Tu - Reprodução

TU

Tulipa Ruiz

José Flávio Júnior Publicado em 21/12/2017, às 11h03 - Atualizado às 11h04

É justo que todo artista queira fazer algum tipo de revisão de sua obra em dado momento da trajetória – seja pelos anos de estrada, para fechar um ciclo, seja para lamber a produção. Tulipa Ruiz pode habitar uma esfera mais alternativa da música brasileira, mas tem os anseios de qualquer artista. Em TU, ela apresenta um trabalho intimista, baseado em violão e percussão, em uma linguagem oposta àquela sem restrições de seus três álbuns anteriores. É uma “olhada no retrovisor” porque quatro das nove faixas são canções antigas nessa roupagem acústica que ela chama de “nude”.

O conjunto do disco acaba exibindo uma Tulipa mais comportada, boa para as rádios de MPB que restam – ainda que o texto de apresentação pregue que o intuito é ampliar a conexão da cantora com o mercado hispano hablante (ela fez shows no México, regravou “Efêmera” em espanhol). A ponte latina é reforçada pela presença de Adan Jodorowsky em “Terrorista del Amor”, uma das inéditas do repertório. Ele é filho do controverso guru e cineasta chileno Alejandro Jodorowsky e sua voz cai bem no espírito meio revolucionário, meio charlatão dos versos. Gustavo Ruiz, irmão, produtor e escudeiro das seis cordas que pavimentou as melhores escolhas que Tulipa fez até aqui, encontrou nos batuques do francês radicado no Rio de Janeiro Stéphane San Juan o complemento ideal para equacionar o conceito de TU. Eles seguem juntos da novíssima “Game”, que abre o álbum, até “Pedra”, tema recuperado de Luiz Chagas, papai de Tulipa e Gustavo, que encerra a jornada.

Aqueles que são viciados na excentricidade estilística da intérprete serão fisgados de imediato pelas releituras. “Algo Maior”, que em Dancê (2015) era tocada pelo Metá Metá, agora ganhou um duelo percussivo entre San Juan e Mauro Refosco, o brasileiro que toca com o Red Hot Chili Peppers e em projetos de Thom Yorke. “Dois Cafés”, o dueto de Tulipa com Lulu Santos, perdeu a voz do veterano, mas conservou sua importante crítica à correria cotidiana. Sem o arranjo de cordas, “Desinibida” não lembra mais o passado da banda sueca The Cardigans, apesar de ter mantido a beleza da bossa nova. E “Pedrinho”, personagem bem resolvido com sua nudez, tinha tudo a ver com a empreitada. Ele veio do primeiro disco da cantora para falar umas coisas que a gente nem pensou e revelar essa outra faceta de Tulipa Ruiz.

Fonte: ONErpm

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