Emiliano Zapata explicou como expansão de circuito em CEUs tem auxiliado na difusão do cinema nas periferias de São Paulo
Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 05/11/2024, às 14h33
Emiliano Zapata — provavelmente não o primeiro que costuma vir à cabeça de quem ouve esse nome — encabeça projeto da Spcine para democratizar o acesso ao cinema nas periferias de São Paulo. Ele é diretor de inovação e políticas audiovisuais da instituição, onde seu papel é "inovar a partir das seguintes frentes: difusão, formação, acesso a serviços públicos e gratuitos no audiovisual", contou à Rolling Stone Brasil.
Como exemplo de uma das iniciativas da Spcine, Zapata citou o Spcine Play, primeiro streaming público gratuito do Brasil, criado em 2016. Na mesma esteira, ele afirmou que auxiliou na melhoria de um projeto iniciado entre as gestões de Marta Suplicy e Gilberto Kassab, ainda nos anos 2000, para a expansão de salas de cinema públicas na cidade — o chamado Circuito Spcine.
Dez salas de CEUs entregues no projeto "precisavam de uma adaptação elétrica". Unindo o útil ao agradável, Zapata sugeriu à Secretaria de Governo que fizessem os ajustes necessários nos CEUs administrados pelo Instituto Baccarelli, além de entregar duas novas salas — no CEU Pinheirinho e CEU Parque Novo Mundo — que seriam inauguradas dentro do plano de Urbanismo Social.
"Eles acataram, e aí conseguimos fazer todas essas 12 novas inaugurações que estamos fazendo. A ideia foi super bem recebida pelo prefeito e todo o gabinete do governo e prontamente executada pela Spcine, porque nós sabemos a importância e a diferença que mais 12 salas de cinemas fariam em territórios periféricos", comemorou Zapata.
Ao todo, 32 salas de cinema abarcadas pelo Circuito auxiliam na difusão do audiovisual em lugares "onde 50% do público não frequentava cinemas antes devido a restrições financeiras", conforme dados divulgados por representantes da Spcine durante o IV Encontro de Ideias Audiovisuais.
Segundo o diretor, "a experiência que as crianças, os pais, as famílias e os professores têm, literalmente, é uma experiência igual à de quem vai ao shopping".
São raras as exceções onde tem um shopping perto ou algum outro cinema próximo aos CEUs, porque, normalmente, eles estão em territórios bem afastados do grande centro, onde, provavelmente, se ali houvesse um cinema, talvez não tivesse demanda comercial. [...] O principal critério é levar o cinema para onde ele nunca chegaria se não fosse através de uma política pública.
Na visão de Zapata, o recém-reeleito prefeito de São Paulo Ricardo Nunes, o governador do estado Tarcísio de Freitas e ele estão "todos na mesma página".
Apesar da associação dos dois políticos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, contrário à Lei Rouanet, apenas como exemplo, o diretor de inovação e políticas audiovisuais da Spcine argumentou: "Não acredito que o prefeito, com quem eu tenho uma relação bem próxima, vai na contramão disso, porque ele apoiou desde o princípio todo o plano de expansão, todas as salas, todas as mostras".
Zapata citou mostra Queer feita durante o mês do orgulho LGBTQIA+ em parceria com a MUBI para amenizar o clima. " Já no contexto do governo de São Paulo, governo Tarcísio, eu penso em expandir esse projeto... Tenho desenhado e quero elevar o circuito para cidades que têm menos de 70 mil habitantes", contou.
Sabemos que isso pode ter um impacto surpreendente e não tenho dúvidas que isso vai ser bem aceito pelo governo do estado, mostrando que estamos todos na mesma página.
Em relação ao retorno da sociedade, "as trocas têm sido imensuráveis", garantiu Zapata: "As pessoas mais velhas sempre trazem relatos sobre cinemas que existiam perto das casas delas, quando eram mais jovens, e como é bom ter um cinema novamente por perto agora. [...] Muitas delas ficam surpresas com o fato do cinema ser gratuito".
Quem nunca teve a sua vida transformada depois de assistir a um filme? Eu sei que dali podem sair futuros roteiristas, futuros atores, atrizes, inúmeras profissões que jamais foram pensadas. [...] Acho que [o projeto] devolve ao município a capacidade de sonhar e acreditar que existem possibilidades.
De acordo com Zapata, a Spcine também planeja expandir a iniciativa com sessões adaptadas para
pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O Circuito Azul ajusta som, luz e espaços de acolhimento para atender famílias que precisam de um ambiente inclusivo.
Há ainda planos de iniciar sessões CineMaterna e Melhor Idade para cuidar também de mães e pessoas idosas.
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