Série da AppleTV+ chegou ao fim nesta quarta-feira (31), após temporada controversa; aqui, três acertos e três enganos do último ano
Eduardo do Valle (@duduvalle) Publicado em 31/05/2023, às 17h19
Alerta: o texto abaixo contém spoilers da 3ª temporada de Ted Lasso.
Ted Lasso chegou ao fim nesta quarta-feira (31). A série, que estreou em 2020, rapidamente tornou-se um dos principais nomes do catálogo da AppleTV+, com uma trajetória de sucessos, arrebatando mais de 10 Emmys em suas duas primeiras temporadas, incluindo o de Melhor Série de Comédia por dois anos consecutivos.
E aí... bem, aí veio a terceira temporada. E, com ela, o que parecia uma fórmula infalível de comédia, otimismo e futebol, tornou-se uma sombra de seu próprio passado. Nos 12 episódios do terceiro ano, que estreou no último dia 15 de março, Ted Lasso falhou em convencer fãs e críticas de que teria fôlego para alguns episódios a mais, sequer.
Para o USA Today, o ano final era um 'colapso diante de nossos olhos'. O The Guardian classificou a temporada de 'ultimamente sofrível'. E o Slate relatou como fãs promoveram uma "guerra civil" debatendo a qualidade da série na reta final.
É para entender melhor o controverso último ano da série, que olhamos não apenas para os equívocos da temporada final, mas também para seus acertos - seguindo o conselho do próprio Ted Lasso (Jason Sudeikis), que em certo episódio, declara: "Espero que todo mundo não seja julgado por seus momentos de fraqueza, mas sim pelo força que demonstra quando dada uma chance". Abaixo, a lista:
Com um elenco de dimensões futebolísticas, Ted Lasso chegou à terceira e última temporada com a dura missão de amarrar os destinos de pelo menos duas dezenas de personagens principais. No entanto, o terceiro ano da série ganhou ainda novos rostos e tramas que, a essa altura, acabaram desviando a série de seus arcos principais.
Assim, tramas que careciam de desenvolvimento, como o conflito de Colin Hughes (Billy Harris) com sua própria sexualidade, a evolução de Jamie Tartt (Phil Dunster) e até mesmo o romance mal resolvido entre Ted Lasso (Jason Sudeikis) e Flo 'Sassy' Collins (Ellie Taylor) acabam sendo menos abordadas em prol de arcos derivativos, como o de Shandy (Ambreen Razia), Jack (Jodi Balfour), Barbara (Katy Wix) e mesmo o de Zava (Maximiliam Osinski). A exceção? A aparição surpresa do técnico Pep Guardiola, no penúltimo episódio.
Um golaço da última temporada de Ted Lasso foi a forma como a série abordou o drama de Colin Hughes (Billy Harris), atacante do Richmond FC, que lida com o peso de ser homossexual na cultura machista do futebol - e especificamente do futebol europeu.
Ainda que abordada superficialmente, a história de Hughes foi, em termos de roteiro, uma boa forma de aproveitar personagens existentes para novos propósitos. Mais que isso, ela acabaria espelhando com infeliz semelhança outro caso real de intolerância, o experimentado por Vini Jr. na partida do Real Madrid contra o Valencia, em 21 de maio, pela La Liga. Exibido 11 dias antes do caso real do jogador brasileiro, o episódio de Ted Lasso também narrou um atleta sob o prisma de ataques preconceituosos da torcida e também ilustrou a reação dura, mas exemplar, do elenco do time fictício do Richmond à intolerância. Uma coincidência para lá de infortuna, mas tão contemporânea quanto possível para o enredo de Ted Lasso.
Ao longo das primeiras duas temporadas de Ted Lasso, Nate (Nick Mohammed) teve um dos melhores desenvolvimentos da série, indo de roupeiro tímido a antagonista principal, treinador do time rival do Richmond, o West Ham. Na terceira temporada, entretanto, Nate assume um contorno vilanesco, quase unilateral.
Isso pouco tem a ver com a atuação de Mohammed, que faz muito com pouco, especialmente nos últimos três episódios da season finale. Em entrevista ao The AV Club, o ator confirmou os vários conflitos que sua atuação de Nate buscou explorar. No entanto, o corte final da série acabou fazendo um desserviço ao personagem, com uma trama excessivamente focada em seu romance morno com Jade (Edyta Budnik), e pouco dedicada à evolução que o leva, ultimamente, de volta às fileiras do Richmond F.C.
Ainda que Keeley (June Temple) tenha sido uma das representações mais prejudicadas da terceira temporada de Ted Lasso - com uma trama que parecia essencialmente destacada da história central -, os episódios finais conseguem retomar sua importância para o enredo ao retomar sua dinâmica com Jamie Tartt (Phil Dunster) e Roy Kent (Brett Goldstein).
É um fato que a personagem não precisa da trama do triângulo amoroso para funcionar bem na série, como provam suas participações em arcos anteriores, como a conquista do patrocínio para o Richmond F.C. e sua divertida amizade com Rebecca (Hannah Waddington). No entanto, é um alívio ver Keeley reintegrada ao restante do elenco da série, nas figuras dos dois jogadores, após uma série de episódios em que sua participação parecia restrita a um espaço e a tramas que pouco, ou em nada, contribuíam para o resultado final de Ted Lasso.
Diferente dos dois primeiros anos da série, a terceira temporada de Ted Lasso experimentou uma série de atrasos na entrega de roteiros e problemas de produção. Em parte, as questões ocorreram por desavenças entre os executivos da AppleTV+, que licencia a série, os da Warner, que a detém e a produz o programa, e o showrunner e criador da história, Jason Sudeikis - o próprio ator de Ted Lasso.
O sucesso sem precedente das duas temporadas anteriores acabou por aumentar entre 20% e 30% o orçamento, já alto, do terceiro ano da série. Da mesma forma, causou idas e vindas sobre o possível futuro da produção, o que colocou executivos em linha de frente e causou múltiplos atrasos nas entregas de roteiros e das gravações em si. Para especialistas (via Puck), esse pode ter sido o principal motivo de um enredo para lá de derivativo e pouco assertivo, justamente no ano final da série.
Ok, a terceira temporada de Ted Lasso pode ser sido a mais controversa e derivativa da série. Entretanto, em seu respiro final, a trama consegue voltar às raízes despretensiosas que fizeram dela o sucesso arrebatador em anos anteriores.
Para começar, há o retorno de grande parte do extenso elenco. Tramas como a de Roy como um atleta emocionalmente inacessível, e de Jamie, como um astro 'fominha' são resolvidas. Nate aparece redimido, deixando espaço para o único vilão da série, Rupert (Anthony Head). O humor leve de personagens como Danny Rojas (Cristo Fernández) e do técnico Beard (Brendan Hunt) está lá, ao mesmo tempo que os diálogos emocionados entre Rebecca e Ted - que se consolidam como um bom retrato de amizade platônica da TV.
Sem fechar portas para o futuro, a série termina na hora certa, antes de esgotar-se completamente, e com um tom positivo, que foi o legado de Ted Lasso para o entretenimento desde sua estreia, em 2020.
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