O cantor e compositor Meno - Amanda Amaral

Meno apresenta Barriga de 7 Janta, disco inspirado em primo que virou andarilho, em São Paulo

A performance acontece nesta quinta, 25, no CCSP

Redação Publicado em 25/08/2016, às 17h17 - Atualizado às 19h09

Por Gabriel Nunes

“Esta vida é um punhal com dois gumes fatais: Não amar é sofrer; amar é sofrer mais”, escreveu, em 1917, o poeta Menotti del Picchia. Quase um século depois, Meno revisita as palavras do bisavô para contar a trajetória quixotesca de Raimundo no disco Barriga de 7 Janta, o qual ele apresenta gratuitamente nesta quinta, 25, em São Paulo.

Nascido em Ipaussu, Raimundo (também conhecido pelo apelido Dico) jogou fubeca, cantou samba de breque, aprendeu com o pai o ofício de sapateiro, sonhou e, antes de se perder no mundo, perdeu-se de amor por Sabrina. Mas, ao descobrir que ela estava de caso com o melhor amigo dele, Raimundo desembestou, virou o andarilho Barriga de 7 Janta – apelido que faz referência à magreza de quem só jantou sete vezes na vida – e então desapareceu do provinciano município paulista.

A história é real, afirma o cantor e compositor. Raimundo viveu. E, como no disco, também desapareceu. “Meu avô paterno sempre contava a história de um primo que ele encontrou um dia todo maltrapilho na rua”, recorda o músico. “Ele o levou para casa, deu banho, comida e roupa limpa, mas ele acabou fugindo e nunca mais voltou a ser visto.”

Com a morte do avô, as lembranças e as poucas respostas sobre quem poderia ter sido Raimundo evanesceram completamente. No entanto, o mistério do primo desaparecido permaneceu assombrando o imaginário de Meno.

“Ninguém sabe o que aconteceu com ele”, afirma o autor dos discos Macaco Sem Pelo e Interferências – Trio Improvisado, ambos lançados em 2013. “Eu fiquei intrigado, me perguntando o porquê alguém vira um andarilho, como essas pessoas que a gente vê por aí caminhando, solitárias, pelas estradas. Isso despertou minha curiosidade.”

Debruçado sobre o indecifrável passado do primo distante, Meno reconstruiu poeticamente a história do parente desaparecido. Começando com a canção “Primo Raimundo” – que posteriormente se ramificaria em duas partes –, a ideia de criar um disco conceitual em cima da vida do parente chamou a atenção de gente como Romulo Fróes (Passo Torto), que compôs, para o álbum, a letra de “Correnteza” e também do poeta arrudA (colaborador do músico Tatá Aeroplano), que teve o poema “O Peso das Moedas” musicado por Meno.

“A partir dessa primeira composição, que é bem literal, comecei a fazer outras músicas que não contavam tão diretamente a vida do Raimundo”, diz Meno. “Quando eu já tinha algumas faixas prontas, começaram a entrar alguns poetas, como o arrudA, trazendo canções que foram se encaixando de um jeito bem misterioso na narrativa que eu queria contar.”

Tragédia em catorze cenas (ou faixas), Barriga de 7 Janta dialoga com a insustentável leveza da perda. Perda da inocência, perda da identidade, perda da realidade, perda do amor. No entanto, se o sentimento se perde na vastidão do mundo, mais vasto é o coração de Raimundo – que, nas palavras de Carlos Drummond de Andrade, é somente rima, não solução.

Meno no CCSP

25 de agosto, às 20h30

CCSP - Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso

Grátis

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