Mixturada Brasileira Vol. 01

Carlinhos Brown

Mauro Ferreira

Publicado em 14/02/2013, às 12h34 - Atualizado às 12h39
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Fusão da percussão do tribalista com programações do DJ Deeplick põe baticum carnavalizante na pista

Aos 50 anos, o controvertido Carlinhos Brown põe seu bloco na rua com visibilidade adicional obtida no posto de jurado do programa The Voice Brasil, sucesso da global em 2012. Mas o batuqueiro baiano já está na pista da globalização desde 1979, ano em que se lançou nas águas roqueiras do grupo Mar Revolto, uma década antes de Caetano Veloso dar voz à sua composição “Meia-Lua Inteira”, hit radiofônico do álbum Estrangeiro (1989). O caráter globalizado do som percussivo de Brown é acentuado atualmente pela interação de seus tambores com as programações eletrônicas do DJ paulista Fernando Deeplick. A fusão é o mote de Mixturada Brasileira, CD arquitetado para o exterior que ganha edição nacional na temporada pré-carnavalesca de 2013.

Movido por seu espírito gregário, Brown mistura idiomas musicais em repertório poliglota e recebe convidados, como o porto-riquenho Tego Calderón. Ídolo do reggaeton, Calderón reforça o discurso social de “Desparate”, parceria sua com o colega baiano. Na faixa, Brown reanima o espírito de Carlito Marrón – o heterônimo que criou para incursões no mercado musical de língua hispânica – e pede paz, justiça e amor para as crianças nos versos em espanhol. A postura musical e humanista do verborrágico Brown já lhe tornou o alvo preferencial de tribos menos sensíveis ao seu baticum miscigenado. Com a mesma fúria com que os metaleiros lhe dirigiram garrafas e vaias no Rock in Rio 2001, seus desafetos bombardeiam suas letras repletas de trocadilhos e vocábulos afro-baianos que constituem o idioma próprio deste percussionista, cantor e produtor criado no Candeal, cenário de riqueza musical e pobreza social, instaurado fora da visão dos cartõespostais da capital da Bahia. Para tais desafetos do criador da Timbalada, a pregação ambientalista de “Mixturação”, feita com a estrela do axé Ivete Sangalo, pode ser prato cheio de lixo e motivos para ataques ao artista.

O disco também rebobina “Página Futuro”, faixa obscura dos Tribalistas, com as programações de Deeplick, DJ de house e electro. Na tentativa de soar “contemporâneo” pela fusão do som orgânico tribal com as batidas sintéticas de Deeplick, Mixturada Brasileira reforça o peso da percussão de Brown, capaz de incendiar a pista por si só. Música lançada nos Estados Unidos em 1992 pelo também internacional Sergio Mendes, “Magalenha” roça o ponto ideal de fervura. Já “Baile do Amor – Chuá” destila romantismo em clima lounge. A música é uma das sete inéditas autorais do disco, misturadas com outras sete músicas já previamente gravadas pelo tribalista. Entra no cardápio até um sucesso da banda Chiclete com Banana nos anos 80, “Selva Branca”, parceria de Brown com Vevé Calazans.

Da safra de novidades, “Lá Vem Ela” faria bonito numa rave de trance pela repetição do verso que dá título ao tema, turbinado com a percussão da Orquestra Pracatum, integrada por jovens formados na escola de música fundada por Brown em Salvador. Em tom mais pop, “Fofoqueira” vai atrás do trio elétrico falando mal de quem vive de disse-me-disse. Sim, a globalizada rave de Brown com Deeplick é popular e traz felicidade.

Fonte: Sony Music

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