Considerada uma das melhores séries de TV da história, a produção da HBO estreou em janeiro de 1999 e foi exibida em seis temporadas
Henrique Nascimento (@hc_nascimento) Publicado em 10/01/2024, às 17h00
Há exatos 25 anos, em 10 de janeiro de 1999, Família Soprano estreava para mudar as noites de domingo da HBO. Sem saber, a série iniciava a Era de Ouro das séries de TV e duraria por seis temporadas, recebendo 21 prêmios Emmy e cinco Globos de Ouro ao longo de oito anos, até ser encerrada em 10 de junho de 2007.
A série, produzida e exibida pela HBO, fez sucesso ao misturar uma trama elaborada e linguagem cinematográfica em uma história estrelada por um anti-herói, o mafioso Tony Soprano, vivido por James Gandolfini (1961-2013), que acabou conquistando o público ao dividir a sua vida entre o trabalho no mundo do crime e os compromissos com a família.
O sucesso de Família Soprano surpreendeu até o criador da série, David Chase: "Não tínhamos ideia de que essa série iria atrair o público. A produção foi um estrondo inesperado e atingiu a todos", confessou à Rolling Stone EUA. Para celebrar os 25 anos da série, a Rolling Stone Brasil foi atrás de alguns segredos dos bastidores de Família Soprano, que nós listamos a seguir:
Em entrevista ao podcast Inside of You, em outubro de 2023, a atriz Jamie-Lynn Sigler, que interpretou Meadow, filha de Tony Soprano, revelou que James Gandolfini costumava questionar o próprio trabalho na série:
"Não tinha nada a ver com a confiança dele. Ele se questionava. Havia momentos em que ele dizia: 'Eu sou péssimo pra cara***!' Mas eu gostava disso, porque eu tinha esses pensamentos, mas eu não os dizia em voz alta, porque eu não queria que ninguém soubesse que eu me achava péssima. E ele era confiante o suficiente para dizer isso em voz alta", contou.
Segundo a atriz, essa era uma forma encontrada por Gandolfini para ajudar a elevar a autoestima de seus colegas de trabalho, especialmente os mais novatos, como era o caso de Sigler, mostrando que também tinha dúvidas sobre a sua atuação: "Eu acredito que havia confiança nisso, mas eu acho que isso era mais uma forma profunda de cuidado. Um cuidado muito, muito profundo. Ele era um ser humano excepcional", acrescentou.
Prestes a voltar aos cinemas em Joker: Folie à Deux, previsto para estrear em outubro deste ano, Lady Gaga começou a sua carreira de atriz antes mesmo de deslanchar como cantora, em uma pequena participação na 3ª temporada de Família Soprano.
Porém, ela não gosta nem se de lembrar do trabalho: "Quando revejo essa cena hoje em dia, sei exatamente onde errei. Eu não sabia ouvir! Tinha que rir em um certo momento, então ficava esperando a minha deixa e ria... Mas hoje vejo e penso: 'Isso não é nem uma risada de verdade!'", relembrou em entrevista ao Entertainment Weekly, em 2021.
"Em Família Soprano, eu vejo uma atriz muito pouco específica. Hoje, acho que tento ser específica com minhas personagens, mas sem deixar o esforço transparecer, o que dá muito trabalho", completou a artista, que já chegou a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu trabalho em Nasce Uma Estrela, de 2018.
O livro Tinderbox: HBO’s Ruthless Pursuit of New Frontiers, do escritor James Andrew Miller, revelou que James Gandolfini se irritou ao ler o roteiro de um episódio de Família Soprano com uma cena em que o seu personagem teria que se masturbar dentro do banheiro de um posto de gasolina. Mesmo contrariado, o ator chegou a gravar a cena, mas ela foi excluída da versão final do episódio.
Criador, escritor e narrador de Todo Mundo Odeia o Chris (2005-2009), Chris Rock estava no auge durante as temporadas finais de Família Soprano e chegou a ser convidado para integrar o elenco da produção, mas recusou por medo de "estragar" a série: "Às vezes, você respeita tanto algo, que não quer fazer parte daquilo", explicou em entrevista ao The Hollywood Reporter.
Ao contrário de Chris Rock, Alec Baldwin queria muito participar de Família Soprano e chegou a ligar para a produção da série para sugerir o seu nome como assassino de Tony Soprano: "Liguei e disse: 'Só existe um homem na área do entretenimento que deveria chegar, espancar [Tony], e ir embora com [Carmela, esposa de Tony], e eu sou este homem'", relembrou o ator.
Porém, ainda de acordo com Baldwin, a produção não ligou muito para a sugestão e respondeu algo como: "Sim, claro. Adicionaremos seu nome à lista de todos os atores irlandeses com desejo de entrar em Família Soprano", disse.
