A Rolling Stone Brasil elencou as 50 melhores produções cinematográficas do Brasil em uma edição especial, separamos aqui os melhores colocados
Redação Publicado em 13/11/2024, às 18h06
O cinema nacional é um dos maiores tesouros do Brasil, entre produções que retratam o que há de mais belo e àquelas que se debruçam sobre aspectos mais obscuros, tudo vira arte na mão dos criativos brasileiros.
A Rolling Stone Brasil ranqueou os 50 melhores filmes brasileiros em uma edição especial impressa batizada de Especial Cinema, que conta com uma entrevista com Francis Ford Coppola, além de dois rankings com os melhores filmes — nacionais e internacionais — de todos os tempos.
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Veja abaixo os 10 melhores filmes nacionais de todos os tempos na opinião da Rolling Stone Brasil:
Este clássico absoluto de Mário Peixoto liderou a lista dos 100 melhores filmes segundo a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) — e é fácil entender o porquê. Sem diálogos, a obra conta a história de três personagens presos em um barco à deriva. Logo, o enredo conduz para dentro de um jogo psicológico de solidão e desespero, repleto de imagens poéticas e simbolismo. Vanguardista na essência, Limite recorre à experimentação sensorial e a uma narrativa introspectiva, sem excessos, para expor a desolação dos personagens, frente a frente com as fronteiras de sua condição humana.
Neste devastador — e ainda tão contemporâneo — retrato da vida nas ruas e das injustiças do Brasil, o jovem Pixote (Fernando Ramos da Silva) é um menor infrator que vive no submundo da criminalidade e da marginalização. O filme é um grito contra a opressão, mas também retrata com crueza a violência institucional, revelando a brutalidade que permeia a vida de uma parte vulnerável da população, seja nas ruas ou no judiciário. Destaque aqui para a atuação crua e sincera de Ramos da Silva, que, aliada à direção de Babenco, deixa impacto permanente na cinematografia brasileira.
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Val (Regina Casé) é uma empregada doméstica que se vê em um dilema quando sua filha, Jéssica (Camila Márdila), se muda para a casa dos patrões. Esse é o ponto de partida para Anna Muylaert e seu olhar sensível sobre a classe média e suas relações de poder com os empregados. O filme é uma reflexão sobre as tensões sociais e as expectativas que cercam essas dinâmicas. Com uma direção
habilidosa e atuações memoráveis, Que Horas Ela Volta? é um drama ácido e um retrato doloroso das não-tão sutis dinâmicas de classe da sociedade brasileira.
Essa distopia contemporânea transforma o oeste de Pernambuco em um faroeste futurista. Não à toa,
virou febre pop e rendeu ao Brasil seu segundo Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em 2019. A história se passa em um povoado que desaparece do mapa e enfrenta a opressão de forças externas. Nas experiências pessoais e comunitárias de personagens como Domingas (Sônia Braga) e Pacote
(Thomas Aquino), o longa provoca reflexões sobre resistência, identidade e a luta contra uma colonização moderna, capturando as contradições do Brasil atual. Se for, vá em paz!
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Lançado em 1999 como minissérie da Rede Globo, essa produção de Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão reuniu elementos de várias obras de Ariano Suassuna, como O Santo e a Porca (1957) e Torturas de um Coração (1950), na narrativa da peça clássica lançada pelo autor paraibano em 1955. O
destaque aqui é o elenco, liderado por Matheus Nachtergaele (João Grilo) e Selton Mello (Chicó), a dupla que navega entre a esperteza e a fé, expondo a hipocrisia dos poderosos de sua região. A combinação de elementos populares e a tradição do teatro nos diálogos cativantes rendeu uma edição para o cinema em 2000, que acabou tornando essa uma celebração definitiva da cultura nordestina.
O mais celebrado dos documentários brasileiros foi o projeto de vida do mais influente de nossos documentaristas. Em 1964, Eduardo Coutinho se interessou em contar a trajetória do líder camponês João Pedro Teixeira, executado na Paraíba dois anos antes. O trabalho de filmagem foi interrompido por causa da insurreição da ditadura militar, e o projeto adormeceu. Duas décadas depois, Coutinho recuperou o material registrado e foi atrás dos personagens que fizeram parte da história, em especial, da viúva de João Pedro, Elizabeth Teixeira, que na época precisou fugir e mudar de nome para sobreviver. Alternando entre cenas encenadas no passado e entrevistas realizadas no presente, Cabra
Marcado Para Morrer é um emocionante esforço jornalístico, notável por sua natureza única – são histórias fundamentais que permaneceriam inéditas ao grande público, não fosse pela insistência de um cineasta apaixonado que dedicou a vida a ouvir e absorver experiências humanas. Coutinho morreu em 2014, assassinado pelo próprio filho, mas seu legado permanece vivo, por meio de vozes autênticas como a de Elizabeth Teixeira.
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“Subversivo” até define O Bandido da Luz Vermelha, mas é insuficiente, já que sua existência evoca muitos outros predicados. A obra que sintetiza o experimentalismo do Cinema Marginal é uma realização maluca e provocante que corrompe influências, testa linguagens e se desprende dos padrões em nome da bagunça — generalizada, porém organizada. Focado na trajetória do anti-herói do título (inspirado em um bandido real), o filme de Rogério Sganzerla abusa tanto em seu discurso libertário que chega a ser inacreditável ter sido gestado durante a ditadura, chegando aos cinemas poucos dias antes do decreto do AI-5. O diretor tinha apenas 22 anos quando pariu esse delírio de genialidade que antecipa a cultura do videoclipe e diligentemente não se leva nada a sério, debochando dos formatos e
dançando entre gêneros sem pudores, do documentário ao faroeste, passando por thriller policial e ficção científica. E apesar de seu desapego e aparente falta de cabimento, há uma trama sólida que prende e cativa do começo ao fim – um exemplo único da criatividade desbundante tipicamente brasileira.
