A Rolling Stone Brasil elencou as 50 melhores produções cinematográficas internacionais em uma edição especial, separamos aqui os melhores colocados
Redação Publicado em 14/11/2024, às 14h04
Seja orbitando no espaço sideral, passeando pelas memórias de um magnata da imprensa ou em um núcleo familiar mafioso, o cinema sempre nos leva pelas mais fascinantes histórias. Mais disruptivos, ou menos ousados, há uma característica em comum entre essas produções: todas marcaram época e revolucionaram a indústria.
A Rolling Stone Brasil ranqueou os 50 melhores filmes internacionais em uma edição especial impressa batizada de Especial Cinema, que conta com uma entrevista com Francis Ford Coppola, além de dois rankings com os melhores filmes — nacionais e internacionais — de todos os tempos.
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Veja abaixo os 10 melhores filmes internacionais de todos os tempos na opinião da Rolling Stone Brasil:
Um dos melhores filmes da carreira de David Lynch, Cidade dos Sonhos conta uma história surrealista ao misturar sonho e realidade. A dupla Betty (Naomi Watts) e Rita (Laura Harring) tenta desvendar um mistério em Los Angeles, no qual o diretor brinca com a estrutura narrativa e desafia as convenções, criando um quebra-cabeça psicológico onde identidade e desejo se entrelaçam.
Um Corpo que Cai é daqueles filmes que torna impossível não mencionar a inovação técnica e narrativa. Obsessão e identidade se entrelaçam na trama complexa de Alfred Hitchcock, que aqui traz o uso da câmera no famoso “zoom dolly” para traduzir a vertigem do protagonista Scottie (James Stewart). A trilha sonora hipnótica, novamente composta por Bernard Herrmann, eleva a tensão em cada cena, enquanto a interpretação de Kim Novak traz camadas à personagem enigmática de Madeleine. Uma aula definitiva de suspense psicológico.
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Travis Bickle (Robert De Niro), um veterano solitário, vaga pelas ruas de Nova York enquanto sua frustração e raiva crescem. De Niro oferece uma das performances mais icônicas do cinema e sua icônica fala “You talkin’ to me?” segue tatuada no imaginário cinéfilo. O uso da câmera para destacar o isolamento de Travis é sutil, mas eficaz, enquanto Bernard Herrmann acentua a tensão ao limite com sua última trilha sonora feita em vida.
A decadência de Hollywood ganha forma e conteúdo no retrato sombrio de Billy Wilder com Crepúsculo dos Deuses. Aqui, o foco é a dinâmica entre Norma Desmond (Gloria Swanson) ex-estrela do cinema mudo, que sonha com um retorno às telas, e o roteirista Joe Gillis (William Holden). O filme, no entanto, é uma análise crítica de Wilder à indústria da época e sua relação descartável com os talentos – “Eu sou grande, são os filmes que ficaram pequenos”, diz a atriz em certa altura. Ao levar
o espectador para os bastidores da indústria – que incluem a memorável cena de Desmond com o icônico diretor Cecil B. DeMille, além de um filme-dentro-do-filme -, a obra descortina parte da magia cintilante que ainda cercava as produções da época.
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Na virada dos anos 1990, o formato de terror parecia esvaziado com roteiros de violência vazios e, por tantas vezes, misóginos. Entra Jonathan Demme e sua adaptação complexa do best seller O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris. Ao alinhar a narração do filme à perspectiva da agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster), em sua busca pelo serial killer, Buffalo Bill (Ted Levine), a obra desvencilha a protagonista do papel de vítima, inserindo-a em uma investigação complexa da psicologia
do crime – na qual contará com a ajuda do psiquiatra, e também assassino, Hannibal Lecter (Anthony Hopkins). Profundamente perturbadora, a adaptação conquistou as cinco principais categorias do Oscar em 1992, elevando o potencial de complexidade do horror e influenciando inúmeras obras desde então.
O filme mais celebrado do século XXI é uma provocação pungente sobre um tema de apelo global, apesar da produção cem por cento sul-coreana. Experiente em analisar a natureza violenta da humanidade, o diretor Bong Joon-ho aqui volta os olhos para as desigualdades sociais de seu país de origem. Parasita conta a história de uma família pobre que explora uma família rica (e vice-versa): separados por um abismo classista e conectados por mais do que mero acaso, os humildes Kim e os abastados Park não são totalmente inocentes nem culpados. As contradições das estruturas sociais são típicas da vida real, mas a maneira perturbadora como Parasita as esfrega em nossas caras demanda uma reflexão profunda. Tal ousadia não passou batida pela recém-consciente Hollywood, que pela primeira vez concedeu o Oscar principal a um filme de língua não inglesa. A consagração é importante, mas mais do que isso, é a mensagem subliminar que importa: quando sustentado pelas discussões certas, o cinema pode ser a linguagem universal que conecta as dores do mundo.
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É famosa a história de como Quentin Tarantino escreveu seus primeiros roteiros enquanto trabalhava em uma locadora. Inspirado por produções de baixo orçamento, ele escavou fundo sua nerdice para dar vazão às tramas que só existiam em sua cabeça. Se a estreia na direção (Cães de Aluguel) deu boas pistas, foi o projeto seguinte que comprovou seu extraordinário talento de contador de histórias – ainda
que seu modo de narrá-las corrompesse o que a audiência estava acostumada. A verdade é que, após Pulp Fiction, o público passou a não se contentar com pouco. Em uma narrativa episódica não-linear, personagens amorais se entrelaçam e convivem casualmente com crimes e violência, enquanto disparam diálogos encharcados de referências e obscenidades, tudo embalado por uma trilha sonora tão aleatória quanto impecável. Celebrando o que há de mais rasteiro e saboroso na cultura pop,
Pulp Fiction ostenta o valioso mérito de ressignificar o conceito de cool na última década revolucionária do cinema. Sem contar que é o tipo de filme que faz um tiro acidental na cabeça render boas risadas.
