Novidade, que já está em cartaz nos cinemas brasileiros, nasceu a partir da ideia do diretor em contar a história da própria mãe
Angelo Cordeiro (@angelocinefilo)
Publicado em 05/11/2024, às 10h00Malu, que está em cartaz nos cinemas brasileiros, após fazer sucesso na 26ª edição do Festival do Rio e na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, nasceu a partir da ideia do diretor Pedro Freire em contar a história da própria mãe, Malu Rocha (1947-2013), uma atriz notável da cena cultural brasileira.
No filme, Malu Rocha ganha vida a partir da forte interpretação da atriz Yara de Novaes e a história revela as idas e vindas de três gerações de mulheres fortes tentando se entender apesar de suas complexidades.
Longa de estreia de Freire, a novidade saiu com os prêmios de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Atriz (Yara de Novaes) e Melhor Atriz Coadjuvante (dividido entre Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha) do Festival do Rio e, para celebrar, conversamos com as três atrizes premiadas, o diretor e com o ator Átila Bee, que também está no elenco de Malu. Confira a entrevista completa a seguir:
Pedro Freire: A primeira vez que pensei em fazer um filme sobre a minha mãe foi em junho de 2013, durante o velório dela no Teatro Oficina, em São Paulo. O velório foi algo único e lindo; nós, eu e minhas irmãs, organizamos tudo com muito carinho. Pintamos o caixão dela com purpurina e oferecemos baseado de maconha e vinho aos convidados, pois era algo que ela adorava. Aquela atmosfera me fez perceber que precisava contar a história dela.
P.F.: Passei cerca de cinco anos pensando se faria um filme sobre a juventude dela ou sobre sua fase mais velha, que era mais angustiante e emocional. Foi a influência do filme Aquarius, do Kléber Mendonça Filho, que me fez decidir abordar essa fase mais difícil da vida dela, a que mais me emociona. Comecei a escrever e a reescrever o roteiro, e a Tati [Tatiana Leite, produtora] foi fundamental nesse processo, ajudando com notas e feedback. Ela leu todas as dez versões que escrevi!
Tatiana: Foi um desafio incrível. O Pedro estava tão envolvido emocionalmente que eu busquei ajudar a dar forma a essa história. Ele já tinha uma ideia clara, mas o roteiro passou por várias reescritas, e eu fui testemunha de como o projeto evoluiu ao longo dos anos.
P.F.: O roteiro amadureceu em um período de instabilidade política no Brasil, o que dificultou o financiamento. Foi só em 2021 que conseguimos um edital da RioFilme, o que foi emocionante. Defender o projeto em uma apresentação oral foi um momento de realização; percebi que havia uma força incrível na história que queríamos contar. Quando enviei o filme para o Festival de Sundance, foi uma forma de entender como o público internacional veria essa narrativa tão pessoal e, ao mesmo tempo, tão brasileira.
Yara de Novaes: Eu conhecia a Malu muito pouco, na verdade. Tinha visto algumas novelas dela e me lembrava dela, principalmente porque ela fez novelas nos anos 1970 e 1980. Achava que ela era bem parecida com a Sônia Braga. O processo de construção foi muito interessante. O Pedro, que foi meu diretor em uma novela, me convidou para esse projeto e trouxe o roteiro. Ele ficou um dia e uma noite comigo, falando sobre a Malu e a importância do filme.
Y.N.: A gente ficou três semanas em uma sala de ensaio, improvisando e entendendo a ação principal. Eu conheci a Juliana Carneiro da Cunha nesse processo e foi um momento de descoberta. A presença dela era fascinante; era quase um mito para mim. Ela foi absolutamente receptiva, o que tornou tudo mais fácil e rápido.
Juliana Carneiro: Foi incrível! O Pedro filmou todo o processo, o que trouxe uma dinâmica muito especial. Nos dois ou três primeiros dias, ele ficou um pouco desesperado porque tinha convidado atrizes de teatro e a abordagem estava muito teatral. Mas, aos poucos, fomos ajustando isso. O ensaio nos uniu e criou uma confiança que foi fundamental para o filme.
Átila Bee: O Pedro me deu a liberdade de inserir uma performance teatral na apresentação do Tibira. O texto que usei é de um espetáculo chamado "Joãozinho da Gomeia, o Rei do Candomblé". A conexão com figuras como Madame Satã me ajudou a construir esse personagem. Eu sempre admirei a figura do Madame Satã e essas energias estavam definitivamente presentes no Tibira.
P.F.: O monólogo de Átila no "Joãozinho da Gomeia" me impressionou profundamente. Eu sabia que precisava trabalhar com ele, e sua energia trouxe uma dimensão única ao Tibira. O Madame Satã, sem dúvida, foi uma referência essencial na criação desse personagem.
Carol Duarte: Jamais imaginei dividir um prêmio com a grande Juliana Carneiro da Cunha. Fiquei realmente surpreendida. Para mim, era uma honra enorme, especialmente porque sempre tive um profundo respeito e admiração por ambas [Juliana e Yara]. A experiência no set foi muito amorosa e afetiva. Tivemos momentos desafiadores, mas sempre com muita cumplicidade entre nós.
Carol Duarte: Tem uma cena da Barata que foi muito difícil de fazer. Era uma mistura de seriedade com cômico, e às vezes virava uma palhaçada entre nós. A Juliana tem um jeito único de trazer o cômico à tona, e essa cena demandou muita concentração.
J.C.: Exatamente! Havia uma cumplicidade entre nós, que parecia que já nos conhecíamos de outras vidas. Isso fez a diferença. O Pedro sempre filmava, capturando a essência dos nossos ensaios. O que eu mais lembro desse período foi a felicidade que sentimos juntas.
Y.N.: Sem dúvida. Foram dias de felicidade, e agora, depois de dois anos, estamos revivendo essa alegria com o reconhecimento do nosso trabalho. É como tomar goles de milkshake de felicidade!
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil chega às bancas de jornais em novembro, mas já pode ser comprada em pré-venda na loja da editora Perfil por R$ 29,90, com envios a partir de 6 de novembro.
LEIA A MATÉRIA ORIGINAL EM: "Quis falar sobre a fase da minha mãe que mais me emociona", revela Pedro Freire, diretor de Malu
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