Há quase três décadas, franquia de jogos de luta da Capcom ganhava uma caótica adaptação para as telonas; mas o que aconteceu realmente?
Redação Publicado em 06/04/2023, às 14h49
Street Fighter vai virar filme - de novo! Poucos dias após o anúncio de que a Legendary Entertainment adquirira os direitos para adaptar o jogo para cinema e TV, a produtora, em parceira com a Capcom, anunciou que uma nova versão para as telonas teria ganho sinal verde.
📣 A new live-action Street Fighter movie is in the works! Co-produced by @Legendary Entertainment and Capcom. More news to come in the future! 👀 #StreetFighter pic.twitter.com/DyvjyWkXi2
— Street Fighter (@StreetFighter) April 5, 2023
Detalhes da adaptação ainda deverão ser confirmados, mas o novo filme deve chegar cerca de três décadas após uma primeira - e infame - adaptação. Em 1994, Street Fighter: A Batalha Final estreava aos cinemas, tornando-se lendário em pouco tempo, mas pelos motivos errados.
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Um orçamento curto, um diretor novato, efeitos toscos, um astro dependente químico no auge do estrelismo e outro envolto em uma tragédia fatal acabaram tornando a produção uma das mais catastróficas do cinema de videogame - mas também do cinema em geral. Abaixo relembramos cinco fatos que levaram Street Fighter: A Batalha Final ao desastre.
Em 1994, Street Fighter II era uma dos jogos de luta mais populares do mundo, ao lado de Mortal Kombat. Desenvolvido para arcade, o jogo ganhou imensa adesão do público, com versões e expansões para consoles de video game, como Mega Drive e Super Nintendo, vendendo 15 milhões de cópias pelo mundo.
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O longa Street Fighter: A Batalha Final foi aprovado e financiado principalmente pela Capcom, a gigante japonesa dos games, dona da franquia. Para a direção, foi escolhido Steven E. de Souza - um roteirista talentoso, conhecido principalmente por filmes de ação, como Duro de Matar, mas sem experiência em direção, à época (via The Guardian).
Mais que financiar o filme, a Capcom acabou entrando com a palavra final em vários aspectos da produção - o mais famoso foi a contratação de Jean-Claude Van Damme, um dos maiores nomes do cinema à época, para o papel de Guile. O problema foi o custo: Van Damme sozinho acabou tomando US$ 8 milhões, dos US$ 35 milhões de orçamento total do filme.
Com essa escolha, mais a de Raul Julia, selecionado para viver o vilão Mr. Bison, o filme teria pouquíssimo dinheiro para investir no restante do elenco, relegando os demais papéis a atores até então desconhecidos, como Byron Mann, Damian Chapa, Ming-Na Wen e Wes Studi. A exceção foi Kylie Minogue - a cantora já era conhecida quando foi contratada após recomendação de um sindicato da Austrália, país onde a maior parte do filme foi gravado.
Mais que uma das maiores estrelas do momento, Jean-Claude Van Damme foi também um problema para o filme por outro motivo. À época, ele estava mergulhado em um vício preocupante em cocaína. Posteriormente ele admitiria que chegara a inalar 10 gramas da droga por dia. Ao The Guardian, o diretor De Souza relembra que o ator faltava a várias gravações, alegando estar doente. Por vezes, ele viajava para Hong Kong aos fins de semana: "às segundas-feiras, ele simpelsmente não estava lá". Keith Heygate, assistente de direção do filme, pontua ainda ataques de estrelismo de Van Damme, como agressividade no set e a exigência de se instalar uma academia na suíte presidencial onde estava instalado.
Após o encerramento das gravações na Austrália e na Tailândia, De Souza precisou voltar a estúdio várias vezes, construindo no Canadá cenários que emulavam ao sudeste asiático. Isso porque muitas das coreografias de luta do filme teriam ficado 'caricatas demais'.
Além disso, uma semana antes da entrega do filme finalizado para a Motion Picture Association of America, órgçao que dá a classificação indicativa nos Estados Unidos, houve um massacre em uma escola, que acabaria endurecendo a censura sobre tomadas de violência. Com isso, Street Fighter: A Batalha Final ganhou classificação R (recomendado somente para pessoas acima de 17 anos ou menores acompanhados dos pais) e precisou voltar à sala de edição - às custas de muita tesoura no corte final.
Se Van Damme saiu da produção com fama de estrela, outros colegas deixaram boas lembranças no elenco. Uma delas foi Kylie Minogue, que fazia questão de garantir momentos divertidos para os colegas, chegando ao ponto de reservar uma casa noturna para uma festa com todos. "Nos ligamos muito por sermos as únicas mulheres no set. Saíamos sempre para jantar juntas. Ela é adorável, um ser humano muito doce", relembra Ming-Na Wen, que deu vida a Chun-Li.
Outro nome que deixou boas memórias foi Raul Julia. O ator, que interpretou M. Bison, estava com um câncer terminal de estômago durante as gravações. Ele acabaria vitimado poucas semanas antes da estreia. No entanto, colegas se lembram dele com carinho (via CinePop). Durante parte da produção, ele ia gravar acompanhado pela mulher e pelos filhos. "Ele não era uma estrela de cinema ou uma celebridade - ele era um ator no verdadeiro sentido da palavra", relembra Robert Mammone, que interpretou Blanka no longa.
Apesar de ser até hoje considerada uma das piores adaptações de videogame da história do cinema, Street Fighter: A Batalha Final tornou-se uma espécie de clássico cult - muito devido ao próprio resultado caótico da produção. Sua nota baixa em sites como o IMDB (onde é avaliado em 4/10) e no Rotten Tomatoes (com apenas 11% de aprovação da crítica, 20% do público) também não reflete o sucesso comercial que foi à época, arrecadando quase US$ 100 milhões sobre o custo inicial de US$ 35 milhões. Um prognóstico mais que positivo para o sucessor anunciado em 2023.
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