2001 é tão importante hoje quanto foi há mais de 50 anos. É incrível perceber os momentos em que a obra máxima de Stanley Kubrick previu o futuro, talvez alguns anos adiantado: a precisão de detalhes sobre viagens espaciais tripuladas, comunicação por vídeo, inteligências artificiais conscientes e mais. Mesmo que a natureza premonitória não esteja em seu cerne, o filme vai além ao questionar a essência do que nos faz humanos, uma busca filosófica que jamais saiu de moda. Tudo em 2001 parece além de
seu tempo. Esteticamente é uma das obras mais influentes da história, ainda mais se lembrarmos que o homem não havia pousado na lua quando o filme foi lançado (diz a lenda que Kubrick teria ajudado a NASA a forjar as cenas dos astronautas em terreno lunar). Isso não tira o fato de a narrativa ser hermética, alienando a audiência com seu ritmo lento de raros diálogos e poucas explicações. Porém, ainda que seu desfecho críptico deixe mais dúvidas do que certezas, suas indagações continuam a nos perturbar em um mundo atual cada vez mais vago, digitalizado e fora de nosso controle.
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São tantas as inovações propostas e atingidas por Cidadão Kane que é difícil crer que Orson Welles tinha apenas 24 anos quando o coescreveu, produziu, dirigiu e estrelou. Que fique claro que o mérito não é apenas dele – graças a uma equipe inspirada capaz de materializar tal visão megalomaníaca, o filme dividiu as águas ao documentar a saga epopeica de Charles Foster Kane, de confiante prodígio da
comunicação a magnata solitário e decadente. A busca de sentido para a palavra dita no leito de
morte (“rosebud”) é o fio condutor para uma obra-prima que inspira e impressiona pelas ousadias técnicas, como o uso de profundidade de campo, ângulos de câmera inéditos e dramaticidade entre
luz e sombra, resultando em uma estética única que até hoje se sustenta. Também é notável constatar
como seu tema subliminar, o jornalismo e seu caráter influenciador, ainda soa tão urgente e fundamental. Grandioso e merecedor, Cidadão Kane impressiona por suas conquistas mesmo oito
décadas depois, continuando a determinar os parâmetros de qualidade almejados por novos cineastas
que vão surgir.
Nenhum filme carrega tantas cenas marcantes, frases de efeito e personagens simbólicos: O Poderoso Chefão é a obra mais icônica que o cinema “sério” já produziu. Não há inocentes, boas notícias duradouras ou finais felizes na épica trama arquitetada por Francis Ford Coppola, adaptada do best seller de Mario Puzo (que também coescreveu o roteiro). Posicionados próximos ao coração dos poderosos Corleone, temos uma relação tão intimista com a Máfia que pouco percebemos “as mãos puxando os fios”, uma vez que mal presenciamos seus crimes subentendidos. O Don Vito de Marlon
Brando é o protagonista trágico por excelência, talvez o maior da história do Cinema, cuja presença gigantesca assombra e conforta na mesma medida: de poucas palavras e grandes gestos, o chefão é a fortaleza que protege seus entes queridos, mas também é o responsável por manter a família presa ao eterno círculo de violência. Uma tragédia em que cada momento tem significado e nenhuma cena é desperdiçada, O Poderoso Chefão representa um agoniante e dolorido slow burn que continua a impactar gerações sem perder uma gota de sua importância.
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Ademir Correa (diretor de conteúdo da Rolling Stone Brasil); Alberto Pereira Jr. (jornalista, roteirista e diretor de TV); Alexandre Matias (jornalista, editor do site Trabalho Sujo) Aline Cordaro (redatora da Rolling Stone Brasil); André Forastieri (jornalista, ex-editor das revistas Herói e Set); Angelo Cordeiro (redator da Rolling Stone Brasil); Barbara Demerov (crítica do podcast 1 Livro, 1 Disco, 1 Filme e votante do Golden Globe); Christiane Souza (crítica, colaboradora da Rolling Stone Brasil); Diego Olivares (jornalista, apresentador do podcast 1 Livro, 1 Disco, 1 Filme); Eduardo do Valle (editor do site Rolling Stone Brasil); Felipe Fiuza (diretor de arte da Rolling Stone Brasil); Felipe Grutter (redator da Rolling Stone Brasil); Fernanda Braz Soares (editora e apresentadora do canal Hollywood Forever); Heloísa Lisboa (repórter da Rolling Stone Brasil); Henrique Nascimento (editor do site Cinebuzz); Katiúscia Vianna (editora-chefe do site AdoroCinema); Luis Maluf (publisher da Rolling Stone Brasil); Marcelo Hessel (editor e crítico do site Omelete); Max Valarezo (jornalista, apresentador do canal EntrePlanos); Pablo Miyazawa (jornalista, editor especial da Rolling Stone Brasil); Rodrigo Salem (repórter da Folha de S. Paulo e editor da newsletter Desafiador do Desconhecido); Rodrigo Tammaro (assistente de redação da Rolling Stone Brasil); Roberto Sadovski (jornalista e colunista do UOL); Suzana Uchôa Itiberê (editora do site OQVER e votante do Golden Globe).
O especial Rolling Stone Especial Cinema já está disponível para venda na loja oficial da Editora Perfil.
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