Atriz entrega detalhes e desafios do filme que estreia nesta quinta (9) no Brasil; de quebra, declara amor pelo país e por sua avó, a atriz brasileira Maria Gladys: "ela é meu coração"
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 09/02/2023, às 18h34 - Atualizado em 10/02/2023, às 10h15
Nos quase 105 minutos de Pearl, Mia Goth desenha em cena um extenso espectro de atuação. De momentos de comédia, passando pelo óbvio horror até um surpreendente desfecho dramático, a atriz de 29 anos é uma âncora onipresente no longa de Ti West que se aprofunda no passado da personagem-título, introduzida como uma idosa assassina (interpretada também por Goth) no antecessor X - A Marca da Morte, de 2022.
Estreia da semana nos cinemas brasileiros, Pearl foi, até o momento de sua gravação, o mais desafiador da carreira de Mia Goth: "tínhamos um orçamento limitado e um cronograma apertado - tínhamos apenas quatro semanas para filmar tudo, então eram 16 horas de gravação, seis dias por semana", contou a atriz à Rolling Stone Brasil.
Segunda parte de uma já confirmada trilogia de West, Pearl volta à juventude da octagenária de X. Isolada com a família em uma fazenda no interior do Texas durante a pandemia de gripe espanhola de 1918, a jovem personagem de Mia adentra em uma espiral de loucura ao ter sua idealização de uma vida de cinema, fama e glamour, confrontada com a realidade austera com uma mãe controladora (Tandi Wright) e um pai debilitado (Matthew Sunderland).
Se a atuação de Goth é responsável pelas tonalidades crescentes de desespero, captadas em planos fechados por Ti West, a atriz foi também fundamental para o desenvolvimento da personagem por outro aspecto: aqui, ela estreia como corroteirista do longa, a convite de West.
"Ele queria escrever comigo, porque a história era baseada em uma jovem Pearl, e já que eu estava interpretando a velha Pearl em X - A Marca da Morte, eu deveria ter uma parte na criação desse papel."
A entrada de Goth como corroteirista de Pearl talvez tenha servido para aprofundar ainda mais algumas das temáticas que, desde X - A Marca da Morte, diferenciam a trilogia de Ti West do panorama do horror atual - em especial o olhar sobre um determinismo sobre a mulher e sobre o corpo feminino.
Temas, aliás, que devem ser retomados e ampliados na terceira parte da trilogia, MaxXxine, que segue a protagonista de X - A Marca da Morte, uma atriz de filmes adultos, para a década de 1980, durante a explosão da era VHS. Sem adiantar tanto sobre o próximo filme, Mia conta:
"Ela [Maxine] sai como a única sobrevivente de X - A Marca da Morte, pega aquele carro e dirige em direção ao nascer do sol. Então quando a encontramos novamente no filme MaxXxine, ela tem muito a proteger e as apostas são muito altas. Ela ingressa em um grande mundo, ela é uma lutadora e vai defender-se a todo custo."
Na conversa com a Rolling Stone Brasil, Mia Goth conta que a estreia de Pearl no país "parece uma conquista" para ela, que viveu por anos no país. Neta da atriz Maria Gladys - sua maior referência, garante -, ela conta como a recepção de seus filmes no Brasil é celebrada, por ela e por fãs, de forma diferente:
"E os fãs destes filmes são tão gentis, tão legais, sabe? Especialmente os fãs brasileiros que amam esses filmes. É um momento muito especial, porque meu coração é todo do Brasil. Eu cresci aí, eu passei os primeiros anos de minha vida aí e parece uma enorme conquista, sabe? Ter essa resposta do Brasil. Eu fico muito emocionada, amo demais, é incrível!"
Sobre Maria Gladys, a avó-atriz, dona de uma filmografia que atravessa seis décadas entre a TV e o cinema, ela apenas se declara emocionada - e em dois idiomas:
"Ela é de longe a atriz mais incrível. E eu aprendi tanto com ela e, para mim, não existe nada acima dela em termos de inspiração. [Fala em português] Ela é meu coração!
Rolling Stone Brasil: Em Pearl você atua não apenas como atriz, mas como também coautora, sim? Como chegou a isso?
