- Gasoline Rainbow (Foto: Divulgação/MUBI)
Fim do ensino médio

Em 'Gasoline Rainbow', Irmãos Ross capturam dúvidas e espontaneidade da geração Z: 'Nada foi fácil, e tudo foi bonito'

O filme que mistura ficção e realidade ao retratar o fim do ensino médio de cinco adolescentes está disponível na MUBI

Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 11/06/2024, às 10h40

Ao fim do ensino médio, o tempo acelera e os anos se confundem. Durante o período escolar, o curso da vida é claro e praticamente uma imposição. Depois, porém, é preciso fazer escolhas — e o resultado dessas decisões é cada vez mais permanente.

Em Gasoline Rainbow, os Irmãos Ross colocam cinco adolescentes que estão vivendo esse momento diante das câmeras. Antes de embarcarem na vida adulta, Tony, Micah, Nichole, Nathaly e Makai — nomes verdadeiros — carregam uma van com suas mochilas e seguem em uma viagem para a costa do Pacífico. Um trajeto que deveria ser simples se torna um desafio de locomoção, mas é preenchido por novas amizades e paisagens bonitas. 

Bill Ross IV (Foto: Divulgação/MUBI)

"Trabalhamos juntos desde quando éramos crianças. Começamos a fazer 'filmes' quando éramos crianças, no nosso quintal. Então, estamos nessa há muito tempo. Ele é meu melhor amigo, confio completamente nele. Nós trabalhamos juntos porque é divertido", abriu-se Bill Ross IV em coletiva de imprensa da MUBI — produtora do longa-metragem. 

"E nós nos complementamos. Acho que um torna o outro melhor. Acho que as habilidades de cada um crescem e mudam nesse processo. Motivamos um ao outro e nos complementamos. Sempre quero impressioná-lo e fazer melhor que ele. Tem uma competição amigável nisso tudo", acrescentou Turner Ross

Turner Ross (Foto: Divulgação/MUBI)

Ficção ou documentário?

Com Bloody Nose, Empty Pockets (2020) e Contemporary Color (2016) no currículo, os Irmãos Ross misturam ficção e realidade em suas obras, mas não se estabelecem em nenhum dos dois conceitos.

"Esse é um filme bem artesanal, de baixo orçamento, com equipe pequena, um filme independente. Temos muita liberdade com isso, mas, por esse motivo, ele compartilha muito da tradição de cinema de não-ficção. Decidimos que era importante, imperativo, que nos encaixássemos em outra categorização", disse Turner

A produção não é formada por puro improviso: "Nós compomos o filme, há um roteiro de filmagem, uma ideia de produção. O filme é escrito e reescrito no presente", esclareceu. No entanto, "não há diálogos no papel".

O roteiro de filmagem é mais para a produção, o financeiro e para que Bill e eu saibamos com que situação estamos lidando, que tipo de imagens, emoções, precisamos alcançar para podermos criar as condições e capturarmos tudo. Pedimos para que eles fossem eles mesmos, mas que também fossem críveis sem atuar — nunca serem alguém que não são, ou nossos porta-vozes. - Turner

A dupla de cineastas precisou se policiar para não impôr sua própria visão sobre a narrativa. Como Turner e Bill pontuaram, eles também estiveram nessa fase transitória, mas queriam dar espaço aos personagens da geração Z para que eles contassem suas próprias histórias de forma autêntica.

"Quando me formei na escola, eu não sabia se queria ir embora, não sabia o que fazer", lembrou Bill. "Eu lavava pratos em um restaurante, amava muito meus amigos. Então, deixá-los... Não sabia se era algo que eu queria fazer. Essa confusão que eles enfrentam, me identifico muito com isso."

Desafios

Sem um roteiro detalhado, "todo dia tinha o potencial de ser um desastre absoluto", brincou Bill. Os irmãos planejaram Gasoline Rainbow quando o mundo ainda enfrentava a pandemia de covid-19: "Compusemos um filme de aventura numa pandemia, sem saber quando o mundo reabriria. Não tínhamos o elenco principal até duas semanas antes de começarmos as filmagens", contou Turner.

