Indicada ao prêmio por seu trabalho em Central do Brasil (1998), a atriz perdeu a estatueta para Gwyneth Paltrow, de Shakespeare Apaixonado (1998)
Henrique Nascimento Publicado em 08/03/2024, às 11h00
O Brasil já chegou perto do Oscar algumas vezes, mas nunca foi honrado com uma estatueta da maior premiação do cinema. Em 1960, Orfeu Negro (1959), filmado no Brasil, com atores brasileiros e falado em português, conquistou o prêmio, mas a estatueta foi para a França. Em 1982, Pixote: A Lei do Mais Fraco (1980), de Héctor Babenco (1946-2016), foi desclassificado antes mesmo de ter a sua chance.
Porém, foi em 1999 que o Brasil sofreu a sua derrota mais dolorosa. Naquele ano, o Brasil concorria pela quarta vez ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro por Central do Brasil (1998), longa de Walter Salles (Na Estrada). Mas todos os olhos estavam voltados para um acontecimento ainda maior: Fernanda Montenegro havia sido indicda à categoria de Melhor Atriz por sua atuação no longa.
Em Central do Brasil, ela interpretou Dora, uma amargurada ex-professora, que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas e vê a sua vida mudar após uma de suas clientes morrer em um acidente de trânsito e ela precisar ajudar o filho dela, Josué (Vinícius de Oliveira, Unidade Básica), de nove anos de idade, a encontrar o pai que nunca conheceu.
Além de ser um sucesso nos cinemas brasileiros, Central do Brasil também ganhou o mundo. Descrita como uma produção "pequena, modesta, nada buscando ser enorme", Fernanda Montenegro revelou acreditar que o acaso acabou levando o longa a viajar pelo globo:
"Mas o acaso tem sempre a última palavra. Essa é uma frase básica da [escritora e filósofa] Simone de Beauvoir, e o acaso fez esse filme ir pelo mundo. E onde ele foi, ele foi bem recebido", disse em entrevista à Simone Zucolotto, pelo Canal Brasil, em abril de 2023.
Pelo trabalho, Fernanda Montenegro conquistou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival Internacional de Berlim, além de ter sido indicada ao Globo de Ouro e ao Satellite Awards, entre muitos outros prêmios, antes de garantir uma vaga entre as indicadas a Melhor Atriz na 71ª edição do Oscar, que aconteceu em 21 de março de 1999.
Com a indicação, a atriz se tornou a primeira latino-americana, a primeira brasileira - e, até o momento, a única - e a primeira - e única - atriz nomeada por uma atuação em língua portuguesa na história do Oscar. Infelizmente, mesmo com os feitos históricos, a atriz acabou perdendo a estatueta de ouro para Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado (1998).
Anos após a derrota, Fernanda Montenegro comentou que a falta de prêmios para o longa - que também não venceu a categoria de Melhor Filme Estrangeiro, hoje conhecida como Melhor Filme Internacional - não diminui a sua importância:
“Prêmios, às vezes, vêm. Às vezes, não. O momento daquele Oscar foi inesperado. E daí? O filme de Walter Salles continua sendo um ‘não Oscar’ maravilhoso. A vida continuou. A vida continua”, declarou à revista Veja.
Em outubro de 2023, mais de vinte anos após conquistar o Oscar de Melhor Atriz, Gwyneth Paltrow gerou revolta dos brasileiros ao afirmar que usa a estatueta como batente de porta e precisou desmentir a informação, dizendo que o seu comentário não passava de uma brincadeira.
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