Há 20 anos, acontecia o Oscar mais bizarro de todos

O Oscar 2003 acumulou polêmicas. O tapa de Will Smith em Chris Rock na edição de 2022 e o erro no anúncio do vencedor da principal categoria em 2017 representam apenas uma fração da tensão que a cerimônia de 20 anos atrás trouxe.

Realizado no dia 23 de março, o evento celebrava o aniversário de 75 anos do Oscar. Steve Martin foi o apresentador, e Chicago (2002) era o principal destaque, com 13 indicações. Naquele ano, Meryl Streep se tornou a atriz com mais indicações na história, também com 13.

Harvey Weinstein (então executivo da Miramax, posteriormente condenado por crimes sexuais) teve 46 indicações por seus filmes, incluindo quatro dos cinco indicados a Melhor Filme: Gangues de Nova York (2002), As Horas (2002), Chicago (2002) e O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002).

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Em alguns dos filmes, sua participação foi clara e direta. Em outros, no entanto, como em Senhor dos Anéis, seu crédito como produtor é um pouco mais complicado - e vem pelo fato da Miramax ter começado a desenvolver a franquia. Weinstein buscava combinar os três volumes da obra de Tolkien em apenas um filme e ameaçou substituir o diretor Peter Jackson por Quentin Tarantino caso ele não aceitasse.

Jackson acabou ficando com o filme. Em troca, Weinstein recebeu US$ 10 milhões e uma parte dos lucros. O diretor levou sua ideia a produtora New Line, que produziu no formato de três filmes. Em uma última mensagem a Harvey, Jackson modelou um dos orcs com a imagem dele.

Chicago levou seis estatuetas, incluindo a principal da noite. Frida (2002), cinebiografia de Frida Kahlo com Salma Hayek (outro filme de Weinstein), venceu dois Oscars. Posteriormente, a atriz revelou que Weinstein tentou sabotar o longa-metragem após ela recusar diversas ofensivas sexuais. "Eu vou te matar, não pense que eu não sou capaz," o cineasta teria dito a Hayek. Uma das cenas, com nu frontal da atriz, teria sido feita após insistência de Weinstein, que negou as acusações.

Harvey ainda foi acusado de estupro por mais de 80 mulheres publicamente. Ele foi sentenciado a 23 anos na cadeia em Nova York, enquanto o estado da Califórnia o sentenciou a 16 anos preso.

As polêmicas do Oscar de 2003 não param por aí. Michal Moore, após sua vitória na categoria de Melhor Documentário com Tiros em Columbine (2002), fez discurso contra o então presidente George W. Bush e a guerra do Iraque: "Vivemos num período em que temos resultados de eleições fictícias para eleger um presidente fictício. Vivemos num período em que temos um homem nos mandando à guerra por motivos fictícios." Moore foi vaiado por parte da plateia.

Adrien Brody, que se tornou o vencedor mais jovem do Oscar de Melhor Ator, aos 29 anos, por O Pianista (2002), beijou a apresentadora Halle Berry, que expressou seu descontentamento com a situação posteriormente.

Por fim, havia a presença de Roman Polanski, pelo filme O Pianista. Após sua vitória na categoria de Melhor Diretor, anunciada com um sorriso no rosto por Harrison Ford, o cineasta foi ovacionado pela audiência - apesar de já enfrentar denúncia de violência sexual na justiça. Entre figuras flagradas pela câmera da transmissão durante os aplausos estavam Martin Scorsese, Meryl Streep, Jack Nicholson e Harvey Weinstein.