Mia Goth: Sim, foi fantástico! Até aquele momento tinha sido a experiência criativa mais satisfatória da minha vida, na verdade. E aconteceu meio do nada, na real. Eu estava em Nova York, me preparando para X - A Marca da Morte, fazendo minhas coisas, e ele me mandou uma mensagem de texto com a ideia para um prequel. E ele queria escrever comigo, porque a história era baseada em uma jovem Pearl, e já que eu estava interpretando a velha Pearl em X, eu deveria ter uma parte na criação desse papel. E isso realmente me pegou de surpresa, eu estava tão ansiosa e animada. Então partimos daí. E nós sabíamos que era uma aposta e tanto, era muito para pedirmos da produtora. Mas créditos à A24, eles estavam abertos para isso e deram um sinal verde.
Rolling Stone Brasil: Recentemente você comentou à Variety que Pearl foi seu trabalho mais desafiador. O que a faz pensar isso?
Mia Goth: Foi a primeira vez que eu gravei um filme em que minha personagem está em todas as cenas. Então, apenas a logística disso é incrivelmente intensa e desafiadora. Você não tem descanso. Isso somado ao fato que tínhamos um orçamento limitado e um cronograma apertado - tínhamos apenas quatro semanas para filmar tudo, então eram 16 horas de gravação, seis dias por semana... tudo isso foi o que tornou Pearl a experiência mais desafiadora da minha vida. Mas ao mesmo tempo foi também a mais gratificante para mim. Eu estava pronta para isso e andava em busca disso há um tempo, me sentia preparada. Eu já acreditava em mim mesma como intérprete, acreditava que podia fazer algo assim, então quando a oportunidade apareceu, eu me joguei.
Rolling Stone Brasil: Sabemos que MaxXxine vem aí, e sabemos que não pode falar muto a respeito, mas de que forma você pretende refletir essas histórias de Pearl e de X - A Marca da Morte no novo filme?
Mia Goth: Eu realmente não posso dizer muito, mas o que posso dizer é que Maxine atravessa situações muito loucas em X e ultimamente ela é uma sobrevivente. Ela sai como a única sobrevivente da situação, pega aquele carro e dirige em direção ao nascer do sol. Então quando a encontramos novamente no filme MaxXxine, ela tem muito a proteger e as apostas são muito altas. Ela ingressa em um grande mundo, ela é uma lutadora e vai defender-se a todo custo.
Rolling Stone Brasil: Entre a Trilogia X e seu próximo filme, Infinity Pool, você tornou-se um dos rostos mais conhecidos da nova geração do horror. Como se sente com isso?
Mia Goth: Eu amo! Amo! É bastante surreal, para ser sincera. Sempre soube que esses projetos eram especiais quando ingressei em cada um deles, mas é outra coisa lançá-los ao mundo e ter a identificação do público, da mesma forma como você própria lá no início. E é incrível testemunhar isso. E os fãs destes filmes são tão gentis, tão legais, sabe? Especialmente os fãs brasileiros que amam esses filmes. É um momento muito especial, porque meu coração é todo do Brasil. Eu cresci aí, eu passei os primeiros anos de minha vida aí e parece uma enorme conquista, sabe? Ter essa resposta do Brasil. Eu fico muito emocionada, amo demais, é incrível!
Rolling Stone Brasil: Ia perguntar exatamente sobre os fãs brasileiros, como é sua relação conosco?
Mia Goth: Eu recebo tanto carinho de vocês! Minha família mora no Rio, então sempre que pouso, já no aeroporto, eu me sinto em casa. E o fato dos brasileiros assistirem esses filmes e gostarem, parece uma conquista para mim, entende? Brasileiros são tão calorosos, eles têm um coração gigante e são vibrantes e é assim, desse jeito, que eles recebem esses filmes. Parece um abraço.
Rolling Stone Brasil: Ainda falando de Brasil, quais são suas referências de arte por aqui?
Mia Goth: Uma de minhas maiores fontes de inspiração é minha avó, que é uma atriz brasileira, Maria Gladys. Ela é de longe a atriz mais incrível. E eu aprendi tanto com ela e, para mim, não existe nada acima dela em termos de inspiração. [Fala em português] Ela é meu coração!
Pearl estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 9 de fevereiro.
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