CRÍTICA

"Longlegs: Vínculo Mortal" abraça o macabro em terror sobrenatural perturbador

Novidade, que conta com Nicolas Cage em atuação surpreendente, já é considerado um dos filmes mais assustadores do século XXI

Angelo Cordeiro (@angelocinefilo)

Publicado em 28/08/2024, às 16h00
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"Longlegs: Vínculo Mortal" abraça o macabro em terror sobrenatural perturbador; leia a crítica - Divulgação/Diamond Films Brasil

Longlegs: Vínculo Mortal chega aos cinemas brasileiros a partir desta quarta-feira, dia 28 de agosto, com a fama de ser um dos filmes mais assustadores do século XXI. Porém, o exagero entorno da novidade, que serve mais para o marketing do que para a experiência em si, apenas facilita a quebra de expectativas dos mais ansiosos para conferir a novidade estrelada por Nicolas Cage (O Homem dos Sonhos).

Para aqueles que esperam assistir a um longa investigativo com toques de true crime ou um bom suspense aterrorizante, é bom ir preparado para uma realidade diferente. O longa até flerta com premissas de perseguição a serial killers, como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Zodíaco (2007), mas surpreende ao incorporar elementos sobrenaturais e ocultistas em uma história que parece fincar os pés no realismo durante boa parte de sua projeção.

O longa, escrito e dirigido por Osgood Perkins (A Enviada do Mal), até traz uma aura comparável à de O Bebê de Rosemary (1968), com a diferença de que, no clássico de Roman Polanski, o mal não se apresenta — embora também esteja sempre à espreita — até os momentos finais da produção.

No longa, a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe, de Corrente do Mal) é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer chamado Longlegs (Nicolas Cage). Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, que a lança em uma corrida contra o tempo para evitar mais mortes.

Se a sinopse é calcada no panorama da investigação do FBI, prévia e entrevistas já davam dicas de que as coisas poderiam rumar para “o outro lado”. Em uma conversa com o Letterboxd, Perkins foi questionado sobre os seus filmes de terror favoritos e, dentre as opções, estavam obras que flertam com o sobrenatural, como Sangue de Pantera (1942), A Hora do Lobo (1968), Possessão (1981) e Um Lobisomem Americano em Londres (1981).

Na época, cheguei a me questionar por que ele não teria citado Psicose (1960), clássico de Alfred Hitchcock, no qual seu pai, Anthony Perkins, dá vida a um dos assassinos mais célebres do cinema, Norman Bates.

Porém, o próprio longa de Hitchcock nos dá a resposta: ele é um terror que não foge da realidade e, talvez por isso, seja tão amedrontador. São pessoas comuns, vivendo situações rotineiras diante de um assassino ordinário.

A carreira de Perkins também ajuda a compreender suas escolhas — não só a dos seus filmes de terror favoritos, como também as escolhas técnicas apresentadas em Longlegs: Vínculo Mortal. Ao se inteirar da filmografia do cineasta, percebe-se como ele se fascina pelo macabro e a construção de uma boa ambientação, algo que se intensifica ainda mais na novidade.

Por exemplo, seu primeiro trabalho, A Enviada do Mal já elucidava esse apreço de Perkins pelo satânico. Em seu trabalho seguinte, O Último Capítulo, também chamado de A Bela Criatura, o cineasta se preocupou com a ambientação, outro aspecto de sua mais nova fita. 

Porém, se seus filmes anteriores eram mais sugestivos, na novidade o mal definitivamente toma forma, ainda que seja sorrateiro e bem menos explícito. Provavelmente, Longless é o longa do diretor que mais se aproxima de algo que ele sempre lidou desde o início de sua carreira: a vontade de mostrar que o mal não só existe, como também é capaz de adentrar nossas casas pela porta da frente.

Mesmo que estejamos distantes desses acontecimentos, é perturbadora a forma com que Perkins arquiteta seus planos e os planos do assassino Longlegs, vivido genial e excentricamente por Nicolas Cage, que é mero intermediário de algo ainda maior.

Tenho lá minhas ressalvas com a reviravolta do terceiro ato — que explica o subtítulo brasileiro —, mais pela forma como é feita, com a ajuda de flashbacks, do que pelo que de fato ela representa. Por outro lado, gosto de como Perkins abraça o macabro nos instantes finais, quebrando as expectativas que citei no primeiro parágrafo.

Pelo lado mais técnico da direção, a fotografia, composta por tons gélidos nos ambientes externos e envolta por sombras nos ambientes internos, é de dar calafrios. Ela também vê uma necessidade de usar e abusar de ângulos nos quais nossos olhos são convidados a procurar algo em cena.

A profundidade de campo é mais um artifício que Perkins aplica para nos envolver em uma ambientação sombria e incômoda. Aliás, boa parte deste incômodo é apresentado à audiência por meio da personagem de Maika Monroe, uma agente do FBI que nunca parece à vontade em cena — e os aspectos técnicos já citados nesta crítica corroboram isso.

O melhor de Longlegs: Vínculo Mortal é como ele possui essa faceta de terror pós-moderno da A24 — para alguns o pós-horror —, mas que nunca dá voltas e mais voltas em torno do roteiro para se mostrar fascinado pelos próprios aspectos de direção de arte e de fotografia e não apresentar algo concreto.

É um filme breve, que não tem tempo a perder. O roteiro pode ter lá seus probleminhas, como alguns elementos que escapam da investigação, mas Longlegs se torna sinistro diante de um gênero que, volta e meia, busca explicações em traumas do passado de suas protagonistas e que aqui só quer ser perturbadoramente satânico.

Qual foi o melhor filme de 2024 até agora? Vote no seu favorito!

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