Longa de estreia do diretor Pedro Freire está em cartaz nos cinemas brasileiros e traz mulheres fortes, de diferentes épocas, buscando se entender
Angelo Cordeiro (@angelocinefilo) Publicado em 05/11/2024, às 09h00 - Atualizado às 09h30
Em sua estreia na direção de longas, Pedro Freire surpreende com a maturidade cinematográfica em Malu, realizado em tributo à sua mãe, Malu Rocha (1947-2013), uma atriz notável da cena cultural brasileira. Exibido na 48ª Mostra de Cinema de São Paulo, o filme, que saiu grande vencedor no último Festival do Rio — com os prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (Yara de Novaes) e Melhor Atriz Coadjuvante (dividido entre Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha) —, agora chega aos cinemas de todo o país.
A sinopse é simples, contrastando com a complexidade da história: Malu (Yara de Novaes, Depois a Louca Sou Eu) é uma atriz desempregada, que vive das memórias de seu passado glorioso enquanto divide uma casa em uma favela do Rio de Janeiro com sua mãe conservadora (Juliana Carneiro da Cunha, Eduardo e Mônica) e lida com um relacionamento conturbado com a sua filha (Carol Duarte, A Vida Invisível).
Com uma abordagem sensível e incisiva acerca das complexidades das relações familiares, o filme se desenrola como uma homenagem íntima à figura materna, mergulhando na vida de Malu, uma mulher que, apesar de suas fragilidades, busca incessantemente por preenchimento e significado em meio a desafios emocionais e sociais. A partir desse ponto, nota-se uma semelhança entre Malu e Uma Mulher Sob Influência (1974), de John Cassavetes.
O cineasta norte-americano é conhecido por seu estilo intimista e realista, que mergulha profundamente nas complexidades das relações humanas, destacando a vulnerabilidade e as nuances emocionais dos personagens. Em Malu, essa influência se reflete na forma como Freire explora as dinâmicas familiares, especialmente entre as três gerações de mulheres. Assim como no trabalho de Cassavetes, o filme brasileiro é caracterizado por diálogos autênticos, que conferem uma organicidade e uma verdade emocional à história. Essa escolha permite que as interações pareçam naturais e espontâneas, levando o público a sentir como se estivesse espiando momentos reais da vida dessas personagens.
Além disso, a performance das atrizes é um dos pilares do filme e potencializa essa naturalidade. Juliana Carneiro da Cunha, Yara de Novaes e Carol Duarte, vivendo, respectivamente, avó, mãe e neta, não apenas interpretam seus papéis; elas trazem à vida as nuances de cada personagem, criando um retrato autêntico e multifacetado da maternidade e da relação entre mulheres.
Enquanto a avó carrega a sabedoria de quem já enfrentou as tempestades da vida, a mãe expressa frustrações e anseios, e a neta busca romper padrões e encontrar sua própria identidade. Essa dinâmica gera um rico tecido emocional, que se desdobra de forma natural, misturando momentos de tensão com sutileza e humor.
O foco em temas delicados, como saúde mental e a perpetuação de ciclos de violência, é outro ponto de conexão entre Malu e a obra de Cassavetes. Ambos os cineastas se atêm a questões sociais e emocionais complexas, evitando o melodrama simplista e, em vez disso, optam por uma exploração mais profunda e, por vezes, dolorosa da condição humana. A intensidade dessas personagens se torna palpável, refletindo não apenas suas convicções individuais, mas também um ciclo de conflitos que se perpetua através do tempo.
Freire trata dos assuntos com uma sensibilidade admirável. Ele evita o tom pesado, que poderia facilmente dominar a narrativa, optando por uma abordagem que mescla leveza e profundidade. Essa escolha permite que o espectador se conecte com as personagens sem se sentir sobrecarregado pela dor que elas carregam — ainda que compartilhe de suas dores. A identificação com suas lutas se torna uma experiência genuinamente emotiva. O que poderia ser um embate intenso se transforma em um diálogo poderoso, onde a empatia e o entendimento são constantemente buscados, mesmo diante das divergências.
Por fim, Malu se destaca por sua habilidade em capturar a essência das experiências humanas, lembrando-nos que, mesmo nas relações mais tumultuadas, a busca por conexão e compreensão é uma força motriz. É um filme que, com seu olhar honesto e tocante, nos convida a refletir sobre nossas próprias histórias familiares, tornando-se uma obra relevante e emocionante no cinema brasileiro mais recente.
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil chega às bancas de jornais em novembro, mas já pode ser comprada em pré-venda na loja da editora Perfil por R$ 29,90, com envios a partir de 6 de novembro.
LEIA A MATÉRIA ORIGINAL EM: Malu explora o conflito entre três gerações a partir da complexidade das relações familiares
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