Novidade, que saiu premiada do Festival de Cannes deste ano, passa pela 26ª edição do Festival do Rio com sessões esgotadas; leia a crítica
Henrique Nascimento (@hc_nascimento) Publicado em 03/10/2024, às 18h00 - Atualizado às 19h00
Destaque no Festival de Cannes deste ano, de onde saiu premiado e com grandes chances de representar a França entre os finalistas a Melhor Filme Internacional na próxima edição do Oscar, Emilia Pérez chega aos cinemas brasileiros apenas em 2025.
Porém, antes disso, o longa, rodado no México e falado majoritariamente em espanhol, abre a 26ª edição do Festival do Rio, nesta quinta-feira, dia 3 de outubro, e ainda dá uma prévia aos mais ansiosos em outras três sessões — todas com ingressos já esgotados.
Não é difícil entender o frenesi em torno da novidade. Com ares de dramalhão mexicano, o musical de Jacques Audiard (Ferrugem e Osso) entrelaça as histórias de dois desconhecidos, que vêm de realidades diferentes, mas se encontram em seus anseios de um futuro melhor: Manitas del Monte (Karla Sofía Gascón, Rebelde), que deseja abandonar a vida que construiu como líder de um cartel de drogas e pai de família, para se tornar uma mulher, como sempre sonhou; e Rita Moro Castro (Zoë Saldaña, Avatar: O Caminho da Água), uma advogada desprestigiada, seduzida pela oportunidade de mudar a própria vida ao ajudar o traficante.
Mesmo receosa, Rita aceita o trabalho. Selado o acordo, cabe a Manitas renunciar ao que lhe resta de seu passado, incluindo aqueles que ama, ou perder a vida, para a infelicidade ou a morte, que lhe assombram há anos. Para a advogada, fica a responsabilidade de resolver todo o resto, em uma urgência sentida pelo espectador através da narrativa acelerada do primeiro ato do longa.
Não demora muito e logo nasce Emilia Pérez, com um efeito cascateante, que reverbera não apenas em Rita — que realmente consegue mudar de vida —, mas também em outras duas mulheres: Jessi (Selena Gomez, Only Murders in the Building), viúva de Manitas, que passa a viver com Emilia, através de uma mentira, quando a mulher se prova incapaz de viver longe da família; e Epifanía (Adriana Paz, Vis a Vis), que se aproxima de benevolente mulher quando ela, decidida a buscar redenção por seu passado obscuro, inicia uma organização sem fim lucrativos para encontrar pessoas desaparecidas.
Emília Pérez inicia, então, jornadas de autodescobrimento de cada uma dessas mulheres: Emilia luta para descobrir o que quer da vida, agora que conseguiu o que sempre sonhou; Rita procura entender o que é ter tudo e não ter nada ao mesmo tempo; Jessi deseja, na figura de outro homem, interpretado por Edgar Ramírez (Wasp Network: Rede de Espiões), reencontrar a felicidade que tinha antes de perder o grande amor de sua vida; e Epifanía quer saber o que é viver sem medo, e amar e ser amada.
Tudo isso é embalado pela música presente no longa, que está incrustada na narrativa de Emília Pérez. Além de reforçarem os significados e potencializarem o que está sendo dito, as canções também intimidam, impactam, instigam, constrangem, desconcertam e comovem, em diferentes momentos. É um musical, mas que foge das tradicionalidades de clássicos como Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001), Chicago (2002) ou Os Miseráveis (2012), e se assemelha a produções mais recentes, como Annette (2021) e Carmen (2022), em que a música apenas se faz necessária para preencher lacunas.
Emilia Pérez é uma obra grandiosa, que não consegue ser condensada levianamente. Ela não traz, simplesmente, uma discussão sobre transgeneridade e a busca por uma versão ideal do ser humano; mas também a busca pelo entendimento de que, embora o seu exterior esteja diferente, isso não significa que o seu interior também mudou — e essa é uma questão que precisa ser resolvida.
Por mais que as mudanças físicas de Emilia representem, para ela, uma nova chance para viver, ela percebe — tarde demais — que, para que isso acontecesse, não poderia ter matado Manitas dentro de si. Talvez, se tivesse tentando conhecê-lo, sem o peso de viver em um corpo que não lhe pertencia, o seu destino pudesse ser diferente daquele que, provavelmente, já estava reservado ao seu antigo eu. Infelizmente, não é.
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