Marc Fischer
ANDRÉ RODRIGUES
Publicado em 09/02/2012, às 11h03 - Atualizado às 11h05O jornalista e escritor alemão Marc Fischer teve uma ideia: pedir para o músico João Gilberto tocar “Ho-ba-la-lá” para ele. Ao ouvir o pai da bossa nova sussurrar “quem ouvir o ho-ba-la-lá/ terá feliz o coração”, Fischer achava que descobriria de onde vem a beleza. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, porém, o autor se envolve numa trama de mistério e enigmas. Encontrar João Gilberto se mostra uma missão tão impossível quanto entender o que é a tal felicidade. Ho-ba-la-lá, o livro, é uma grande reportagem – e também um improvável romance noir. No Brasil, Fischer encontra uma tradutora e amiga, a Watson. Já sendo chamado de Sherlock, ele entrevista compositores (Roberto Menescal, Marcos Valle) e ex-mulheres de João (Miúcha, Claudia Faissol). Também ganha um baseado de João Donato, toca em um místico banheiro em Diamantina e chafurda em todas as pistas que possam levá-lo até o antro do vampiro. Depois de algum tempo e muitas teses, Fischer acredita que João só pode ser uma imortal criatura da noite – até os atores da saga Crepúsculo entram na história. Informativo, engraçadíssimo e poético, esse olhar sobre um dos maiores artistas brasileiros se parece mesmo com uma canção da bossa nova – cheio de amor, dor e cenas absurdas. Ironia: Fischer se matou em abril do ano passado – há um capítulo do livro que relata um suicídio, deixando este belíssimo e melancólico legado.