Redação
Publicado em 06/08/2010, às 07h09 - Atualizado às 07h10Ozzy Osbourne com Chris Ayres
Benvirá
LENDA VIVA
Autobiografias quase sempre omitem a verdadeira profundidade dos podres dos biografados. No caso da lenda viva do heavy metal, que, aliás, detesta esse rótulo como definição do tipo de música que o estampou para sempre na história da humanidade, os podres são justamente o prato principal. A razão é óbvia: fazem parte integrante da mitologia do artista, que inclui pombas – “...é, eu arranquei a cabeça do bicho...” –, morcegos – “...não sabia que era de verdade e mordi...” – e galinhas – “...’Ozzy limpe o galinheiro!’, ela dizia todo dia. Eu tinha de matar aquelas malditas aves...” Com doses cavalares de, nas palavras do próprio, “álcool, cocaína, ácido, sedativos, cola, xaropes, heroína, Rohypnol, Klonopin, Vicodin e muitas outras substâncias pesadas...”, Ozzy Osbourne conta, com a ajuda de um escritor, as passagens mais importantes de sua vida. Da infância perturbada à velhice lesada, há momentos de impagável humor – quando fica tenso porque descobre que no início o som do Black Sabbath afastava as mulheres –, de tristeza – a morte dos pais e do guitarrista Randy Rhoads, descrita em detalhes pela primeira vez –, e tensão – quando foi acusado de ser o culpado pelo suicídio de garotos headbangers ou quando fez um teste de HIV que deu “quase positivo” (“Basicamente, Sr. Osbourne”, disse o médico, “seu sistema imunológico não está funcionando... seu sangue tem quantidades quase fatais de álcool e cocaína... e outras substâncias... o laboratório nunca viu nada assim”).Sobre a relação com a Rolling Stone norte-americana, único veículo que o @OfficialOzzy segue no Twitter, fica o bode do escriba Lester Bangs, autor de uma crítica negativa sobre o primeiro disco do Sabbath: “Cara, que idiota!” De matador de porcos a cantor em um dueto com Miss Piggy, estrela do inesquecível Muppet Show, de príncipe das trevas a pai de família pouco tradicional, o maior artista solo do metal, afirma: “Olhando para trás, agora tudo o que penso é: por que eu era assim? Por que precisava ser tão estúpido?” Fica aí o sincero exemplo para o meio artístico brasileiro, em que todo mundo é santo e, no dia seguinte, de ressaca de suco de manga com leite, não aguenta perguntas pessoais desafiadoras: a redenção vem da verdade.
Ricardo Franca Cruz