Crítica foi feita especialmente com relação a discurso de Gloria, personagem interpretada pela atriz
Igor Miranda Publicado em 17/01/2024, às 11h21
Barbie foi o filme de maior sucesso em 2023 e um dos grandes destaques da indústria cinematográfica nos últimos anos. Arrecadando quase US$ 1,5 bilhão, o longa dirigido por Greta Gerwig e protagonizado por Margot Robbie buscou oferecer uma retratação divertida da popular boneca ao mesmo tempo em que não deixa de abordar questões sociais, especialmente o machismo na sociedade contemporânea — e o equilíbrio proposto pelo feminismo.
Apesar da imprensa ter destacado tal característica, o longa não passou ileso de críticas. E um comentário recorrente foi o de que a obra teria oferecido um “feminismo simplificado”, perdendo a oportunidade de discutir a temática de forma mais profunda.
Uma das atrizes do elenco, America Ferrera, respondeu a este comentário durante entrevista ao jornal The New York Times. A artista responsável por interpretar Gloria, uma funcionária da empresa Mattel que ajuda a Barbie no chamado “mundo real”, revelou não apenas concordar que houve “feminismo simplificado” como, também, destacou que era exatamente isso que tanto o enredo quanto a sociedade estavam precisando.
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Ferrera, aliás, é responsável por um monólogo justamente sobre feminismo. “É literalmente impossível ser uma mulher. [...] Temos que sempre ser extraordinárias, mas de alguma forma estamos sempre agindo errado. [...] Estou tão cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se esforçando para que as pessoas gostem de nós”, diz um trecho do discurso, que será reproduzido na íntegra ao fim deste texto. Ao abordar essa fala — e as críticas em cima dela —, a atriz disse:
“Podemos saber de determinadas coisas e ainda assim precisar ouvi-las em voz alta. Ainda pode ser catártico. Há muitas pessoas que precisam do feminismo básico, gerações inteiras de meninas que estão surgindo agora e que não têm palavras para descrever a cultura em que estão sendo criadas.”
Ainda durante a entrevista, America Ferrera observou que o monólogo com “feminismo simplificado” em Barbie pode ter sido importante para homens que assistiam ao filme. Mais especificamente, aqueles “que talvez nunca tenham passado algum tempo pensando sobre a teoria feminista”.
“Se você conhece bem o feminismo, então pode parecer uma simplificação excessiva, mas há países que proibiram este filme por uma razão.”
A menção da artista a países que proibiram a exibição de Barbie é real, ainda que não necessariamente tenham ocorrido somente por questões ligadas ao feminismo. Argélia e Líbano não permitiram que o filme fosse transmitido por “promover a homossexualidade” e o que é descrito como “outros desvios ocidentais”, como “transformação sexual”, alegadamente “contradizendo valores de fé e moral”.
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Por fim, America declarou que a verdadeira “simplificação excessiva” é “dizer que não é necessário introduzir feminismo básico ou algo que talvez seja fundamental”. E ao apontar que nem todos tiveram acesso a tais reflexões no passado, ela concluiu:
“Assumir que todos estão no mesmo nível de conhecimento e compreensão da experiência da feminilidade é uma simplificação excessiva.”
Veja abaixo a transcrição do discurso de Gloria, personagem de America Ferrera, no filme Barbie (via O Tempo):
“É literalmente impossível ser uma mulher. Você é tão linda, tão inteligente, e me mata ver que não se acha boa o suficiente. Tipo, temos que sempre ser extraordinárias, mas de alguma forma estamos sempre agindo errado.
Você tem que ser magra, mas não muito. E você nunca pode dizer que quer ser magra. Tem que dizer que quer ser saudável, mas também tem que ser magra. Você tem que ter dinheiro, mas não pode pedir dinheiro porque é mal-educado.
Você tem que ser uma chefe, mas não pode ser má. Você tem que comandar, mas não pode arrasar as ideias dos outros. Você deve adorar ser mãe, mas não fale sobre seus filhos o tempo todo. Você deve ser uma mulher de carreira, mas também estar sempre cuidando dos outros.
Você tem que responder pelo mau comportamento dos homens, o que é uma loucura, mas se apontar isso é acusada de reclamar. Você deve estar sempre bonita para os homens, mas não tão bonita a ponto de tentá-los demais ou ameaçar outras mulheres, porque deve fazer parte da sororidade.
Mas sempre se destaque e sempre seja grata. Nunca se esqueça de que o sistema é manipulado. Portanto, encontre uma maneira de reconhecer isso, mas também seja sempre grata. Você nunca deve envelhecer, ou ser grosseira, se exibir, ser egoísta, cair, falhar, demonstrar medo, sair da linha.
É tão difícil! É muito contraditório e ninguém lhe dá uma medalha ou agradece! E acontece que, na verdade, você não apenas está fazendo tudo errado, como também é tudo sua culpa. Estou tão cansada de ver a mim mesma e a todas as outras mulheres se esforçando para que as pessoas gostem de nós. E se isso tudo também vale para uma boneca que apenas representa as mulheres, então nem sei.”
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