O rompimento, mesmo que temporário, de relações com outras pessoas e até mesmo com a vida do lado externo de casa, deu o tom da preparação para as filmagens. "Não tínhamos a van até dois dias antes das filmagens", adicionou Bill.

Há beleza até mesmo na gasolina derramada no chão, que pode formar um arco-íris, e a dupla de cineastas estava em busca de beleza nas estradas do Oregon. 

[O filme] também nos sugou para fora das nossas vidas em um momento em que estávamos buscando reconexão, emocionalmente, pessoalmente, fisicamente. O modo como trabalhamos exige que estejamos presentes para tudo o tempo todo e garantindo que a coisa continue. Foi um risco. Quando voltamos para casa, nossa casa foi atingida por um furacão, e passamos um ano e meio tentando descobrir como dar sentido a tudo que capturamos. Nada foi fácil, e tudo foi bonito. - Turner

Elenco

Tony Aburto, Micah Bunch, Nichole Dukes, Nathaly Garcia e Makai Garza foram atraídos pela ideia de deixar a escola em grande estilo: com um trabalho de verão diferenciado. "Eram crianças que não estavam em busca de uma carreira na atuação, era mais como um trabalho de verão — um trabalho bem estranho de verão — para eles", disse Bill.

"Os três garotos se conheciam, e as duas garotas se conheciam — não apenas se conheciam, eram bons amigos. Tínhamos esperança de que se colocássemos eles no mesmo lugar, eles se juntariam. E foi o que aconteceu: assim que os juntamos em uma sala, eles logo esqueceram de Turner e eu", lembrou Bill.

Em meio a atos delinquentes, como pegar carona em um trem de carga e queimar um piano na praia, os personagens se abriram uns com os outros e com os espectadores, revelando aspectos da vida para a qual voltariam ao final das filmagens. A linguagem carregada de palavrões e as ações decididas do grupo de adolescentes não obstruíram a fragilidade deles. Os cinco ouvem conselhos dos adultos com quem esbarram e até são enganados por outros jovens.

"Nós os escolhemos porque eram o tipo de crianças que sairiam em uma viagem, são curiosas, queriam conhecer lugares fora de sua pequena cidade...", começou Bill. "E queriam fazer parte do que estávamos fazendo. Exigiu muita cumplicidade. Foram seis semanas na estrada filmando todos os dias", completou Turner.

As quase duas horas de filme, no entanto, não bastaram para revelar questões relacionadas à sexualidade, por exemplo. Flertes tímidos foram ofuscados pelos gestos de amizade. Turner ponderou: "Você sempre aprende mais se for mais longe. Isso foi muito mais sobre a camaradagem e o senso de propósito deles, essa ideia de uma fronteira desconhecida e confronto, em vez de focar na sexualidade deles, fraquezas".

Todos tinham seu romance, suas próprias vidas para retornar aos seus próprios dramas. Conseguimos uma pequena janela para espiar o mundo deles quando eles compartilharam conosco. Era, principalmente, sobre estar em movimento, encontrar outras pessoas, entender si mesmos em contraste ou em comparação com os outros, encontrar seus reflexos e ter um momento emocional catártico. Há coisas acontecendo fora da tela. - Turner

Trilha sonora

"As crianças escolheram todas as músicas do filme", relatou Bill, rindo sobre a playlist dos atores. "Só queríamos que eles fossem eles mesmos, ouvindo Guns N' Roses ou Cypress Hill. Foi muito engraçado. Quando estávamos gravando com eles, eles estavam ouvindo essas músicas que crescemos ouvindo. Nós ficávamos tipo: 'Por que raios você conhece isso?'"

Quando éramos mais jovens, tínhamos que ir até uma loja e comprar um CD. Eles têm acesso a tudo, então tudo é novo para eles. Isso é bem legal. É muito bom ter esse senso de descoberta sobre a música que ouvíamos. - Bill

 

 

 

 

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