Quando não está em cima de um skate, Dora Varella se mantém com os dois pés bem fincados no chão
Igor Brunaldi Publicado em 03/08/2021, às 20h47
As meninas dominam o skate brasileiro. Rayssa Leal, de 13 anos, fez a nação vibrar ao receber medalha de prata no skate, categoria street, nas Olimpíadas em Tókio de 2021. Mas, bem antes dela, muitas garotas desbravaram o caminho de rodinhas.
Dora Varella foi uma delas. A skatista, sete anos mais velha que a colega, compete na categoria park do skate. Um sonho antigo: em uma entrevista a Rolling Stone Brasil em 2018, a atleta (então com 16, hoje com 20) comentou sobre a indicação para a competição, as superações de gênero no esporte, entre outras.
Confira o arquivo da edição 141, de maio de 2018:
Se tem algo que o esporte tem provado há muitos anos é que pouca idade não necessariamente é sinônimo de falta de maturidade, postura, responsabilidade e determinação, e Dora Varella, de 16 anos, é mais uma atleta que vem para provar isso: bastam alguns minutos de conversa.
O envolvimento dela com o skate começou aos 10 anos, desde então a jovem coleciona medalhas e troféus de campeonatos realizados no mundo inteiro – foi campeã brasileira de bowl em 2015 e de banks em 2016, três vezes campeã na categoria amador do campeonato Vans Girls Combi Pool Classic e campeã nacional e continental do circuito mundial Vans Park Series.
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Enquanto domina os conceitos da física na prática, para se manter em cima do skate, precisa também dominá-los na teoria, já que paralelamente aos bowls frequenta as aulas de um colégio particular de São Paulo, onde cursa o 2º ano do ensino médio.
Ao contrário de outras histórias que ouvimos por aí, Dora sempre teve o apoio dos pais. Foram eles, inclusive, que deram o primeiro skate da filha, foi presente de Natal, e o próprio pai a levava às pistas para treinar. De ideias muito bem esclarecidas e completamente pé no chão, ela conta que, "apesar de ser uma atleta e precisar seguir uma dieta específica," por exemplo, não deixa de ver o skate como uma diversão. "Não tem por que se esforçar para fazer uma coisa se você não está gostando."
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Ela também se posiciona de maneira firme sobre a polêmica acerca de o skate ter se tornado uma modalidade olímpica: "Sinto que quem é mais das antigas é contra, defendendo que skate não é esporte, é estilo de vida, e não deveria estar ali. Tem gente que quer andar só por diversão, e não tem problema, assim como tem gente que quer ser atleta, e vai se alimentar direito, fazer musculação e se preparar. Eu acho que os Jogos Olímpicos vão ajudar a provar que o skate não precisa ser marginalizado, além de mostrar que não é algo só para meninos."
Dora é uma das presentes na lista de representantes do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020, na modalidade park feminina. Sobre o início da jornada nesse esporte que ainda é predominantemente masculino, ela lembra que nunca se incomodou em ser a única menina no grupo de amigos skatistas, e que nunca sofreu preconceito com isso. "Todo mundo que eu conheci sempre me apoiou."
Atravessando uma idade marcada por indecisões e pressões, Dora se destaca por sua dedicação. "Conforme eu treinava e percebia que ia evoluindo e aprendendo manobras novas, fui ficando fissurada. Queria andar o tempo todo e assistir a vídeos de skate o tempo todo. Vi que estava melhorando, então fui atrás de participar de campeonatos pequenos. Foi assim que percebi que o skate podia ser muito mais que só uma brincadeira na minha vida," diz. "Não dá pra eu parar de andar de skate."
Em um mundo em que muita gente despende bastante esforço para tentar ser algo ou alguém que não é, Dora afirma com tranquilidade que, apesar de admirar muitos e muitas skatistas, não tem necessariamente ídolos.
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Ou melhor, não costuma se espelhar em alguém com o objetivo de alcançar as mesmas vitórias dessa pessoa. "Não quero ser 'como alguém,' busco ver o melhor de cada uma das pessoas que admiro para, assim, seguir meu próprio caminho e ser vitoriosa como eu mesma."
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