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Viva Cinemateca

Projeto Nitratos: Cinemateca Brasileira recupera e disponibiliza a mais antiga coleção de filmes

Pesquisadores investigaram o acervo em nitrato de celulose da Cinemateca Brasileira e digitalizaram quase dois mil filmes; os títulos serão disponibilizados no Banco de Conteúdos Culturais

Heloísa Lisboa (@helocoptero) Publicado em 29/05/2024, às 12h59

A Cinemateca Brasileira apresentou os resultados do Projeto Nitratos nesta terça-feira, 28, em evento que contou com a participação de autoridades governamentais, patrocinadores e imprensa. Dos cerca de três mil materiais em nitrato de celulose encontrados na Cinemateca, 1.893 filmes foram recuperados, catalogados e digitalizados.

A iniciativa faz parte do Viva Cinemateca, que tem gerado projetos para preservação e restauração das coleções sob a guarda da instituição. As atividades técnicas da Cinemateca Brasileira ficaram paralisadas por quase dois anos, até a Sociedade Amigos da Cinemateca assumir sua gestão integralmente em 2021.

Pela primeira vez em mais de sete décadas, a organização recebeu recursos para revisitar a coleção de nitratos de celulose de seu acervo a fim de catalogar, conservar e duplicar obras das décadas de 1900 a 1950. O Projeto Nitratos garantiu o aporte de R$ 17 milhões de patrocinadores, como a Shell, por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Do montante, R$ 13 milhões foram subsidiados apenas pelo Instituto Cultural Vale. 

O dinheiro serviu para revitalizar o laboratório de imagem e som, adquirir filmes virgens para duplicação do material em nitrato e contratar mais de 30 profissionais que realizaram cerca de 5.500 pesquisas.

Nomes como Rodrigo Archangelo, Tamara Santos, Giuliana Ghiraldelli, Iago Cordeiro Ribeiro, Igor Andrade Pontes, Marcella Grecco de Araújo, Yasmin Gabrielle Rahmeier Souza, Felipe Queiroz Correa e Castro, Leandro Sampaio de Melo, Luisa Malzoni, Marcela Sonim e Mariana Menna integraram a equipe. 

O que mudou

Dentre as descobertas dos pesquisadores sobre o acervo da Cinemateca estão Barulho na Universidade (1943), filme de Watson Macedo dado como perdido, e Apuros de Genésio (1940), que será exibido no Festival de Filmes Silenciosos de Pordenone, na Itália. Obra de Silvino Santos, Amazônia e Rio Exposição de 1922 — uma compilação de imagens capturadas entre 1919 e 1926 —, também colabora com a compreensão da história brasileira. Ceremônias e Festa da Igreja em S. Maria (1909) foi revelado como o documentário mais antigo da coleção.

O Viva Cinemateca recolocou a entidade em congressos da Federação Internacional de Arquivos de Filmes, ampliando o diálogo com cinematecas do mundo inteiro. A cinemateca de Roma, por exemplo, devolveu cerca de 700 latas de filmes brasileiros. Com o Projeto Nitratos, a Cinemateca Brasileira recebeu ainda outros 150 novos materiais em nitrato, mas não tem recursos suficientes para restaurar as películas.

A coleção de nitratos está, naturalmente, deteriorando-se. O suporte que entra em autocombustão com facilidade foi reavaliado justamente para impedir que incêndios, como os ocorridos em 1957, 1969, 1982 e 2016, repitam-se.

A duplicação e digitalização dos títulos encontrados na Cinemateca é uma das formas de garantir que a história do cinema brasileiro não seja perdida. Apenas em 2016, estima-se que o incêndio no acervo de nitratos de celulose tenha causado a perda de quase mil obras. 

O Projeto Nitratos, que investigou principalmente cinejornais, deve gerar, ainda, uma mostra de filmes. Os títulos estão sendo disponibilizados no Banco de Conteúdos Culturais, e a diretora-geral da Cinemateca Brasileira, Dora Mourão, adiantou que um serviço de streaming pelo Ministério da Cultura está entre seus planos.

Cursos

Além do cuidado técnico das películas, os pesquisadores da Cinemateca estão compartilhando suas experiências vividas durante o Projeto Nitratos em cursos de formação. O primeiro deles, Mulheres Pioneiras do Cinema, aconteceu em dezembro do ano passado e foi ministrado por Marcela Grecco.

Outro, chamado A Cultura Cinematográfica e sua História: cinematecas, cineclubismos, festivais, filmografias e historiografias, ganhou lugar na Cinemateca — e no YouTube — no final de abril.

O curso mais recente oferecido pela organização ensinou seus inscritos desde a acessar o Banco de Conteúdos Culturais até a entender a base de dados Filmografia Brasileira. Cinejornais, documentários, ficção, filmes domésticos e publicidade de curta, média e longa-metragens foram analisados. 

Os pesquisadores revezaram os assentos na sala Oscarito durante quatro dias de curso e foram muito minuciosos ao apresentar o trabalho que tem sido desenvolvido ao longo de um ano. Ainda que eles tenham feito inúmeras descobertas sobre o acervo de nitratos e a história brasileira, muitas lacunas precisam ser preenchidas. Por isso, a equipe da Cinemateca Brasileira convida profissionais a dar continuidade à sua longa pesquisa sobre esse tipo de suporte

Em junho, interessados poderão frequentar o curso Os cinejornais no Brasil: notícia e entretenimento nos cinemas brasileiros do século XX. Vale lembrar que, embora as inscrições estejam esgotadas, é possível assistir ao evento por meio do YouTube ou arriscar uma visita à própria Cinemateca para verificar se existem vagas disponíveis de desistentes.

 

 

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