Redação Publicado em 06/08/2009, às 14h08 - Atualizado às 14h08
Ana Paula Maia
Record
Terceiro livro da escritora fluminense investe no clima maldito
A literatura de Ana Paula fede. Sim, isso é um elogio. Há uma cena clássica em A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, em que o fidalgo Jacinto impressiona o amigo José Fernandes com as elaboradas instalações de seu apartamento em Paris – até que o peixe assado da ceia fica preso em um elevador que liga a cozinha à sala de jantar, e os convidados tentam pescá-lo no tubo... Essa chacota com a civilização que, ao mesmo tempo que se afasta da natureza, é assombrada por ela, é levada às últimas consequências por Ana Paula. Aqui não há fidalgos, mas o lumpesinato suburbano mais atroz, a chama do espírito se apagando em seres brutais, que já não conseguem se mover sem destruir algo à sua volta. A cidade que sufoca durante a greve de lixeiros, as fossas entupidas por restos humanos, os abatedores de porcos e as rinhas de cachorros que aparecem nas duas histórias do livro (originalmente publicadas como folhetins eletrônicos em 2006 e 2007) são uma descrição necessária do estado psíquico do Brasil e da humanidade. Ana Paula encontra, em meio às manobras mais repulsivas, o tom mítico de uma maldição bíblica, disfarçada nos popismos de superfície.
POR ALEX ANTUNES
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