Gladiador 2 é entretenimento que serve de palco para Denzel Washington brilhar; leia a crítica - Divulgação/Paramount Pictures
CRÍTICA

Gladiador 2 é entretenimento que serve de palco para Denzel Washington brilhar

Sequência do longa de sucesso dos anos 2000, a novidade de Ridley Scott é estrelada por Paul Mescal, Pedro Pascal e Denzel Washington

Angelo Cordeiro (@angelocinefilo) Publicado em 18/11/2024, às 17h00

Ridley Scott prometeu: ele não irá parar de filmar. O cineasta de 86 anos, que tem lançado um filme atrás do outro nos últimos anos, é um dos mais prolíficos de Hollywood dentre aqueles que já têm uma carreira consolidada. Em 2021, lançou O Último Duelo e Casa Gucci, seguido de Napoleão, em 2023, e agora Gladiador 2, um projeto que demorou diversas décadas para acontecer e que finalmente vê a luz do dia — ou a escuridão das salas de cinema.

Desde o sucesso do primeiro Gladiador, em 2000, Ridley Scott queria continuar essa história e torná-la mais uma franquia, como já acontecera com outras obras de sua vasta filmografia, como Alien e Blade Runner. No entanto, desentendimentos e desencontros de ideias entre os produtores, Russell Crowe — estrela do primeiro filme — e os roteiristas foram adiando o projeto, que estreia nos cinemas mais de duas décadas depois, continuando a história de Máximus Décimus Meridius (Crowe) a partir da figura de seu herdeiro, Lucius, vivido por Paul Mescal (Aftersun e Normal People).

Na sequência, 25 anos se passaram desde que Lucius testemunhou a morte de Máximus (Crowe) pelas mãos de seu tio (Joaquin Phoenix, Coringa: Delírio a Dois). Já adulto, após uma batalha sangrenta liderada pelas tropas do general Acacius (Pedro Pascal, The Last of Us), sua casa e a honra de seu povo são tomadas pelos imperadores tirânicos Geta (Joseph Quinn, Stranger Things) e Caracala (Fred Hechinger, The White Lotus), que governam o Império Romano com punhos de ferro.

Após ser tido como escravo do Império, Lucius é comprado pelo misterioso Macrinus (Denzel Washington, O Protetor) com o propósito de torná-lo um gladiador. Lutando pela sua liberdade e seu legado, restará a Lucius seguir os passos de Máximus para restaurar a glória perdida de Roma. 

Há um grande problema em Gladiador 2, que é a forma com que personagens possuem propósitos iniciais, mas logo os abandonam por pura conveniência de roteiro. O próprio Lucius é um desses. Se inicialmente ele se torna um gladiador com sede de vingança contra Acacius, quando ambos estão frente a frente, duas ou três linhas de roteiro são o suficiente para amolecer o coração do jovem em uma cena típica de novelão mexicano.

O destaque acaba ficando para Denzel Washington, que brilha no filme. Seu personagem, Macrinus, é um homem misterioso, envolvido com política e com as lutas de gladiadores, que se mostra sempre por dentro das artimanhas e estratégias promovidas tanto pelo alto Império Romano quanto por seu pupilo Lucius — que não transparece ternura por seu comprador.

É delicioso notar Denzel se divertindo em um personagem que vai se revelando ardiloso aos poucos; seu sorriso simpático, por exemplo, carrega uma malícia que entrega a sua dualidade. Macrinus é tão necessário a Gladiador 2 que, quando ele não está em cena — felizmente, são poucas as vezes —, as consequências de seus planos de poder ainda podem ser vistas sendo colocadas em prática. Ele é como aquele personagem de uma novela que todos deveriam odiar, mas acaba sendo aclamado por carregar nas costas uma trama que não surpreende enquanto história.

Vale destacar ainda como Ridley Scott maximizou Gladiador não só em seu orçamento, que pode ultrapassar a marca de mais de US$ 300 milhões, mas em cenários e ação. O filme perde nitidamente o tom mais épico e filosófico do longa de 2000 e assume uma proposta megalomaníaca de blockbuster típica das produções de hoje em dia, graças à facilidade do CGI.

Por isso, batalhas em um Coliseu com tubarões, rinocerontes e até babuínos raivosos se tornam possíveis e surgem como entretenimento não só para aqueles presentes nas cadeiras da construção romana, como também para nós, espectadores, sentados nas cadeiras do cinema.

Assumindo esse tom de continuidade e de superprodução, podemos dizer que Ridley Scott dá a si mesmo a chancela para enveredar mais um de seus filmes na onda das franquias. Ora, se Gladiador 2 é assumidamente uma continuação com intenções de expandir a história de Lucius e seu legado como herdeiro de Máximus, inclusive com um terceiro filme à vista, por que não acreditar que a história do personagem de Mescal — e talvez até de outros — ganhe novos capítulos e produções?

Basta tomar Blade Runner como exemplo, que já tem uma série do Prime Video planejada para acontecer. Nos resta aguardar os próximos planos do incansável Ridley Scott — e que eles não demorem outros 24 anos para se concretizar.

Especial de cinema da Rolling Stone Brasil

O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.

Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.

O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.

O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está disponível nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:

 

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