Uma carta foi publicada na última segunda-feira, 15, em retratação ao episódio envolvendo Sacheen Littlefeather em 1973. Entenda
Pamela Malva Publicado em 16/08/2022, às 11h30
Na última segunda-feira, 15, a Academia pediu desculpas a Sacheen Littlefeather pelo episódio protagonizado pela atriz na 45ª cerimônia do Oscar, em 1973. Escrito por David Rubin, o presidente da Academia, em junho deste ano, o texto reconhece o incidente ocorrido há quase 50 anos e afirma que a opressão sofrida pela artista foi "injustificada".
Acontece que, naquele ano, Marlon Brando conquistou o Oscar de Melhor Ator por seu papel em O Poderoso Chefão, mas recusou o prêmio em protesto à deturpação da imagem dos nativos norte-americanos na indústria cinematográfica. O ator, então, pediu que Sacheen Littlefeather fosse à premiação em seu lugar, para negar o Oscar.
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[Brando] lamentavelmente não pode aceitar este prêmio tão generoso”, afirmou Littlefeather, em sua aparição no Oscar de 1973. “A razão para isso é o atual tratamento dos indígenas norte-americanos pela indústria cinematográfica e na televisão.”
Segundo o NME, aquela era a primeira vez que uma mulher nativa norte-americana subia ao palco da premiação da Academia. Após seu discurso — transmitido para 85 milhões de telespectadores —, no entanto, Sacheen Littlefeather, que é atriz e ativista pelos direitos dos povos originários, foi vaiada pela plateia do Oscar.
Foi assim que, quase 50 anos depois, David Rubin redigiu uma carta de desculpas para a atriz, em retratação do triste episódio vivido por ela naquela noite. “A carga emocional que você viveu e o custo para sua própria carreira em nossa indústria são irreparáveis”, escreveu.
Você fez uma declaração poderosa que continua a nos lembrar da necessidade de respeito e a importância da dignidade humana”, afirmou Rubin. “O abuso que você sofreu por causa dessa declaração foi injustificado. Por muito tempo a coragem que você mostrou não foi reconhecida. Por isso, oferecemos nossas mais profundas desculpas e nossa sincera admiração.”
Littlefeather, então, respondeu ao pedido de desculpas em uma declaração pública. “Nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes – faz apenas 50 anos!”, escreveu a atriz — que, hoje, tem 75 anos. Em seguida, a mulher ainda falou sobre a promessa feita por Rubin de garantir que os contadores de histórias originárias sejam amplamente representados.
Este é um sonho tornado realidade”, escreveu Littlefeather. “É profundamente animador ver o quanto mudou desde que eu não aceitei o Oscar 50 anos atrás.”
Além da carta, a Academia ainda anunciou que irá realizar um evento especial com a presença da própria Sacheen Littlefeather, “um programa muito especial de conversa, reflexão, cura e celebração”. Programado para 17 de setembro de 2022, o encontro será aberto ao público e contará com um programa de artistas, palestrantes e representantes nativos.
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Confira, abaixo, a carta publicada pela Academia na íntegra:
18 de junho de 2022
Cara Sacheen Littlefeather,
Escrevo para você hoje uma carta que vem há muito tempo em nome da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, com humilde reconhecimento de sua experiência no 45º Oscar.
Quando você subiu no palco do Oscar em 1973 para não aceitar o Oscar em nome de Marlon Brando, em reconhecimento à deturpação e maus-tratos dos nativos americanos pela indústria cinematográfica, você fez uma declaração poderosa que continua a nos lembrar da necessidade de respeito e a importância da dignidade humana.
O abuso que você sofreu por causa dessa declaração foi injustificado. A carga emocional que você viveu e o custo para sua própria carreira em nossa indústria são irreparáveis. Por muito tempo a coragem que você mostrou não foi reconhecida. Por isso, oferecemos nossas mais profundas desculpas e nossa sincera admiração.
Não podemos realizar a missão da Academia de "inspirar a imaginação e conectar o mundo através do cinema" sem o compromisso de facilitar a mais ampla representação e inclusão que reflita nossa diversificada população global.
Hoje, quase 50 anos depois, e com a orientação da Aliança Indígena da Academia, estamos firmes em nosso compromisso de garantir que as vozes indígenas – os contadores de histórias originais – sejam contribuintes visíveis e respeitados pela comunidade cinematográfica global. Dedicamo-nos a promover uma indústria mais inclusiva e respeitosa que alavanque um equilíbrio entre arte e ativismo para ser uma força motriz para o progresso.
Esperamos que você receba esta carta com espírito de reconciliação e como reconhecimento de seu papel essencial em nossa jornada como organização. Você está para sempre respeitosamente enraizada em nossa história.
Com calorosas saudações,
David Rubin
Presidente, Academia de Artes e Ciências Cinematográficas
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