Ninguém escapa ileso da arte de Glauber Rocha. Inventivo, dramático e nada sutil, o diretor baiano foi um dos precursores do Cinema Novo, movimento de vanguarda que utilizava o filme como ferramenta
de crítica social. Maior exemplar dessa leva, Deus e o Diabo na Terra do Sol se apoia em alegorias, teatralidade e na chamada “estética da fome” para apresentar uma fábula sobre dualidades — liberdade e exploração, devoção e pecado, paraíso e inferno. A saga desesperada do casal Manoel e Rosa na busca por salvação no sertão nordestino equivale a um tortuoso trajeto por algo próximo a um purgatório, onde cruzam o caminho de um profeta de mentira (Deus), um cangaceiro psicótico (o Diabo) e as implacáveis intempéries da região mais desértica do país (a Terra do Sol). Os únicos inimigos comuns a todos são as elites poderosas e opressoras — Glauber não deixa dúvidas sobre para onde aponta suas armas, ousadia notável dado que o filme saiu meses após o golpe militar. A relevância de Deus e o Diabo…ainda hoje é latente, como o inconveniente retrato de um país que insiste em abandonar aqueles que mais precisam dele.
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Seria injusto se fosse lembrado apenas como “o filme que quase rendeu o Oscar a Fernanda Montenegro”, mas Central do Brasil é muito mais do que isto (e convenhamos, o prêmio para Fernanda era merecido). Ela interpreta Dora, uma “escrevedora” de cartas profissional que faz ponto em uma estação no Rio de Janeiro. Um acaso a conecta a um menor recém-órfão, Josué, que enxerga nela uma figura materna provisória. Juntos, seguem em uma longa viagem pelas estradas do Brasil, na busca de um pai perdido (de Josué) e algum propósito na vida (no caso de Dora). É o cenário ideal para o virtuosismo de Walter Salles, versado em documentários e road movies, que explora com sensibilidade e paciência a dinâmica entre dois opostos que se conflituam antes de se complementarem. Mas também merece aplausos a apreciação do diretor pelos rostos das dezenas de figurantes anônimos que passam pela jornada, em um singelo atestado de valorização da rica diversidade brasileira. Emocionante e otimista sem cair na pieguice (mérito das interpretações), Central do Brasil é a obra indiscutível que consolidou a retomada do cinema nacional na virada do século.
O filme brasileiro mais conhecido e celebrado fora do país? Sem dúvidas, mas não sem méritos. Com quatro indicações ao Oscar e a aclamação da imprensa mundial (o mítico crítico Roger Ebert deu a nota
máxima), Cidade de Deus explora recursos técnicos e narrativos “para inglês ver”, distanciando-se esteticamente do cinema nacional produzido na época. Mas com sua abordagem nua e crua da violência do crime organizado, o drama social de Fernando Meirelles e Kátia Lund também choca e se conecta inevitavelmente às ansiedades do povo brasileiro. Como tiroteio, o impacto vem de todos os
lados – das atuações incríveis do jovem elenco ao texto enxuto e sem firulas, da fotografia saturada em cores vibrantes à montagem de tirar o fôlego. Pelos olhos e lentes do herói Buscapé, enxergamos os meandros complexos das relações humanas e a inevitabilidade da vida criminosaem um ambiente que não favorece o caminho virtuoso e raramente traz alternativas melhores. Mesmo criticado como um retrato nada favorável do Brasil para exportação, Cidade de Deus é a materialização do potencial criativo da nossa cultura, na forma de um filme perfeito que tanto perturba como fascina.
Ademir Correa (diretor de conteúdo da Rolling Stone Brasil); Alberto Pereira Jr. (jornalista, roteirista e diretor de TV); Alexandre Matias (jornalista, editor do site Trabalho Sujo) Aline Cordaro (redatora da Rolling Stone Brasil); André Forastieri (jornalista, ex-editor das revistas Herói e Set); Angelo Cordeiro (redator da Rolling Stone Brasil); Barbara Demerov (crítica do podcast 1 Livro, 1 Disco, 1 Filme e votante do Golden Globe); Christiane Souza (crítica, colaboradora da Rolling Stone Brasil); Diego Olivares (jornalista, apresentador do podcast 1 Livro, 1 Disco, 1 Filme); Eduardo do Valle (editor do site Rolling Stone Brasil); Felipe Fiuza (diretor de arte da Rolling Stone Brasil); Felipe Grutter (redator da Rolling Stone Brasil); Fernanda Braz Soares (editora e apresentadora do canal Hollywood Forever); Heloísa Lisboa (repórter da Rolling Stone Brasil); Henrique Nascimento (editor do site Cinebuzz); Katiúscia Vianna (editora-chefe do site AdoroCinema); Luis Maluf (publisher da Rolling Stone Brasil); Marcelo Hessel (editor e crítico do site Omelete); Max Valarezo (jornalista, apresentador do canal EntrePlanos); Pablo Miyazawa (jornalista, editor especial da Rolling Stone Brasil); Rodrigo Salem (repórter da Folha de S. Paulo e editor da newsletter Desafiador do Desconhecido); Rodrigo Tammaro (assistente de redação da Rolling Stone Brasil); Roberto Sadovski (jornalista e colunista do UOL); Suzana Uchôa Itiberê (editora do site OQVER e votante do Golden Globe).
O especial Rolling Stone Especial Cinema já está disponível para venda na loja oficial da Editora Perfil.
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