Tape e Scandurra
Lucas Brêda Publicado em 15/01/2016, às 16h38 - Atualizado em 23/06/2016, às 13h53
Edgard Scandurra não é “apenas” guitarrista do Ira! Durante sua variada carreira, o músico tocou em discos de Lobão, Nenhum de Nós, Ultraje a Rigor e Arnaldo Antunes, entre muitos outros. Ele se tornou uma entidade da guitarra no Brasil, e seu toque pessoal e inconfundível também é requisitado por representantes da geração de artistas independentes que surgiu nos últimos tempos.
Um dos grupos que Scandurra integrou nos anos 1980 foi As Mercenárias, para o qual tocou bateria. Curiosamente, o guitarrista volta a se conectar com a banda punk ao promover uma parceria com uma das atuais integrantes, a cantora Silvia Tape. Juntos, eles formam o duo Tape e Scandurra e lançam Est, conjunto de dez faixas permeadas por uma estética lo-fi e influenciado pelo dream pop norte-americano dos anos 1990. Scandurra explora uma vertente até então oculta em sua obra: o marasmo e a calmaria de guitarras etéreas, letras lúdicas e poucas camadas sonoras. O disco surgiu de algumas gravações caseiras feitas pelo instrumentista durante uma temporada na praia. Silvia se encaixou no projeto com parte das letras e cantando ora de maneira doce e sussurrada, como Victoria Legrand no Beach House (“Eu Acho Que Posso Esperar”), ora usando tom grave, como Nico no Velvet Undergroud (“Hoje o Tempo”).
Est cresce com produção despretensiosa e texturas artesanais. Scandurra surge contando até 3 antes de “Bolas de Sabão”, deixando clara a abordagem caseira e propositadamente calcada nas imperfeições. Ele abusa de ruídos e efeitos de gravações de trás para a frente; deixa soar o deslizar dos dedos sobre as cordas do violão em “Concha”. Mas as faixas não têm apenas sujeira e experimentos. O álbum soa refinado nas batidas eletrônicas de “A Sua Intuição” e na parede de guitarras de “Asas Irreais” (ponto alto da obra), chegando a lembrar remotamente o Ira! em “Num Instante Qualquer” (interpretada por Scandurra, que raramente se aventura a soltar a voz).
Est é um desvio de consciência, um momento de fuga, de tranquilidade e de delírio na carreira de Scandurra. Em uma época em que a lisergia ganha evidência na produção brasileira (do Boogarins ao Cidadão Instigado), o guitarrista escolhe outro caminho, conseguindo surpreender e renovar o som de seu instrumento ao lado de uma parceira bastante sensível. Scandurra mostra que pode soar interessante até dentro de um cômodo praiano, com equipamento escasso, mas com inspiração de sobra.
Fonte: 180 Selo Fonográfico
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