RuPaul's Drag Race completa 15 anos como um dos maiores marcos queer na cultura pop (Foto: Divulgação) -
CELEBRAÇÃO

RuPaul's Drag Race completa 15 anos como marco queer na cultura pop

Idealizado e apresentado por RuPaul Charles, o programa nasceu como uma competição de drag queens e se tornou um dos maiores fenômenos da cultura pop

Henrique Nascimento (@hc_nascimento) Publicado em 02/02/2024, às 18h15

Há 15 anos, RuPaul's Drag Race chegava à televisão norte-americana sem saber para onde ir. Livremente inspirado por America's Next Top Model, reality dedicado à procura de novos rostos da moda, a novidade, apresentada pela drag queen, atriz, cantora e supermodelo RuPaul Charles, buscava a próxima Drag Superstar da América em meio a nove corajosas artistas, que nem mesmo sabiam onde estavam se metendo quando aceitaram participar do programa.

Longe do que se tornou hoje, o reality show não estava preparado para a estranheza apresentada por Tammie Brown, que foi eliminada logo no início da competição, e via o estilo de Nina Flowers, uma drag queen roqueira, que explorava a androginia em sua montação, como um grande diferencial. Com ares de Miss Universo, Bebe Zahara Benet bateu as suas concorrentes e se tornou a primeira Drag Superstar em 23 de março de 2009, sem ter ideia do precedente que criava naquele momento.

Bebe Zahara Benet foi a primeira vencedora da história de RuPaul's Drag Race (Foto: Reprodução)

 

Nos anos seguintes, RuPaul's Drag Race se afastou do modelo de America's Next Top Model e construiu uma identidade própria, ganhando tração a partir da quarta temporada, que colocou a competição de drag queens definitivamente no mapa, e consagrando-se com o excelente quinto ano, responsável por reunir alguns dos maiores talentos que já passaram pelo reality até hoje.

Em 2019, quando o programa completava dez anos, RuPaul's Drag Race já havia coroada cerca de quinze vencedoras, incluindo campeãs de RuPaul's Drag Race All Stars, spin-off que dava uma segunda chance a ex-participantes da disputa, e The Switch Drag RaceDrag Race Thailand, primeiras versões internacionais da competição, realizadas no Chile e na Tailândia, respectivamente.

Drag Race Thailand, versão tailandesa de RuPaul's Drag Race, foi um dos primeiros passos na dominação mundial do reality show (Foto: Reprodução)

 

No ano anterior, no entanto, quando RuPaul's Drag Race já estava no auge, Mama Ru, como a apresentadora é carinhosamente chamada pelos fãs do programa, afirmou, em entrevista ao The Guardian, que não via sentido em pessoas que não fossem homens cis, como mulheres cis ou pessoas transgênero, fazendo drag e que elas, provavelmente, não fariam parte do futuro do programa.

Criticada por seu pensamento limitado, RuPaul nunca mais tocou no assunto, mas fez questão de se redimir e mostrar que uma mãe não escolhe os seus filhos. Nos anos seguintes, vimos Angele Anang se tornar a primeira vencedora trans da história do programa; e Jinkx Monsoon, que se identifica como uma pessoa não-binária, tornar-se a primeira participante a ser coroada duas vezes e conquistar o título de Rainha das Rainhas.

Jinkx Monsoon, que se identifica como uma pessoa trans não-binária, foi a primeira participante a conquistar a vitória duas vezes em RuPaul's Drag Race, garantindo o título de Rainha das Rainhas (Foto: Divulgação)

 

Também conhecemos as histórias e talentos de Kylie Sonique Love, vencedora da 6ª temporada de RuPaul's Drag Race All Stars e primeira participante a se revelar trans no programa; de Peppermint, primeira mulher assumidamente trans a entrar no werkroom de Drag Race; de Gottmik, o primeiro homem trans na história do reality show; de Victoria Scone, a primeira mulher cis a competir no programa, e Pandora Nox, a primeira a vencer a competição; de Maddy Morphosis, o primeiro homem heterossexual a se juntar ao reality show; e tantas outras.

Kylie Sonique Love foi a primeira pessoa a se assumir trans em RuPaul's Drag Race; anos depois, ela retornou em RuPaul's Drag Race All Stars e saiu vencedora da competição (Foto: Divulgação)

 

Hoje, no dia em que a franquia completa 15 anos, RuPaul's Drag Race já se espalhou por Reino Unido, Canadá, Austrália, França, Bélgica, Espanha, México, Alemanha e Brasil, entre outros países, introduziu os talentos de centenas de drag queens ao mundo inteiro e coroou mais de cinquenta delas como Drags Superstars.

Além de celebrar o talento de uma infinidade de artistas, a "dominação drag" promovida por Drag Race permitiu difundir e celebrar a diversidade e a cultura da comunidade LGBTQIAPN+, além de possibilitar a existência de um espaço aberto e acessível para discussões pertinentes a pessoas queer, como foi o caso de Hellena Malditta, participante de Drag Race Brasil e uma pessoa que vive com HIV, e as suas declarações sobre métodos de prevenção e a oferta de tratamento gratuito disponível no país, por exemplo.

 

Drag Race pode até ter começado como uma competição para apresentar ao mundo o talento de drag queens - o que continua fazendo muito bem até hoje, vale dizer -, e realmente há quem ainda veja o programa apenas como uma rinha de transformistas para o nosso entretenimento, mas a verdade é que ele cresceu além das limitações de um reality show para se tornar uma comunidade à parte, pautada nos ensinamentos de Mama Ru sobre amor próprio, autoconfiança e apoio mútuo.

Se não fosse a capacidade de contar histórias, sejam as mais difíceis ou as mais bonitas, embora sempre relacionáveis, RuPaul's Drag Race talvez não tivesse sobrevivido além da falta de preparo e daquele filtro tenebroso de sua primeira temporada. Mas o reality show não só sobreviveu, como se tornou um dos maiores marcos queer na cultura pop, para a nossa felicidade, então nós só temos a celebrar e torcer por muitos mais anos de Drag Race. Como RuPaul sempre diz, ao final de cada episódio: "Posso ouvir um amém?" Amém!

 

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