Lulu Santos
Carlos Eduardo Lima
Publicado em 07/06/2013, às 16h29 - Atualizado às 16h33Cantor recria em estúdio show de sucesso, e o resultado final se revela apenas mediano
Lulu Santos sempre conseguiu aliar a aura de hitmaker a uma certa inquietação estética. Olhando para trás, diante destes seus mais de 30 anos de carreira, o constante desejo por mudança no trabalho foi perdendo um pouco da importância, pelo menos para o grande público. Poucos se lembram de Popsambalanço e Outras Levadas (1989), no qual Lulu flertava com um groove à la Jorge Ben Jor. A guinada em direção à pista de dança, iniciada em 1994 com Assim Caminha a Humanidade e ampliada no ano seguinte, rumo ao funk carioca, com Eu e Memê, Memê e Eu, também foi assimilada pelo tempo e pelo senso comum, sempre com destaque para a inegável habilidade dele em compor canções pop.
Apesar de uma lenta e permanente decadência a partir de meados dos anos 90, Lulu ainda deu sinais de relevância em canções isoladas, como “Aviso aos Navegantes”, “Aquilo” ou “Sábado à Noite”, além de seguir seu bom senso de oportunidade, usando e abusando das produções com o selo MTV, sobretudo o Acústico (2000), que o recolocou no mapa do sucesso. Pouco depois, a retomada da parceria com o DJ Memê, em 2003, deu vida a Bugalu, último bom disco do cantor, e acrescentou mais uma canção bacana ao currículo dele: “Já É”. Entremeando disco ao vivo, segundo volume do Acústico MTV, com trabalhos menos inspirados, Lulu demonstrava sinais de cansaço criativo evidentes. Mesmo assim, o público fiel lotava seus shows pelo país, principalmente para ouvir os constantes hits, demonstrando interesse bem menor pelos discos mais recentes.
Hoje, Lulu tem a preciosa participação no programa The Voice, da Rede Globo, que lhe conferiu uma espécie de reinvenção. Ele continua cheio de opiniões e pontos de vista, mas afrouxou seus nós ideológicos e, aos 60 anos, resolveu aproveitar o êxito dessa exposição e se esbaldar. Desde o ano passado ele roda o país com um show de canções da dupla Roberto e Erasmo Carlos, motivo para o lançamento deste novo disco. Ainda é um movimento de inquietação artística, mas com resultado aquém do esperado. Lulu já fez versões bem melhores do repertório do Rei, como “O Calhambeque”, em 1984, e “Se Você Pensa”, em 1995, que ressurge com um arranjo esbarrando em uma levada jazz com metais. Outros momentos decepcionantes vêm em “Você Não Serve pra Mim”, que inicia com um batidão de funk desacelerado para desaguar em um dueto desigual com o baixista Jorge Ailton. Além dele, Lulu abre as portas para Késia Estácio, “aluna” dele no The Voice.
O grande problema deste disco, além de a voz de Lulu apresentar desgaste, é a necessidade aparente de não respeitar estruturas originais das canções, causando sérios danos a “Como É Grande o Meu Amor por Você” e “Eu Te Darei o Céu”, vertida em um reggae sem sal. Os acertos existem em número reduzido, sobretudo na pegada rocker conferida a “Festa de Arromba” e no blues procedimental de “Sou uma Criança, Não Entendo Nada”. O final com “Emoções” segue o arranjo original e dá para ver Lulu jogando rosas para uma plateia de fãs na tela da TV. Das duas, uma: ou Lulu se saiu bem no disfarce de um esgotamento criativo, ou esse é o seu atual objetivo como artista pop nacional.
Fonte: Sony