Braço direito de Tony Soprano, Silvio Dante, vivido por Steven Van Zandt, foi inspirado na amizade do ator com o cantor Bruce Springsteen. Em entrevista ao The Times, Van Zandt revelou que o seu personagem era responsável por falar algumas verdades difíceis a Tony, assim como ele fazia com Springsteen:
“Certamente me baseei em meu relacionamento com Bruce. Parte da obrigação de ser o melhor amigo é que, às vezes,você tem que trazer más notícias, expressar uma opinião que eles não vão gostar", explicou Van Zandt.
"Com o sucesso de Bruce nos anos 1980, você não poderia deixá-lo perder a perspectiva. Você começa a pensar que é um gênio, a melhor coisa do mundo, e quem vai discutir com você? Eu era o único cara que não tinha medo de Bruce, então pude dizer a ele o que pensava", ainda disse o ator.
Apesar de Tony Soprano ser um fã da banda Journey em Família Soprano, James Gandolfini, na verdade, admirava o Green Day. Segundo o ex-colega de elenco do ator, Michael Imperioli, o ator ficou obcecado pelo álbum "Dookie", lançado em 1994, durante as gravações da série.
"Ele tocava o vinil de 'Dookie' no trailer dele enquanto trabalhávamos. Totalmente sério. Não é brincadeira. Ele amava o Green Day", revelou o ator. Ele ainda disse que Gandolfini adorava cantar "Basket Case", um dos maiores sucessos da banda, e inventava as suas próprias músicas:
"[Ele] fazia as próprias letras sobre a HBO, os escritores e produtores de Família Soprano. Normalmente quando ele estava se sentindo sobrecarregado e exposto demais, e as suas letras refletiam isso. Alguns membros mais musicais da equipe acrescentavam um ou dois versos. Era muito divertido", acrescentou Imperioli.
Em entrevista ao podcast Gangster Goddess Broad-cast, de Drea de Matteo, uma das estrelas de Família Soprano, a atriz Lorraine Bracco, que viveu a dra. Jennifer Melfi na produção, relembrou um episódio nos bastidores da série em que os atores pregaram uma peça em James Gandolfini com uma máquina de peidos:
"Eu disse ao Jimmy: 'Olha, não estou me sentindo muito bem. Não sei o que comi, mas estou suando'. Organizei tudo. (...) Então, com a ajuda do Marchetti [responsável pelo figurino], eu apertava a barriga e ele apertava o botão [da máquina]", relembrou.
Desconfiado de que era vítima de uma pegadinha, o ator chegou a procurar por uma almofada de pum, usada para esse tipo de pegadinha, mas não encontrou nada, já que o dispositivo havia sido instalado embaixo da cadeira de Bracco.
Em entrevista ao podcast Talking Sopranos, os atores Michael Imperioli e Steve Schirripa revelaram que, após a saída de Steve Carell de The Office (2005-2013), a produção da sitcom queria colocar o intérprete de Tony Soprano como o novo chefe da Dunder Mifflin, mas a HBO pagou para que ele não fizesse a série, mesmo que Família Soprano já tivesse acabado há alguns anos.
“Acho que antes de James Spader [que entrou como o novo chefe da empresa] e depois de Carell, eles ofereceram 4 milhões de dólares a James para atuar na temporada e a HBO pagou a ele 3 milhões para que ele não fizesse isso", explicou Schirripa, sem revelar qual foi a motivação da emissora.
Família Soprano tem um dos finais mais misteriosos da história das séries de TV. Nos últimos minutos da produção, Tony Soprano e a esposa, Carmela (Edie Falco), estão procurando o que comer em uma lanchonete de Jersey quando um cliente misterioso entra e, então, a tela fica preta.
Muitos acreditam que, naquele momento, o homem acabou matando o mafioso, mas isso nunca foi totalmente esclarecido até alguns anos depois, quando o criador da série, David Chase, afirmou que, sim, Família Soprano termina com a morte de Tony Soprano.
Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Chase revelou que a sua ideia nunca foi fazer um final misterioso, mas algo mais explícito: "Havia uma cena em que Tony voltava de uma reunião em Nova York no carro dele. No início de cada temporada, ele ia de Nova York para Nova Jersey, e a última cena seria ele indo de Nova Jersey para Nova York, em uma reunião em que seria morto", contou ao The Hollywood Reporter.
Porém, o final que foi ao ar acabou surgindo do nada, quando Chase acabou parando em uma lanchonete durante uma viagem, e ele achou que o tom misterioso seria bem mais interessante, além da adição da trilha de "Don't Stop Believin'", do Journey.
"Era tipo uma cabana que servia café da manhã. Por algum motivo, pensei: "Tony deveria parar para comer em um lugar como aquele. Por quê? Não sei. Isso foi cerca de dois anos antes [do final ser exibido]", explicou.
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