'Priscilla', dirigido por Sofia Coppola e estrelado por Cailee Spaeny, chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 4; em breve, filme estará disponível na MUBI
Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 04/01/2024, às 18h00
Dirigido por uma mulher e centrado na história de outra, Priscilla não é um filme sobre feminismo. O longa-metragem de Sofia Coppola baseado no livro Elvis e Eu (1985), assinado por Priscilla Presley, é construído sem dispensar os passos básicos da jornada do herói, mas não parece propôr uma mensagem.
Embora Priscilla e Elvis tenham nascido nos Estados Unidos, as vidas dos dois se cruzaram na Alemanha Ocidental, onde o já consagrado astro do rock prestou serviço militar. Os dias cinzentos da então jovem de 14 anos passaram a ser aquecidos pelas grandes festas que Elvis dava em sua própria casa.
O curso natural da trajetória de Priscilla foi interrompido quando um homem 10 anos mais velho disse a ela algo como "você é muito madura para sua idade". Não é incomum que adolescentes virem caça de homens que procuram uma esposa para chamar de "mãe". No caso de Priscilla, o fato dela ter sido selecionada por alguém com o calibre social de Elvis foi apelo suficiente para que ela se mantivesse apaixonada e solitária por anos até que o artista a convidasse para se mudar para Graceland.
A mãe da garota, Anna Lillian Iversen, relutou e chegou a se questionar o que um adulto como Elvis queria com a filha dela, considerando que o sucesso do músico poderia levar muitas mulheres — de idade mais próxima — para seus braços. Com medo de assistir Priscilla se tornar rebelde e romper os laços abruptamente com a família para pertencer a Elvis, mãe e padastro permitiram que ela fosse embora. Talvez, Anna, interpretada pela incrível Dagmara Dominczyk, pensou que não podia haver final mais feliz que aquele para a filha.
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Em Memphis, Priscilla tinha vida dupla: de manhã, ela frequentava a escola, à tarde, voltava para a mansão do namorado famoso e escapava dos flashes predatórios dos paparazzi. Competição feminina e sentimento de inferioridade são apenas alguns dos motivos que levam mulheres à devoção ao homem pelo qual estão apaixonadas. Elvis, porém, não era tão apegado à namorada, já que a traía constantemente.
Concluído o ensino médio, Priscilla não via mais obstáculos que pudessem a impedir de ser, finalmente, uma mulher adulta. A transição foi acompanhada por uma mudança no visual da jovem, que escureceu o cabelo, passou a fazer um delineado forte nos olhos e não economizou laquê para manter um penteado característico dos anos 1960. Ela pensava que estava fazendo isso por si mesma, mas, na verdade, sua personalidade e aparência estavam sendo moldadas à maneira de Elvis, que pagava por tudo.
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Ainda no início do relacionamento, o músico isolou a namorada. Em determinada ocasião, ele dá o remédio que usa para dormir a ela, que fica inconsciente por dias. A cena mostra sutilmente como a estrela do rock conservava o vício em drogas.
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No período em que Elvis deixa a casa para fazer shows, não embarcamos no ônibus com o Rei do Rock, sua equipe e amigos — ao telespectador, só resta o silêncio que cerca Priscilla. Embora ela tenha cogitado buscar um emprego, foi podada pelo namorado.
Sem amizades ou parentes, apenas com a cachorrinha de estimação, Priscilla continuou se aprofundando no romance fracassado com Elvis, o que culminou em casamento. O documento da união, porém, não foi empecilho maior que o medo de descobrir quem era sozinha. Sofrendo diversos tipos de violência e a rejeição de quem seria o amor de sua vida, Priscilla fez o que poucas mulheres conseguem fazer: abandonar seu agressor.
"Talvez em outro tempo, talvez em outro lugar", admite Elvis a certa altura do filme. A intenção de Sofia Coppola, como a própria diretora afirmou em conversa com Richard Curtis, no BFI Southbank, não era retratar Elvis como vilão. Entrevistas recentes com Priscilla Presley também demonstram que ela não pretende manchar o legado do ex-marido.
Cailee Spaeny brilhou na atuação como Priscilla. O papel é tão distinto de trabalhos anteriores, como em Antes do Fim (2021), que a reconhecemos como a personagem que interpreta, quase literalmente encarnada. Jacob Elordi, por sua vez, também tem provado versatilidade em sua carreira como ator, visto que, em um espaço de poucas semanas, conseguiu interpretar Elvis, em Priscilla, e Felix Catton, em Saltburn.
Sofia Coppola, novamente, foi cirúrgica na representação de uma mulher. Ela mesma, inclusive, é constantemente associada ao trabalho do pai, Francis Ford Coppola, e mantém relacionamento com alguém também atrelado às intempéries da fama, Thomas Mars, vocalista da banda Phoenix.
Assim como Encontros e Desencontros (2003), por exemplo, é como se Priscilla terminasse de repente, sem moral da história ou final definido. É justamente essa a digital deixada por Sofia que faz com que seu filme retrate Elvis Presley melhor do que o repleto de parafernálias Elvis (2022), dirigido por Baz Luhrmann.
Priscilla chegou ao cinema nesta quinta-feira, 4, e, em breve, estará disponível na MUBI.
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