 - Atualizado em 03/09/2015, às 17h41
Por Lucas Brêda
Usualmente, uma construção é um problema dos mais irritantes para qualquer vizinhança. No caso de Felipe S, vocalista e líder do Mombojó, a barulheira e o quebra-quebra foram o pontapé inicial para uma canção. “Está acontecendo uma obra do lado de casa”, conta ele, que mora em São Paulo. “Daí um trator veio para demolir o prédio, bem na altura da minha janela. Eu filmei no celular para colocar no Instagram.”
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O vídeo, com cerca de 3 minutos de duração, feito por Felipe no celular, ganha vida – com exclusividade no Sobe o Som – na forma da canção “Concreto”, uma parceria do pernambucano com Rodrigo Sanches. Apesar de ser assinada de maneira solo, a canção não é o início de um projeto de Felipe longe do Mombojó, mas apenas uma faixa “meio avulsa” do cantor.
“Fiquei muito afim de usar aqueles sons em uma música”, diz ele. “Quando eu pensei em alguma coisa, a primeira coisa que veia à cabeça foi essa letra antiga”. Os versos de “Concreto” foram escritos pelo nordestino na primeira vez que ele foi a São Paulo, para fazer um curso, em 2002, dois anos antes de o Mombojó estrear com o disco Nadadenovo.
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“Tudo é tão concreto/ Fácil de quebrar”, canta ele na música, em meio a um violão pulsante e estrondos de construções irregulares ao fundo. “Essa frase se liga muito com o que estou vivendo no momento: tem obra do lado da minha casa, está acontecendo o [movimento] Ocupe Estelita, Parque Augusta, tudo rumando para o mesmo lugar.”
O Ocupe Estelita (ou #OcupeEstelita) pede a preservação do Cais José Estelita, comprado em um leilão e ameaçado pelo projeto “Novo Recife”, que pretende construir 12 torres empresariais e residências no local. No show do Mombojó no mais recente Lollapalooza Brasil, a banda exibiu frases de apoio ao movimento no telão do palco, durante a faixa “Pro Sol” (do disco Alexandre, 2014).
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Na ocasião, eles também mencionaram o que acontece com o Parque Augusta, em São Paulo, que passa por um processo semelhante. A área verde localizada entre as ruas Caio Prado e Marquês de Paranaguá foi comprada pelas construtoras Cyrela e Setin, que farão empreendimentos comerciais no terreno (Lembre como foi o show).
“Eu sou muito entusiasta desses dois movimentos”, comenta Felipe. “Acho muito importante as pessoas estarem se mobilizando em torno dessa causa. Em Recife você vê que é uma minoria tentando construir a cidade de modo que eles tenham maior lucro – sem planejar o espaço para as pessoas, para a convivência de pobres e ricos, ambientes onde as pessoas possam se encontrar. Tudo é feito para você ter seu carro, morar dentro de grade.”
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O vocalista do Mombojó enche a boca para falar dos movimentos. E o assunto mexe tanto com Felipe que não é de se espantar que ele tenha ficado completamente fissurado na obra que (ainda) acontece ao lado da casa dele. “Acompanho diariamente, sei a hora que eles fazem tudo”, confessa. “Começa às 7h30 da manhã, ao meio-dia saem para almoçar...”
Foi assim que surgiu o clipe de “Concreto”. “Marquei com um amigo – Luan Cardoso – de fazermos algo bem simples: gravar algumas imagens aqui na obra e outras da gente tocando no estúdio”, conta. “Mas o pessoal da obra não liberou as filmagens, e entramos na hora que eles foram almoçar. Ele fez algumas imagens da obra e tinha várias estruturas de ferro – a base da construção – formando figuras geométricas muito bonitas.”
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Além de Cardoso, Lucca Bertollini – ambos da produtora Quixó – também trabalhou como diretor e editor do vídeo de “Concreto”. “A construção estava no melhor momento para o clipe: quando o concreto é usado para preencher a base do novo prédio”, comenta Bertollini. “Começamos a rodar na mesma hora, para em seguida irmos ao estúdio fazer o restante. Sentimos na pele como o improviso, comum na música, funcionou.”
Conheça “Concreto” – em áudio e vídeo – e a obra ao lado da casa de Felipe abaixo.
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