Capital Inicial
José Julio do Espirito Santo
Publicado em 11/01/2013, às 16h08 - Atualizado às 16h14Novo trabalho marca três décadas de carreira sem sugerir mudanças
Aaturno leva 10.579 dias para completar a órbita em torno do Sol. É fato. E diz a astrologia que o fi m do ciclo é um período de grandes mudanças. Quem crê na influência dos corpos celestes nas atitudes humanas pode tentar explicar as mudanças no Capital Inicial, banda que completa 30 anos de existência. O planeta mais cool do sistema solar empresta o nome para o novo álbum do quarteto, que marca a data de um modo sutil, sem tanta celebração e quase nenhuma mirabolância. Em essência, a banda de Brasília se manteve a mesma por todos estes anos. Do pós-punk criado do rescaldo de faixas do Aborto Elétrico, passando pelo pop-rock da era de ouro da MTV Brasil e chegando ao hard rock polido do momento atual, o Capital Inicial foi a banda mais aplicada do rock nacional, decorando todas as lições da cartilha de sucesso e compensando, com afinco e zilhares de shows, a falta de genialidade.
Saturno é o 130 álbum de estúdio e a mais nova prova da constância do grupo. Mais uma vez, o Capital Inicial conta com David Corcos na produção. Em 2010, o francês havia trabalhado com a banda em Das Kapital, o álbum anterior, que marcou a feliz volta de Dinho Ouro Preto aos palcos após cair de um deles e fraturar a cabeça em pleno show. Temas que remetem ao acidente já não são lembrados no novo trabalho, mas a pegada é a mesma de sempre, pontuando o lado mais comportado do hard rock com baladas melancólicas. E, como em toda obra do Capital Inicial, referências cinematográficas nem sempre coerentes, pipocam soltas aqui e ali. “O Bem, o Mal e o Indiferente”, título que remete ao clássico do bangue-bangue italiano, abre o disco como um estudo ao piano. Logo cai no rock com um riff típico de filmes de ação enquanto o vocalista manda: “Não pergunte quem eu sou”. Desnecessário. Dinho é o dono de uma das vozes mais identificáveis do pop-rock brasileiro, forçando o vibrato a cada refrão.
Sem muitas variações, a fórmula se repete de faixa em faixa. O rock razoavelmente pesado continua em “Apocalipse Agora”, com outra referência tirada das telas, “O Cristo Redentor”, que conta a história de um grande pulha, e ao longo de todo o disco. “O Lado Escuro da Lua”, que traz “copo meio cheio, copo meio vazio” e outros versos de opostos complementares, se aproxima mais da lírica de Humberto Gessinger do que de The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, que a banda diz homenagear. E, também como de costume, Dinho parece engolir um pedal de tremolo para entoar baladas, como a melancólica “Noites em Branco” ou a funesta “A Valsa do Inferno”.
Nada disso faz de Saturno um álbum ruim. A competência dos fundadores da banda – Fê Lemos na bateria e Flávio Lemos no baixo – não está em questão e a guitarra de Yves Passarell é o que vislumbra algo novo, mesmo que calcada no rock clássico. O que pode incomodar é a indisposição para explorar novos terrenos, o medo do risco. Esse fato não deve incomodar a banda. E, com certeza, não incomoda o público, que quer ver o mesmo do mesmo sempre. No encarte do álbum, um aviso: “Nos vemos na estrada, na tour 2013/2014”. Saturno completa sua órbita e, para espanto dos astrólogos de plantão, nada muda para o Capital Inicial.
Fonte: Sony Music