Carl Franklin e Paris Barclay refletiram sobre acertos de Dahmer – Monster: The Jeffrey Dahmer Story, produção da Netflix que fez sucesso, mas dividiu opiniões
Igor Miranda Publicado em 10/09/2023, às 15h12
Lançada em setembro de 2022, Dahmer – Monster: The Jeffrey Dahmer Story gerou polêmica quase que na mesma proporção em que fez sucesso. A série da Netflix conta a história real do serial killer Jeffrey Dahmer, oferecendo detalhes sórdidos de como ele executava suas vítimas.
Muitas pessoas criticaram a obra por glorificar a violência e a personalidade do assassino, morto em 1994. Familiares de vítimas também direcionaram comentários negativos à produção, seja por reviverem histórias muito dolorosas, seja por sequer pedirem autorização — não era algo juridicamente necessário, mas seria de bom tom.
Mas na visão dos diretores Carl Franklin e Paris Barclay, compartilhada em entrevista à Rolling Stone EUA, o seriado teve seus méritos. Um deles, colocado como prioridade ao produzir a obra, era honrar as pessoas que tiveram suas vidas ceifadas por Dahmer. A começar pela forma como as histórias eram contadas: sob o ponto de vista das vítimas e pessoas que estavam no entorno, nunca do criminoso.
No primeiro episódio da série, “Bad Meat”, a história começa a ser contada de trás para frente, sob a ótica de pessoas que descobriram um dos assassinatos. A ideia era fazer com que o espectador expressasse pouca compaixão pelo criminoso. Franklin observa: “Nós nem vimos o rosto dele até os primeiros minutos do episódio”.
Por sua vez, Barclay aponta que filmes e séries no geral não costumam dar atenção a mortes injustas de pessoas negras, latinas, indígenas e integrantes da comunidade LGBTQIAPN+. Este, em sua visão, foi outro acerto do seriado.
“Esses serial killers estavam sob nossa pele, especialmente como homens negros gays, e sabendo que muitas das vítimas eram homens negros gays. Na época dos crimes, líamos vorazmente sobre isso. Eu basicamente vivia com medo desse tipo de assassino como Jeffrey Dahmer. [...] Quando pessoas negras e pardas são assassinadas violentamente, é notícia de um dia, se é que vira notícia.”
Para exemplificar tal mérito, Paris Barclay mencionou à Rolling Stone EUA o sexto episódio, “Silenced”. A história contada é de Tony Hughes (interpretado por Rodney Burford), um homem surdo que queria se tornar modelo até começar a se relacionar com Jeffrey Dahmer e ser assassinado.
Contudo, antes de chegar à forma como os dois se conheceram, a produção optou por narrar a vida prévia de Hughes, mostrando seus amigos, familiares, objetivos profissionais e elementos de sua personalidade.
“Desde o início, seu nascimento foi uma confusão de sons. Então, descobrimos que ele é surdo. Aí estamos na casa noturna, ouvindo a música do jeito que ele ouve, apenas a batida rítmica enquanto ele dá um tapinha no coração. Estamos trazendo você para o mundo silencioso dele.”
Tecnicamente, os cineastas também quiseram oferecer elementos que impedissem a criação de empatia por Dahmer. A começar pelo apartamento do serial killer, com apenas algas verde-amarelas e peixes sem vida. Não havia qualquer elemento que pudesse gerar vínculo com o assassino em série. Carl Franklin explica:
“Eu queria criar mais um mundo sensorial em vez de apenas um set normal – algo que evocasse um certo aroma — ou fedor, digamos, em vez de aroma.”
Nada disso, porém, anula as críticas feitas contra Dahmer – Monster: The Jeffrey Dahmer Story. Kidiocus King-Carroll, professor de estudos africanos na Universidade de Wisconsin-Milwaukee, foi ouvido pela reportagem da Rolling Stone EUA e reforçou que mesmo ciente do ponto de vista dos diretores, a retratação no formato “glamourizou” os crimes de Jeffrey Dahmer.
“No fim das contas, ainda deixou as pessoas com a pergunta: para quem é isso? [...] Mercantiliza inerentemente os corpos negros e da comunidade LGBTQIAPN+, ao mesmo tempo que é uma história que raramente é contada.”
Paris Barclay diz compreender as críticas. Especialmente as que vieram dos familiares de vítimas de Dahmer.
“Eu entendo como seria impossível para a família assistir e vivenciar isso da mesma forma que o público. Isso traria muita dor.”
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