Redação
Publicado em 10/06/2010, às 10h05 - Atualizado às 10h05Nick Hornby
Rocco
Escritor se mantém fi el às raizes, mas ridiculariza o fanatismo que fomentou
O fato é que nick hornby não faz mais questão de afagar os fãs que acumulou ao longo da carreira. Em Juliet, Nua e Crua, seu sexto romance, fica evidente que ele não poderia sentir mais desprezo pelo tipo de sujeito que já foi um dia (ou será que ainda é?): em Febre da Bola, Hornby nos relatou sua obsessão doentia por futebol; em Alta Fidelidade, seu alter ego nos prova que o fanatismo por música em nada ajuda a colocar nos eixos uma vida amorosa desgovernada. Foi sempre com simpatia que o escritor lidou com seus anti-heróis fracos de espírito, aqueles pobres coitados que se valem de vícios mundanos para manter a sanidade. Em Juliet, porém, Hornby vira o jogo e ridiculariza toda uma geração de malucos que ele próprio ajudou a tirar da escuridão. Observamos de camarote a saga de Annie e Duncan, um casal de quarentões que dedica a existência a Tucker Crowe, um compositor que desapareceu sem deixar vestígios nos anos 80. É possível sentir o prazer com que Hornby elabora toda uma mitologia em torno de seu artista fictício – criando páginas falsas de Wikipédia, elaborando uma discografia e inventando histórias de bastidores –, e ele o faz com tal esmero que temos a sensação de que nós mesmos já fomos obcecados por um Crowe em algum momento de nossa vida. Hornby continua em forma, mas, entorpecido pela crise de meia-idade, nos expõe toda sua amargura e antipatia pelas relações febris que embalam a juventude. Ele certamente envelheceu; seus leitores de sempre também seguem firmes pelo mesmo caminho.
Pablo Miyazawa