Lobão

Redação

Publicado em 04/02/2011, às 15h21 - Atualizado às 15h21
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- Divulgação

Lobão

81-91

Sony Music

Caixa abrange os melhores momentos do artista que jamais se conformou em ser bom moço

Lobão é figura onipresente na mídia. Esteve na MTV semanalmente em 2010 e acabou de lançar sua autobiografia, 50 Anos a Mil. É fácil ter uma imagem atual dele, mas há quem não saiba (ou não se lembre) o que ele realizou musicalmente antes de se tornar uma polêmica personalidade pública. Sua carreira começou no meio da década de 1970, como baterista da banda Vímana, ao lado de Ritchie e Lulu Santos. Com o fim da banda, cofundou a Blitz com Evandro Mesquita, no início da década de 1980. Hoje, por circunstâncias do acaso, é mais conhecido como o falastrão da TV do que como o compositor pop maldito que em certo momento da sua carreira tocou no Rock in Rio II e chamou a bateria da Estação Primeira de Mangueira para acompanhá-lo. Mas esse mesmo Lobão, de 1980 a 1990, criou punhados de hits. E teve “Vida Louca Vida” eternizada na voz de Cazuza. O pacote Lobão 81-91, composto por três CDs com 41 músicas, remasterizadas dos discos originais (Cena de Cinema, 1982; Ronaldo foi pra Guerra, 1984; O Rock Errou, 1986; Vida Bandida, 1987; Cuidado, 1988; Sob o Sol de Parador, 1989 e O Inferno é Fogo, 1991), quer mostrar justamente a faceta esquecida do músico que sempre se mostrou como um cara que fazia rock e levava essa atitude para a vida. O primeiro traz “Cena de Cinema”, do disco de mesmo nome, de 1982, e mostra ainda um rock, mais para iê-iê-iê, só que com guitarras mais sujas. Destaca-se também “Corações Psicodélicos”, do único disco que Lobão fez com a banda Lobão e os Ronaldos. E também foi nesse disco que registrou seu maior sucesso radiofônico, “Me Chama”, gravadaaté pelo exigente João Gilberto. Da geração dos anos 80, Lobão demonstrou ser o que mais cultivou o espírito e a perfomance roqueiros, aderindo às guitarras sujas e se dizendo “nem aí” para a coisa asséptica. E é interessante destacar que as suas músicas tocavam nas rádios e iam para a TV.Lógico que só queriam que ele tocasse “Me Chama”, mas a performance distoante de Lobão estava lá. “O Rock Errou” (1986) é uma autocrítica e trata justamente disso: ser roqueiro num país sem a tradição de rock. Segue-se “Revanche” e a largamente executada “Vida Bandida”, do disco de 1986, que Lobão produziu quando enfrentou problemas com a Lei e esteve preso, além da já citada “Vida Louca Vida”. Enuma aproximação com a MPB tradicional, que parece gozação, mas não é, a faixa “A Deusa do Amor” traz uma performance com Nelson Gonçalves, que revela um embate de Lobão no meio roqueiro. O segundo CD abre com “O Eleito”, de 1988, que lembra uma crítica ao que estaria por vir, a era Collor. “Cuidado” é um quase funk que tem a participação de Ivo Meirelles e bateria de escola de samba. Outra curiosidade é “O Inferno É Fogo”, que traz novamente a participação de Nelson Gonçalves, gritando: “o inferno é fogo, meu filho e de lá ninguém sai, ô rapaz”. Em “Matou a Família e Foi ao Cinema”, uma cuícachora no início e no fim da gravação. “Presidente Mauricinho” é explicitamente sobre Fernando Collor, cuspida e escarrada. No embate descrito em “Bangu 1 x Polícia 0”, não há vencedores no sistema carcerário. No disco 3, Lobão reuniu suas 13 músicas menos conhecidas dessa fase. Nenhuma delas foi sucesso radiofônico, mas se destacam “Pobre Deus” e “Girassóis da Noite”. Completa o pack o DVD Acústico MTV, exibido em 2007, uma superprodução bem cuidada. É uma oportunidade de rever a performance ao vivo de Lobão e banda em 21 músicas de seu variado e extenso catálogo e se divertircom as histórias nada comportadas com que ele introduz cada faixa. E serve para compreender porque Lobão sempre andou na contramão, não assumindo jamais o bom mocismo.

ANTÔNIO DO AMARAL ROCHA

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