Novidade mostra um apresentador de TV tentando alavancar a audiência de seu programa com uma possessão demoníaca ao vivo; leia a crítica
Henrique Nascimento (@hc_nascimento) Publicado em 04/07/2024, às 13h30
Em 1999, A Bruxa de Blair pegou os fãs de terror de surpresa com uma história fictícia, mas besuntada de tanta veracidade, que muitos acharam que três jovens realmente haviam se perdido em uma floresta em Maryland enquanto filmavam um documentário sobre uma lenda urbana local.
Anos depois, filmes como Atividade Paranormal (2007), [Rec] (2007) e Cloverfield: Monstro (2008) causaram impacto semelhante e ajudaram a cimentar o subgênero found footage como um dos mais populares do terror. É ele quem inspira Entrevista Com o Demônio, que chega os cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, dia 4 de julho.
Estrelado por David Dastmalchian, de Duna (2021) e O Esquadrão Suicida (2021), Entrevista Com o Demônio acompanha Jack Delroy, um apresentador de um talk show televisivo, que está tentando ao máximo recuperar a sua audiência após ficar afastado da TV por causa da morte de sua esposa (Georgina Haig, Once Upon a Time).
Em uma noite de Dia das Bruxas, em 1977, ele resolve dar a sua cartada final e convida um médium, que promete se comunicar com os mortos (Fayssal Bazzi, C*A*U*G*H*T); um cético, que diz conseguir desvendar qualquer charlatão (Ian Bliss, Matrix Revolutions); e a grande atração da noite, Lilly (Ingrid Torelli, Cinco Quartos), uma menina que, supostamente, vive com um demônio dentro de si.
Com a ajuda da tutora da menina, a dra. June Ross-Mitchell (Laura Gordon, Jogos Mortais V), Jack quer tentar realizar uma possessão demoníaca no palco de seu programa. Porém, a situação foge do seu controle e se torna perigosa para todos os presentes, mas especialmente para o apresentador, que vê os seus segredos serem revelados ao mundo todo. Assista ao trailer:
Misto de mocumentário com found footage, Entrevista Com o Demônio utiliza uma linguagem narrativa que remonta a programas antigos de true crime como Dateline ou, no Brasil, Linha Direta, e entrega um ótimo filme de terror, quase perfeito.
Enquanto se mantém dentro de sua proposta, o longa é instigante e prende a atenção do espectador com a construção da expectativa de que, mesmo que a situação pareça ter chegado ao seu limite, ela sempre pode piorar, considerando que o encerramento é sempre (ou, pelo menos, deveria ser) a cereja do bolo de qualquer filme.
Em uma hora e meia de duração, o filme apresenta um suspense crescente e sequências chocantes. Dá até para perdoar as cenas dos bastidores do programa, que são inseridas durante os intervalos e servem apenas para quebrar a proposta do longa, mesmo que momentaneamente, despindo-o de sua suposta veracidade.
Porém, o desastre acontece nos minutos finais do longa, quando Entrevista Com o Demônio abandona completamente a sua narrativa para se explicar demais — algo totalmente desnecessário a esse ponto.
Jogando pistas aqui e ali, o roteiro elucida, ao longo do filme, o que Jack Delroy havia feito para chegar até aquele momento, sem a necessidade de mastigar a história para o público. Quando faz isso, o filme subestima a própria inteligência, emburrecendo-se. Caso terminasse nas cenas finais do programa, em sua sequência mais chocante, Entrevista Com o Demônio seria perfeito.
Faltou alguém para dizer que o roteiro dos irmãos Colin e Cameron Cairnes, responsáveis também pela direção do longa, era bom o suficiente para falar por si só, sem ser mal-compreendido ou negligente com o público.
No fim das contas, Entrevista Com o Demônio acaba sendo um ótimo filme de terror, mas que precisará conviver com a ideia de que, por muito pouco, poderia ter sido excelente e, infelizmente, não é.
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