Dom chega ao fim com tragédia anunciada, mas pitadas de amor e felicidade (Foto: Divulgação/Laura Campanella) -
ENTREVISTA

Dom chega ao fim com tragédia anunciada, mas pitadas de amor e felicidade

A Rolling Stone Brasil conversou com Gabriel Leone e Flávio Tolezani sobre a 3ª e última temporada da série do Prime Video

Henrique Nascimento (@hc_nascimento) Publicado em 26/05/2024, às 14h00

Na madrugada de 15 de setembro de 2005, Pedro Dom, à época com 25 anos, sucumbiu em um confronto com a polícia e morreu após levar cinco tiros. Quase vinte anos depois, o final trágico se repete em Dom, série baseada na vida de um dos assaltantes de residências mais procurados do Rio de Janeiro, cuja terceira e última temporada acaba de chegar ao catálogo do Prime Video.

Livremente inspirada pela história de Pedro Machado Lomba Neto, filho de um policial que acabou se envolvendo com o crime, Dom nunca pensou em fugir da realidade. Nomes e outros detalhes foram trocados, mas a adaptação da história de Pedro Dom não ganhou floreios para tentar amenizar a tragédia que a envolve.

Ainda assim, de acordo com Gabriel Leone e Flávio Tolezani, que vivem Pedro Dom e o pai dele, Victor Dantas, respectivamente, a série conta uma história trágica, sim, mas com pitadas de felicidade e amor.

"É muito difícil, envolve muita coisa errada, uma relação conturbada entre os dois, mas tem muito amor por trás, então acho que o grande lance é esse. O caminho para chegar à tragédia ainda é recheado de coisas boas, em alguns momentos, e de muito amor", afirmou Tolezani em entrevista à Rolling Stone Brasil. Confira a seguir:

É fácil dizer adeus a esses personagens?

Flávio Tolezani: Não, não é fácil. É claro que chega uma hora que a gente sabe que isso precisa acontecer. Mas é um trabalho muito prazeroso de fazer. É muito tempo dedicado a isso. Quatro anos e meio, a gente estava fazendo as contas aqui, então não é fácil dizer adeus, mesmo. Tem até uma coisa estranha.

Mas a gente também está acostumado a fazer isso. Em todos os nossos trabalhos, em algum momento a gente tem que se despedir. Mas é que tem uma coisa muito específica e especial aqui, esse tempo todo que a gente se envolveu com a equipe, com os colegas, com a história em si, com os personagens. A gente já está nesse processo de se despedir há um ano.

Gabriel Leone: É, tem um lado que é de dar adeus aos personagens, à história, mas também a esse convívio que a gente sabia que ia ter sempre numa próxima temporada, com aquelas pessoas que a gente se apegou tanto, que a gente construiu uma relação tão profunda.

Então, fácil não é, mas ao mesmo tempo tem a beleza de que são relações que a gente fez, laços que a gente criou e que vão seguir e, enfim, que a gente vai se reencontrar lá na frente, seja na vida, seja em trabalhos futuros. Não é fácil, mas ao mesmo tempo tem uma beleza nisso.

Dom é uma série que, além do crime, fala muito sobre relações familiares e, nessa temporada, o Dom se torna pai, mas não consegue estar perto da filha, por conta das escolhas que fez. Como foi dar vida para esse novo Dom?

Gabriel Leone: Tem uma cena nessa última temporada em que o Pedro fala para o pai que o entende. Ele está finalmente conseguindo entender algumas coisas dele. E isso é um clássico dessa relação de pai e filho, de quando os filhos se tornam pais também e começam a recapitular e entender todas as atitudes que os pais tomavam e, quando aconteceu, os filhos não entendiam.

Então o fato do Pedro virar pai pra mim é um divisor de águas. Eu encaro como um Dom antes disso e um Dom depois. Na segunda temporada, a Jasmin diz: "Eu quero o Pedro e não o Dom". Então ele entende que, continuando a ser o Dom, com crimes, drogas, ele não vai conseguir ser o pai, não vai conseguir ser o Pedro.

