Kiko Dinucci
Gabriel Nunes Publicado em 16/03/2017, às 16h52 - Atualizado em 27/03/2017, às 18h20
Criado em Guarulhos, município de São Paulo, Kiko Dinucci é associado ao coletivo musical conhecido como “Clube da Encruza”, formado por Juçara Marçal, Rodrigo Campos, Rômulo Fróes e Thiago França, entre outros músicos. Além disso, teve um papel substancial em A Mulher do Fim do Mundo (2015), de Elza Soares, e Nó na Orelha (2011), de Criolo. Também está na linha de frente do Metá Metá, banda que integra ao lado de Juçara e França. No trio, criou uma assinatura sonora bastante específica na guitarra, unindo a dissonância densa e arredia do noise rock a sons do candomblé.
Em 2009, Dinucci lançou Na Boca dos Outros, um disco com canções compostas por ele, mas interpretadas nas vozes dos parceiros que sempre o cercaram. Até a chegada de Cortes Curtos, o músico não havia se aventurado em arquitetar um álbum calcado na própria voz – que ora se prolonga macia como um sussurro, ora se ergue como um grito seco e áspero. Gravado em 2015, mas só revelado agora, o primeiro disco solo de Dinucci desfila 15 crônicas mordazes sobre uma São Paulo apática e repleta de contradições. O trabalho trafega entre o sóbrio e o burlesco, o brusco e o sutil, e mostra o músico se despindo do lirismo hermético dos outros projetos dos quais faz parte.
Com o olho treinado para os detalhes, Kiko Dinucci narra causos rápidos sobre a caótica pauliceia desvairada, que revelam, nas entrelinhas, o absurdo de uma existência sem sentido. Essa temática niilista surge na figura do suicida da canção “Vazio da Morte”. Já em “Uma Hora da Manhã”, ele encarna um voyeur e relata uma briga exaltada entre uma homofóbica e um xenófobo em um supermercado na avenida Brigadeiro Luís Antônio.
O trabalho ganha força nas colaborações de Tulipa Ruiz, Suzana Salles e Ná Ozzetti (Rumo), além da colega Juçara Marçal. Ao entrelaçar seu canto por vezes desafinado às vozes dessas artistas, o paulistano cria uma terceira margem sonora entre o esdrúxulo e o sublime enquanto acena à Vanguarda Paulista e aos trabalhos de Itamar Assumpção junto da banda Isca de Polícia. Ao encerrar Cortes Curtos com a faixa “A Gente Se Fode Bem pra Caramba”, o compositor abraça sua veia mais espontânea, como se ressoasse inconscientemente palavras ditas pela poetisa polonesa Wis?awa Szymborska em 1973: “Sempre encaro a seriedade excessiva como algo meio ridículo”.
Fonte: Independente
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