Sei

JOSÉ JULIO DO ESPÍRITO SANTO

Publicado em 22/10/2012, às 16h36 - Atualizado às 16h41
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Nando Reis e os Infernais - Divulgação

Assim como o Titãs, Nando Reis completa 30 anos de carreira neste ano e comemora a data com seu décimo álbum (sexto como Nando Reis e os Infernais). Em Sei, o norte-americano Jack Endino, “padrinho do grunge”, novamente entra em cena. Sua fama fez o Titãs se unir a ele em Titanomaquia (1993) e em mais uma série de trabalhos. O próprio Nando já havia requisitado seus préstimos em seu segundo álbum, Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro (2000). Nando Reis e seus músicos ficaram seis semanas em Seattle para gravar e mixar o novo trabalho no Soundhouse Recording Studios, dirigido por Endino. O resultado, principalmente ouvido nos timbres dos teclados e do violão, é de um mestre que prima pela economia de efeitos.

Sei sai independente: Nando Reis optou por uma venda exclusiva pelo seu site e com um sistema inédito para avaliar o disco. As faixas ficam disponíveis em streaming. Semanalmente, há o resultado de uma votação sobre quanto o CD deve custar, feita por quem ouve e se interessa em recebê-lo em casa – uma iniciativa bem simpática, mas de logística infernal, principalmente no caso de um estouro de vendas.

O trabalho anterior de Nando Reis foi MTV ao Vivo – Bailão do Ruivão, apenas com covers, que saiu em CD e DVD em 2010. Desde Drês (2009), não havia o lançamento de material inédito. Assim, Sei é redentor. Já na faixa de abertura, “Pré-Sal”, uma bateria simples marca uma crônica quilométrica, quase exasperada, em que Nando cita desde periquitos comendo sementes de cânhamo até Mamonas Assassinas e mamilos polêmicos. Mais para a frente, em “Back in Vania”, com uma verborragia igualmente divertida, ele localiza os topônimos de sua vida, discorrendo sobre a juventude e a família. A ótima “Eu e a Bispa” segue veloz na mesma direção com um rock que joga os anos 70 para a frente. Entre elas, faixas mais calmas, mas não menos fortes, alternam a dinâmica do álbum. “Pra Quem Não Vem”, em dueto com Marisa Monte, se arrasta triste e impassível. “Sei”, que dá nome ao álbum, é um folk que idealiza uma paixão, e “Persxpectativa” serve de resposta, reclamando a falta dela. “Luz Antiga” vai além, e já chega pedindo carinho e cuidados com metais se unindo ao violão e aos teclados para musicar uma agonia agridoce. Ainda com fortes ecos radiofônicos da AM da década de 70, vem “Declaração de Amor”, já apresentada em shows de Nando, e a sentimental “Coração Vago”, com um clima de bailinho caseiro. Um coro que remete aos backing vocals da coda de “Suite: Judy Blue Eyes”, de Crosby, Stills & Nash, entra alegre em “Praça da Árvore”. O novo álbum é longo e dá espaço até ao reggae com pegada roqueira de “Zero Muito” e ao groove de “Ternura e Afeto”, em que paira uma levada grunge. Ou ainda à curta “Sem Arrefecer”, com efeitos na voz, e ao sambinha torto de “Lamento Realengo”, que fecha o disco, com o artista deixando de lado o ateísmo convicto para interpretar um indivíduo cheio de fé. Sei traz a poesia de Nando Reis presa e acumulada há três anos, e que agora sai, quase convulsiva, explodindo. Não muda a persona romântica do ruivo. Apenas a amadurece e a revigora em um belo álbum.

Fonte: Infernal

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