Eu acho que, mais do que nunca, isso vira o grande objetivo dele, que é conseguir se livrar daquela situação em que ele se meteu para poder viver a vida dele, para poder viver a família dele. É um marco esse primeiro episódio, o nascimento do filho, e isso vai motivar a terceira temporada inteira.

Flávio, nessa temporada o Victor está numa situação que, de certa forma, não é muito diferente daquela que o Dom vive. Ele está doente, mas ele tem um vício, que é o cigarro, e ele não consegue largar. Como foi essa virada para você?

Flávio: É mais um vício mostrado nasérie, que é tão pouco discutido, mas é essa droga que é lícita e muito perigosa. Tem uma cena no começo da primeira temporada, que eu adoro, que o Pedro fala justamente isso para o Victor. Ele está fumando e o Pedro fala: "Larga isso aí, pai, você vai acabar morrendo por isso." É justamente isso. Ele acaba caindo nessa armadilha, ele realmente não consegue largar e acho que o que tira dele é a principal arma que ele tinha, que é a força e a potência.

Ele tinha todo aquele ímpeto, [mas] agora ele não tem ferramenta para agir, justamente pela incapacidade física. Então falta fôlego, de fato, para ir atrás do Pedro. É claro que o Pedro cada vez mais vai se embrenhando naquilo e entrando em um lugar sem saída, e o Victor se torna incapaz porque fisicamente ele está extremamente limitado.

E aí mostra uma coisa que a série fez, ao longo das temporadas, justamente esse paralelo, a vida dos dois. Como eles trilharam, de alguma forma, vidas muito parecidas. A série faz isso de uma forma muito bonita, o roteiro muito bem construído, mostrando justamente toda a construção da personalidade e também o caminho que eles trilharam ao longo da vida, com o vício, um policial e o outro bandido, mas os dois fazendo coisas erradas. O Victor fala: "Meu filho nunca matou ninguém e eu, como policial, já matei" Então, é uma série de coisas que eles fizeram muito próximas, muito paralelas.

Dom toma algumas liberdades criativas em sua adaptação da história de Pedro Dom. Vocês chegaram a considerar um final feliz para a série, ao contrário do que aconteceu na vida real?

Gabriel Leone: Não é uma questão da história do Pedro poder ou não ser feliz, mas eu acho que, por mais que seja uma ficção, sempre foi muito claro como é baseado na vida dele. Então, é claro que a gente tem que respeitar, por mais que internamente todos nós, imagino que o público, em algum nível, torcesse para que ele conseguisse se limpar, enfim, e pagasse pelas coisas que ele fez, mas as coisas acontecessem de forma legal.

Mas acho que nunca teve essa expectativa porque essa é a história, essa é a história que a gente ia contar desde o início e eu acho que, por mais triste que seja, a tragédia dá um peso e embasa todas as escolhas, e tudo o que acontece ao longo das temporadas. Não tinha como ser diferente.

Flávio Tolezani: Eu acho que, por mais que a tragédia seja anunciada, por ser baseado em uma história real, a gente, como personagem, tinha que, sim, ter uma esperança, então como personagens a gente sempre buscou o final feliz. Senão a gente ficaria sem uma motivação para fazer, então óbvio que a gente tinha esperança. E o público se interessa em assistir, mesmo sabendo que, no fim, vai acontecer o que já é sabido.

Mas o público se interessa, justamente por essas construções humanas, as relações entre os personagens. E, dentro disso, dentro dessa tragédia, que vai acontecer no fim, tem pitadas de felicidade no meio, tem pitadas de amor. É uma coisa muito difícil, envolve muita coisa errada, uma relação conturbada entre os dois, mas tem muito amor por trás, então acho que o grande lance é esse. O caminho para chegar à tragédia ainda é recheadp de coisas boas, em alguns momentos, e de muito amor.

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